20 de junho de 2009

No ócio criativo...

Ultimamente ando intrigado com o chamado “setor imobiliário”. Vocês já perceberam como o valor dos bens imobiliários tem se valorizado absurdamente nos últimos anos?


A maioria daqueles que possuem algum dinheiro sobrando aplicam o mesmo em imóveis (imobilizam o capital), imaginando que ele terá um valor maior daqui alguns anos. Mas por que os imóveis têm se valorizado? E eles vão continuar a se valorizar?


Primeiramente, o investimento em imóveis é considerado como um dos mais seguros para o capitalista. É um bem sólido, ligado a tradição das elites de possuir “propriedades / patrimônio / herança”, não está tão sujeito a variações na política econômica quando outros investimentos e pode ser usufruído (casa de praia, rancho, etc) ou gerar renda (alugueis).


Se um investimento é considerado seguro, a procura por ele tende a aumentar nos momentos de crise, provocando o aumento dos preços. Quando esse processo torna-se constante, o investimento passa a ser visto não apenas como algo seguro, mas lucrativo, e a procura pelo mesmo torna-se ainda maior.


Esse processo de valorização vai continuar?


Nos Estados Unidos temos um bom exemplo de como essa euforia pelo setor imobiliário pode terminar mal. Os americanos compravam casas financiadas a longo prazo, depois de alguns anos a vendiam por um preço que os permitia pagar o financiamento da mesma e ainda obter lucro. Mas quando a crise começou, muitos nem podiam pagar os financiamentos feitos, e a procura por imóveis diminuiu, reduzindo seus valores. O ciclo inverteu-se, a casa que o americano financiou agora valia menos do que ele estava pagando, portanto, mesmo se ele a vendesse ainda continuaria devendo.


Mas eu não disse que em momentos de crise os investimentos considerados seguros eram os mais procurados, portanto, se valorizavam? Pois bem, existem crises e CRISES, o Brasil vive em crise (quase sem crescimento econômico) desde a década de 1980, período que ainda foi marcado por constantes mudanças nas regras econômicas e falta de investimentos produtivos. Durante essas quase três décadas o investimento em imóveis tornou-se um grande negócio, gerando grandes lucros. Mas o capitalismo não é estável, está sempre sujeito a trovoadas, e a bolha dos imóveis estourou por lá, a procura caiu, e o ciclo se inverteu. Imóveis hoje nos EUA “parecem” ser um péssimo negocio.


Arrisco dizer que isso não vai ocorrer tão cedo no mercado de imóveis brasileiro, pois existe um grande potencial de consumidores, pessoas que ainda não possuem a casa própria. Esses consumidores esperam apenas um emprego melhor ou um financiamento mais atraente para investir em imóveis. Entre os mais abastados financeiramente, a crise faz com que suas opções de investimentos produtivos sejam reduzidas, o que os leva cada vez mais a imobilizar capitais em bens imobiliários. Por exemplo: se você tivesse muito dinheiro hoje, construiria uma fábrica? Uma nova empresa? Ou investiria em imóveis? A ultima opção parece ser a escolha da maioria (efeito da falta de crescimento econômico no país).


Prever o futuro, especialmente da economia, não é uma ciência exata.

Mas uma coisa é certa, quando os “leigos” começam a investir pesado em algo que parece a salvação, pode contar que a bolha está para estourar.


“A economia somos nozes”