1 de novembro de 2012
21 de outubro de 2012
17 de outubro de 2012
27 de agosto de 2012
A praga do “pensamento único”
Por Claudio Bernabucci
Da Carta Capital
http://www.cartacapital.com.br/politica/a-praga-do-pensamento-unico/
"
Da Carta Capital
http://www.cartacapital.com.br/politica/a-praga-do-pensamento-unico/
"
John K. Galbraith, um dos mais importantes economistas do século XX,
pronunciou-se algumas vezes sobre a “imbecilidade dos capitalistas”. A
observação factual da crise sistêmica que o mundo está vivendo, sem
perspectiva de solução equilibrada dentro das regras existentes, levaria
a pensar que a afirmação do economista canadense tivesse fundamento.
No entanto, do ponto de vista das ideias, devemos reconhecer que, nas
últimas décadas, o capitalismo neoliberal teve a capacidade de exercer
uma hegemonia ímpar sobre todas as atividades humanas. Sofisticados
instrumentos teóricos e culturais permitiram a esta nova ideologia
eliminar qualquer resistência e crítica significativas, a ponto de se
configurar como um “pensamento único”. Só recentemente, diante dos
graves escândalos no coração do sistema, este primado começou a ser
posto em discussão de forma incisiva.
Já mencionamos a batalha de ideias em curso e a relação de
forças existentes. Vale a pena reiterar que estamos assistindo a uma
autêntica guerra global dentro do sistema capitalista, da qual o
neoliberalismo sairá derrotado ou vencedor. No último caso, podemos
estar certos: o que resta da democracia no planeta estaria seriamente
comprometido. Neste quadro, a circulação das ideias em escala planetária
é fundamental para a definição do resultado. Somente por meio da
difusão de pensamentos plurais e antitéticos ao dominante, poderão ser
conquistadas as mentes e os corações habilitados a criar uma nova
civilização para superar as injustiças de um mundo onde minorias não
eleitas decidem o destino de bilhões de seres humanos.
A ferramenta principal é a mídia. A livre difusão da
internet – com a grave exceção da China –, apesar de limitada, permite
uma informação de baixo para cima que tem aberto brechas importantes no
monólito do pensamento único. Os jornais independentes sempre foram
minoria e, na chamada grande imprensa, as vozes autônomas são escassas,
relegadas aos espaços de debates: espécie de reserva
indígena-intelectual, que visa demonstrar o pluralismo de um jornal,
enquanto a informação transmitida em todas as outras páginas defende
pura e simplesmente a ordem existente. Mundo afora, o cidadão é
informado sobre a crise econômico-financeira de forma
predominantemente mecanicista, tecnicista e distorcida. As causas
principais das convulsões em curso são eludidas: in primis a desregulamentação insensata do sistema financeiro, origem de fraudes e falências.
As análises de economistas e jornalistas alinhados ao neoliberalismo,
e que ainda são maioria, chegam de hábito a um beco sem saída, a um
porto das névoas, quando tocam o tema “mercados”. Neste ponto, as
dúvidas desaparecem, as perguntas se extinguem – Ipse dixit! – em obséquio aos inomináveis e onipotentes titereiros donos dos “mercados”.
Sendo assim, os cortes sociais realizados pelos governos europeus,
alvos de ataques especulativos, são descritos mecanicamente como
respostas obrigatórias, para satisfazer às exigências ou aos humores dos
“mercados”. Obviamente, isso é feito sem informar quais grupos de
interesses e forças concretas estão por trás dos tais “mercados”. As
imponentes transferências de riquezas provocadas pela gangorra dos spreads
ou negociatas das bolsas de valores, a existência de imensas fortunas
escondidas nos “paraísos fiscais”, são fatos descritos de forma fria e
tecnicista, incompreensível para o cidadão comum, oferecendo uma
representação da realidade absolutamente surrealista, sem análise alguma
sobre as causas e consequências.
