24 de agosto de 2010

Semelhanças

Lula e Obama parecem possuir muitas semelhanças em suas trajetórias.

Ambos só foram eleitos graças a governos anteriores de baixa aprovação (FHC e BUSH Jr.), fato que deu origem a um grande anseio por mudança, suficiente até para superar o grande preconceito que atingia os dois políticos.

O início do governo Lula foi frustrante para os que acreditavam na mudança. Os primeiros anos, apesar do aumento dos programas sociais, foram marcados pela continuidade na política econômica, inclusive com resultados ruins frente a uma conjuntura de crise nacional.

Apesar das poucas alterações políticas, a elite tradicional brasileira não se conformou com a derrota eleitoral e passou a demonstrar todo seu preconceito contra os setores mais pobres da sociedade, representados no governo pela figura do presidente (analfabeto, burro, anta, molusco, vagabundo etc). Movimentos populares, sindicatos, partidos e qualquer tipo de pessoa ou grupo organizado que possuísse interesses diferentes da tradicional “elite branca” também foram alvos de fortes ataques, apoiados e divulgados pela velha mídia.

A grande tacada das elites para recuperar o poder foi justamente à utilização da mídia para desestabilizar o governo Lula, criando as chamadas “crises” (que crise? qualquer uma, mensalão, caos aéreo, febre amarela, gripe suína, Farc, Enem, qualquer coisa). Enquanto isso, criticavam qualquer tipo de programa ou projeto executado pelo governo, especialmente aqueles que eram direcionados para as camadas mais pobres, como Bolsa Família (esmola), Prouni, cotas raciais etc.

A radicalização da elite/direita brasileira teve um efeito não desejado por ela. O PT, os movimentos sociais, os sindicatos e os eleitores mais progressistas passaram a se sentir extremamente ameaçados por essa nova oposição, o que acabou por reaproximar esses grupos e o governo Lula, que adotou algumas medidas mais progressistas.

Os programas sociais e a melhora na economia garantiram uma constante sensação de progresso entre boa parte da população, além de recordes de aprovação ao governo.

O respaldo popular a Lula reduziu o efeito de qualquer crise criada pela velha mídia, que esta, cada vez mais, pregando apenas em seus poucos e elitizados redutos.

O governo Obama também parece decepcionar muitos que acreditavam em algum progresso na terra do Tio Sam, em parte devido às dificuldades representadas pela crise econômica e a força da oposição.

Mas a direita norte-americana, tal como a brasileira, não se conforma com a derrota para Obama (negro, muçulmano etc) e radicaliza cada vez mais em suas posições políticas.

Juntamente com a radical defesa do livre mercado (saúde e educação públicas, nem pensar), a decadente elite branca americana condena o aborto, as drogas, os pobres e considera os imigrantes os maiores culpados por todos os males.

Talvez a falta de interesse da direita americana em estudar história ou sua incapacidade de entender o mundo explique a repetição dos erros da direita brasileira, que fez de tudo por se afastar de qualquer grupo ou cidadão mais sensato. Mas talvez Obama não seja tão inteligente como Lula, ou talvez (e muito provavelmente) a política americana seja muito diferente da brasileira. O fato é que a direita americana esta perdendo muito mais poder político do que a brasileira, pois não vê sua influencia diminuir apenas em seu pais, mas em um mundo em que acreditava comandar.