A situação da mídia brasileira cabe perfeitamente neste quadro,
com algum agravante. O “pensamento único” da chamada grande imprensa é
bem mais extenso aqui do que em outros países de democracia madura. A
esse aspecto acrescenta-se um partidarismo acentuado, unilateralmente
antigovernamental, que contrasta com uma concepção da informação como
serviço pluralista à cidadania. O governo brasileiro não pode ser isento
de críticas, mas o mérito de ser um dos poucos no mundo que na última
década conseguiram crescimento econômico e diminuição das desigualdades,
deveria ser reconhecido em homenagem aos fatos.
Em suma, a opinião pública mundial padece de uma informação parcial ou distorcida,
que esconde a realidade de um planeta onde a desigualdade sem freios e a
avidez do lucro estão comprometendo as possibilidades de construir um
futuro comum. Esta “cegueira” é na maioria das vezes fruto de
partidarismo ideológico, que esconde interesses oligárquicos
supranacionais; outras vezes é consequência da incapacidade de sair do
esquema prefixado de pensar e agir. Para reverter esse quadro perigoso, é
preciso que se difunda o pensamento crítico, hoje minoritário. O papel
da mídia independente é de informar sobre os fatos e ideias que os
outros não querem ou não podem contar."
22 de agosto de 2012
21 de agosto de 2012
9 de julho de 2012
A revolução de 1924
Da Carta Maior
Gilberto Maringoni
Os dias 5 e 9 de julho condensam caminhos pelos quais a
história paulista poderia seguir. São dois tabus no estado. Um é
esquecido, o outro é exaltado.
A primeira data marca uma violenta reação ao poder do atraso, tendo por base setores médios e populares. E a segunda representa a exaltação do atraso, capitaneada pela elite regional.
Dia 5 de julho, há 88 anos, uma intrincada teia de tensões históricas desaguou no episódio que ficaria conhecido como Revolução de 1924. Suas raízes estão no agravamento de problemas sociais, no autoritarismo dos governos da República Velha e em descontentamentos nos meios militares, que já haviam gerado o movimento tenentista, dois anos antes.
Naquele duro inverno, em meio a uma crise econômica, eclodiu uma nova sublevação. Tropas do Exército e da Força Pública tomaram quartéis, estações de trem e edifícios públicos e expulsaram da cidade o governador Carlos de Campos. No comando, em sua maioria, camadas da média oficialidade. Quatro dias depois, era instalado um governo provisório, que se manteria até 27 de julho. O país vivia sob o estado de sítio do governo Arthur Bernardes (1922-1926).
Entre as reivindicações dos revoltosos estavam: “1º Voto secreto; 2º Justiça gratuita e reforma radical no sistema de nomeação e recrutamento dos magistrados (...) e 3º Reforma não nos programas, mas nos métodos de instrução pública”. No plano político, destaca-se ainda “A proibição de reeleição do Presidente da República (...) e dos governadores dos estados”.
Várias guarnições de cidades próximas aderiram ao movimento. Apesar da falta de um programa claro, setores do operariado organizado apoiaram os revolucionários e exortaram a população a auxiliá-los no que fosse possível.
Bombas, tiros e mortes
As ruas da capital foram palco de intensos combates, com direito a fuzilaria, granadas e tiros de morteiros. Cerca de trezentas trincheiras e barricadas foram abertas em diversos bairros.
A partir do dia 11, o governador deposto, instalado nas colinas da Penha, seguindo determinações do presidente da República, decidiu lançar uma carga de canhões em direção ao centro. O objetivo era aterrorizar a população e forçá-la a se insurgir contra os rebelados.
De forma intermitente, os bairros operários da Mooca, Ipiranga, Belenzinho, Brás e Centro sofreram bombardeio por vários dias. Casas modestas e fábricas foram reduzidas a escombros e cadáveres multiplicavam-se pelas ruas.
Sem conseguir dobrar a resistência, o governo federal decidiu bombardear a cidade com aviões de combate.
O fim da rebelião
Três semanas depois de iniciada, a rebelião foi acuada. Dos 700 mil habitantes da cidade, cerca de 200 mil fugiram para o interior, acotovelando-se nos trens que saiam da estação da Luz. O saldo dos 23 dias de revolta foi 503 mortos e 4.846 feridos. O número de desabrigados passou de vinte mil. No final da noite do dia 28, cerca de 3,5 mil insurgentes retiraram-se da cidade com pesado armamento em três composições ferroviárias. O destino imediato era Bauru, no centro do estado.
Deixaram um manifesto, agradecendo o apoio da população: “No desejo de poupar São Paulo de uma destruição desoladora, grosseira e infame, vamos mudar a nossa frente de trabalho e a sede governamental. (...) Deus vos pague o conforto e o ânimo que nos transmitistes”.
As tensões não cessariam. No ano seguinte, parte dos revolucionários engrossaria a Coluna Prestes (1925-1927). Mais tarde, outros tantos protagonizariam – e venceriam - a Revolução de 30.
Promovida pelas camadas médias do meio militar, o levante ganhou apoio de parcelas pobres da população. Talvez por isso seja chamada de “a revolução esquecida”.
A revolução que não foi
A segunda data, 9 de julho, é marcada pelo estopim de uma revolução que não faz jus ao nome. É exaltada e cultuada como uma manifestação de defesa intransigente da democracia, ela faz parte da criação de certa mitologia gloriosa para São Paulo.
O evento, em realidade, representa a sublevação da oligarquia cafeeira contra a Revolução de 30, que a retirou do governo e se constituiu no marco definidor do Brasil moderno.
Aquele processo não pode ser visto apenas como uma tomada de poder por um punhado de descontentes. Suas causas envolvem as contrariedades nos meios militares e tensões do próprio desenvolvimento do país. A crise de 1929 acabara de chegar, colocando em xeque o liberalismo reinante.
A Revolução consolidou a expansão das relações capitalistas, que trouxe em seu bojo a integração ao mercado – via Estado – de largos contingentes da população. O mecanismo utilizado foi a formalização do trabalho.
As novas relações sociais e a intervenção do Estado na economia – decisiva para a superação da crise e para o avanço da industrialização - implicaram uma reconfiguração e uma modernização institucional do país. A conseqüência imediata foi a perda da hegemonia da economia cafeeira, centrada principalmente em São Paulo e parte de Minas Gerais. Percebendo as mudanças no horizonte, as classes dominantes locais foram à luta em 1932.
A locomotiva e os vagões
Explodiu então a rebelião armada das forças insepultas da República Velha e da elite paulista, querendo recuperar seu domínio sobre o país.
Tendo na linha de frente a Associação Comercial e a Federação das Indústrias (FIESP), o levante tinha entre seus líderes sobrenomes importantes do Estado, como Simonsen, Mesquita, Silva Prado, Pacheco e Chaves, Alves de Lima e outros. O movimento contou com expressivo apoio popular, uma vez que os meios de comunicação (rádio, jornais e revistas) reverberaram as demandas das classes altas.
A campanha que precedeu a sublevação exacerbou uma espécie de nacionalismo paulista, incentivado por grupos separatistas. Entre esses, notabilizava-se o escritor Monteiro Lobato. A síntese da aversão local ao restante do país expressava-se na difundida frase, que classificava o estado como “a locomotiva que puxa 21 vagões vazios”, em referência às demais unidades da federação.
Contradição em termos
O objetivo do movimento, derrotado militarmente em 4 de outubro, era derrubar o governo provisório de Getulio Vargas e aprovar uma nova Constituição. Daí a criação do nome “revolução constitucionalista”, uma contradição em termos. Revolução é uma ação decidida a destruir uma ordem estabelecida. A expressão “constitucionalista” expressava uma tentativa recuperação do status quo, regido pela Carta de 1891. Se é “constitucionalista”, não poderia ser “revolução”.
Os sempre proclamados “ideais de 1932” são vagas referências à constitucionalidade e à democracia. Mas não existia, por parte da elite, nenhuma formulação que fosse muito além da recuperação da hegemonia paulista (leia-se, dos cafeicultores).
Exatos oitenta anos depois, o 9 de julho segue comemorado como a data magna do estado, uma espécie de 7 de setembro local. E os acontecimentos de 5 de julho de 1924 continuam como páginas obscuras de um passado distante.
A elite paulista voltaria ao poder em 1994, pelas mãos de Fernando Henrique Cardoso e do PSDB. Seu mote foi dado no discurso de despedida do senado, em 1994: “Um pedaço do nosso passado político ainda atravanca o presente e retarda o avanço da sociedade. Refiro-me ao legado da Era Vargas, ao seu modelo de desenvolvimento autárquico e ao seu Estado intervencionista”.
Os objetivos desse setor continuaram os mesmos, décadas depois: realizar a contra-Revolução de 30.
As tensões entre as datas – 5 e 9 de julho – expressam duas vias colocadas até hoje nos embates políticos paulistas: a saída conservadora e a saída antielitista.
A primeira data marca uma violenta reação ao poder do atraso, tendo por base setores médios e populares. E a segunda representa a exaltação do atraso, capitaneada pela elite regional.
Dia 5 de julho, há 88 anos, uma intrincada teia de tensões históricas desaguou no episódio que ficaria conhecido como Revolução de 1924. Suas raízes estão no agravamento de problemas sociais, no autoritarismo dos governos da República Velha e em descontentamentos nos meios militares, que já haviam gerado o movimento tenentista, dois anos antes.
Naquele duro inverno, em meio a uma crise econômica, eclodiu uma nova sublevação. Tropas do Exército e da Força Pública tomaram quartéis, estações de trem e edifícios públicos e expulsaram da cidade o governador Carlos de Campos. No comando, em sua maioria, camadas da média oficialidade. Quatro dias depois, era instalado um governo provisório, que se manteria até 27 de julho. O país vivia sob o estado de sítio do governo Arthur Bernardes (1922-1926).
Entre as reivindicações dos revoltosos estavam: “1º Voto secreto; 2º Justiça gratuita e reforma radical no sistema de nomeação e recrutamento dos magistrados (...) e 3º Reforma não nos programas, mas nos métodos de instrução pública”. No plano político, destaca-se ainda “A proibição de reeleição do Presidente da República (...) e dos governadores dos estados”.
Várias guarnições de cidades próximas aderiram ao movimento. Apesar da falta de um programa claro, setores do operariado organizado apoiaram os revolucionários e exortaram a população a auxiliá-los no que fosse possível.
Bombas, tiros e mortes
As ruas da capital foram palco de intensos combates, com direito a fuzilaria, granadas e tiros de morteiros. Cerca de trezentas trincheiras e barricadas foram abertas em diversos bairros.
A partir do dia 11, o governador deposto, instalado nas colinas da Penha, seguindo determinações do presidente da República, decidiu lançar uma carga de canhões em direção ao centro. O objetivo era aterrorizar a população e forçá-la a se insurgir contra os rebelados.
De forma intermitente, os bairros operários da Mooca, Ipiranga, Belenzinho, Brás e Centro sofreram bombardeio por vários dias. Casas modestas e fábricas foram reduzidas a escombros e cadáveres multiplicavam-se pelas ruas.
Sem conseguir dobrar a resistência, o governo federal decidiu bombardear a cidade com aviões de combate.
O fim da rebelião
Três semanas depois de iniciada, a rebelião foi acuada. Dos 700 mil habitantes da cidade, cerca de 200 mil fugiram para o interior, acotovelando-se nos trens que saiam da estação da Luz. O saldo dos 23 dias de revolta foi 503 mortos e 4.846 feridos. O número de desabrigados passou de vinte mil. No final da noite do dia 28, cerca de 3,5 mil insurgentes retiraram-se da cidade com pesado armamento em três composições ferroviárias. O destino imediato era Bauru, no centro do estado.
Deixaram um manifesto, agradecendo o apoio da população: “No desejo de poupar São Paulo de uma destruição desoladora, grosseira e infame, vamos mudar a nossa frente de trabalho e a sede governamental. (...) Deus vos pague o conforto e o ânimo que nos transmitistes”.
As tensões não cessariam. No ano seguinte, parte dos revolucionários engrossaria a Coluna Prestes (1925-1927). Mais tarde, outros tantos protagonizariam – e venceriam - a Revolução de 30.
Promovida pelas camadas médias do meio militar, o levante ganhou apoio de parcelas pobres da população. Talvez por isso seja chamada de “a revolução esquecida”.
A revolução que não foi
A segunda data, 9 de julho, é marcada pelo estopim de uma revolução que não faz jus ao nome. É exaltada e cultuada como uma manifestação de defesa intransigente da democracia, ela faz parte da criação de certa mitologia gloriosa para São Paulo.
O evento, em realidade, representa a sublevação da oligarquia cafeeira contra a Revolução de 30, que a retirou do governo e se constituiu no marco definidor do Brasil moderno.
Aquele processo não pode ser visto apenas como uma tomada de poder por um punhado de descontentes. Suas causas envolvem as contrariedades nos meios militares e tensões do próprio desenvolvimento do país. A crise de 1929 acabara de chegar, colocando em xeque o liberalismo reinante.
A Revolução consolidou a expansão das relações capitalistas, que trouxe em seu bojo a integração ao mercado – via Estado – de largos contingentes da população. O mecanismo utilizado foi a formalização do trabalho.
As novas relações sociais e a intervenção do Estado na economia – decisiva para a superação da crise e para o avanço da industrialização - implicaram uma reconfiguração e uma modernização institucional do país. A conseqüência imediata foi a perda da hegemonia da economia cafeeira, centrada principalmente em São Paulo e parte de Minas Gerais. Percebendo as mudanças no horizonte, as classes dominantes locais foram à luta em 1932.
A locomotiva e os vagões
Explodiu então a rebelião armada das forças insepultas da República Velha e da elite paulista, querendo recuperar seu domínio sobre o país.
Tendo na linha de frente a Associação Comercial e a Federação das Indústrias (FIESP), o levante tinha entre seus líderes sobrenomes importantes do Estado, como Simonsen, Mesquita, Silva Prado, Pacheco e Chaves, Alves de Lima e outros. O movimento contou com expressivo apoio popular, uma vez que os meios de comunicação (rádio, jornais e revistas) reverberaram as demandas das classes altas.
A campanha que precedeu a sublevação exacerbou uma espécie de nacionalismo paulista, incentivado por grupos separatistas. Entre esses, notabilizava-se o escritor Monteiro Lobato. A síntese da aversão local ao restante do país expressava-se na difundida frase, que classificava o estado como “a locomotiva que puxa 21 vagões vazios”, em referência às demais unidades da federação.
Contradição em termos
O objetivo do movimento, derrotado militarmente em 4 de outubro, era derrubar o governo provisório de Getulio Vargas e aprovar uma nova Constituição. Daí a criação do nome “revolução constitucionalista”, uma contradição em termos. Revolução é uma ação decidida a destruir uma ordem estabelecida. A expressão “constitucionalista” expressava uma tentativa recuperação do status quo, regido pela Carta de 1891. Se é “constitucionalista”, não poderia ser “revolução”.
Os sempre proclamados “ideais de 1932” são vagas referências à constitucionalidade e à democracia. Mas não existia, por parte da elite, nenhuma formulação que fosse muito além da recuperação da hegemonia paulista (leia-se, dos cafeicultores).
Exatos oitenta anos depois, o 9 de julho segue comemorado como a data magna do estado, uma espécie de 7 de setembro local. E os acontecimentos de 5 de julho de 1924 continuam como páginas obscuras de um passado distante.
A elite paulista voltaria ao poder em 1994, pelas mãos de Fernando Henrique Cardoso e do PSDB. Seu mote foi dado no discurso de despedida do senado, em 1994: “Um pedaço do nosso passado político ainda atravanca o presente e retarda o avanço da sociedade. Refiro-me ao legado da Era Vargas, ao seu modelo de desenvolvimento autárquico e ao seu Estado intervencionista”.
Os objetivos desse setor continuaram os mesmos, décadas depois: realizar a contra-Revolução de 30.
As tensões entre as datas – 5 e 9 de julho – expressam duas vias colocadas até hoje nos embates políticos paulistas: a saída conservadora e a saída antielitista.
29 de junho de 2012
Sem tergiversar
Foi golpe o que ocorreu no Paraguai, diz alto representante do Mercosul
da Folha:
Foi golpe o que ocorreu no Paraguai. As classes tradicionais hegemônicas promovem um neogolpismo na América do Sul e a democracia está em risco na região. Fernando Lugo caiu porque queria fazer uma reforma agrária que contrariava interesses.
A visão é do diplomata Samuel Pinheiro Guimarães Neto,
alto-representante geral do Mercosul e ex-secretário-geral do Itamaraty
(2003-2009).
Para ele, o novo presidente paraguaio, Federico Franco, representa a
oligarquia agrária, interesses ligados ao contrabando e é defensor de
ligações mais estreitas com os EUA.
*
Folha - Como o sr. define o que ocorreu no Paraguai?
Samuel Pinheiro Guimarães Neto - Foi golpe. Há um neogolpismo na
América do Sul, promovido pelas classes tradicionais hegemônicas que
enfrentam governos populares.
Essas classes tradicionais, diante da vitória de candidatos
progressistas, constroem toda uma teoria de que foram eleitos, mas não
governam democraticamente; de que fazem políticas populistas; de que são
contra a liberdade de imprensa (deles) e assim por diante. Constroem e
favorecem na sua mídia uma imagem de que tais governos são na realidade
ditaduras e criam o clima para sua derrubada, com auxílio muitas vezes
externo.
O que está por trás da queda de Lugo? Os apoiadores do ex-presidente
afirmam que ele caiu porque contrariou fortes interesses: os grandes
proprietários de terra, as grandes companhias, os Estados Unidos?
Essa análise faz sentido?
A reforma agrária pretendida pelo governo Lugo seria uma das principais
razões para o golpe assim como o inicio do movimento popular para
reformar o sistema eleitoral de listas fechadas que beneficia
oligarquias agrárias e corruptas ligadas ao "comércio" exterior.
Certamente, a queda de Lugo não contraria a política exterior americana
assim como a erosão do poder e da unidade do Mercosul e o
enfraquecimento dos governos progressistas do Uruguai, do Brasil e da
Argentina. O projeto dos EUA para a América do Sul não é o Mercosul, e
sim as "mini-Alcas" bilaterais, Aliança do Pacifico.
Quais são os interesses representados por Franco?
Franco representa os interesses da oligarquia agrária, representados
pelos partidos tradicionais, Liberal e Conservador, e os interesses
ligados ao comércio exterior informal, ao contrabando, além disto, é
conhecido defensor de relações mais estreitas do Paraguai com os Estados
Unidos e da celebração de um acordo de livre comércio.
A reação dos movimentos populares ficou aquém do esperado? Lugo perdeu apoio interno?
O Paraguai é um dos países, talvez o país, onde há maior concentração de
propriedade nos meios de comunicação. Assim, a reação dos movimentos
populares, tomados de surpresa pelo golpe, não foi divulgada. Todavia, é
certo que o apoio popular ao governo de Fernando Lugo no Paraguai é
amplo e sua nova resistência ao golpe mobilizará esses movimentos.
A democracia está em risco na América Latina?
Sim, permanentemente. A América Latina é o continente de maior
concentração de renda e riqueza do mundo. Em regimes democráticos, os
candidatos progressistas (de fato ou de fachada) são eleitos para os
cargos majoritários (Presidentes) enquanto que os candidatos, que
representam as classes hegemônicas tradicionais, controlam os
legislativos.
A tentativa de realizar programas populares sociais, que implicam a
distribuição de renda (e de riqueza), de controle do sistema financeiro e
de democratização dos meios de comunicação, encontra forte resistência e
aí se iniciam as manobras do neogolpismo, inclusive por vezes com firme
apoio e até financiamento externo.
Fonte:
http://www1.folha.uol.com.br/mundo/1112252-foi-golpe-o-que-ocorreu-no-paraguai-diz-alto-representante-do-mercosul.shtml
25 de junho de 2012
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