25 de novembro de 2009

Lula e o presidente do Irã

Íntegra do discurso do presidente Lula (clique aqui)

Eu pretendia comentar, mas já achei um bom texto:

Da Folha

Marco Aurélio Garcia: A paz desejável – 26/11/2009

Quem governa um Brasil, ou quer governar, sabe que há temas de política externa que não podem ser objeto de oportunismo eleitoral

NO ESPAÇO de duas semanas, o Brasil recebeu as visitas dos presidentes de Israel, da Autoridade Palestina e do Irã. Não é ocasional a presença em nosso país de três atores-chave do conflito que há décadas infelicita o Oriente Médio.

Os três governantes -cada um a sua maneira- viram na diplomacia brasileira, especialmente no presidente Lula, uma possibilidade de, por meio do diálogo, avançar no caminho de uma solução negociada para um conflito que transcende a dimensão puramente regional. Ele ameaça a paz no mundo.

Essa é também a percepção de muitos líderes mundiais. O presidente norte-americano, Barack Obama, nas conversações mantidas com Lula e em recentíssima carta a ele enviada, reitera o papel que o Brasil poderá ter na busca de uma solução de paz para o Oriente Médio -aí incluindo suas conversas com o presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad.

Mas essa não é a percepção de quem defende uma política externa minimalista, para não dizer subserviente. Nela, as grandes potências se ocupariam dos grandes temas enquanto os demais países se ocupariam do resto. Assuntos como esse não poderiam ser tratados pelos “vira-latas” aos quais se referia Nelson Rodrigues ao analisar o comportamento de certos brasileiros, vítimas de complexo de inferioridade.

Quando o governo organizou a cúpula América do Sul-Países Árabes em 2005, essas mesmas vozes se fizeram ouvir. Para que essa reunião? Haviam criticado, em 2003, a viagem de Lula ao Oriente Médio, aí incluindo a Líbia. As críticas sumiram quando Tony Blair [ex-premiê britânico], José María Aznar [ex-premiê espanhol] e Silvio Berlusconi [premiê italiano] também fizeram o caminho de Trípoli semanas após.

Durante a crise de Gaza, no começo deste ano, o presidente Lula determinou que o chanceler Celso Amorim visitasse o Oriente Médio e se entrevistasse com os líderes políticos da região em busca de alternativas. Houve quem buscasse ridicularizar a missão, qualificando-a de megalômana.

A persistência do impasse na região, seu potencial explosivo e a pertinência de nossas propostas mostraram o acerto daquela iniciativa.

A tese defendida pelo presidente Lula era (e é) a de que havia necessidade de “arejar” as negociações no Oriente Médio. A inclusão de novos interlocutores poderia dar aos entendimentos uma credibilidade hoje inexistente.

Outros países, como a África do Sul, a Índia e o próprio Brasil -para só citar três que não ocupam lugares permanentes no Conselho de Segurança- podem contribuir para lograr o que até agora os interlocutores de sempre, sozinhos, não conseguiram.

O Brasil tem posições claras. Defende a existência de dois Estados -o Palestino e Israel- viáveis e seguros, com base nas fronteiras de 1967.

Coincide com Shimon Peres [presidente de Israel] e Mahmoud Abbas [presidente da Autoridade Nacional Palestina] sobre a necessidade de trocar terra por paz.

Nossa diplomacia está segura de que a imensa maioria das populações afetadas pelo conflito -judeus e palestinos- anseiam pela paz.

O Brasil condena todos os que se opõem à existência do Estado de Israel. Repudia todas as formas de terrorismo. Insta Tel Aviv a suspender novos assentamentos e construções nos território ocupados e a acatar as resoluções das Nações Unidas.

Metaforicamente, o presidente Lula tem citado a boa convivência de árabes e judeus em nosso país como um paradigma a ser seguido mundo afora.
Quem governa um país como o Brasil -ou quem quer governar- sabe, ou deveria saber, que os temas de política externa, sobretudo quando envolvem questões maiores, como a paz no mundo, não podem ser objeto de oportunismo eleitoral.

O diálogo que o governo brasileiro tem mantido com as comunidades árabe e israelita em nosso país e na América Latina é transparente e não deixa dúvidas sobre nossas posições, seja sobre temas de natureza histórica -como o Holocausto-, seja sobre questões mais recentes, elas também dolorosas.

Essa cristalina transparência difere das águas turvas dentro das quais pescadores lançam suas iscas. Mais para atrair incautos eleitores do que para oferecer alternativas.

MARCO AURÉLIO GARCIA, 68, é assessor especial de Política Externa do presidente da República e professor licenciado do Departamento de História da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas). Foi secretário de Cultura do município de São Paulo (gestão Marta Suplicy).

23 de novembro de 2009

Adeus, FHC

Do Blog: Brasília, Eu vi
de Leandro Fortes





Adeus também foi feito pra se dizer

Fernando Henrique Cardoso foi um presidente da República limítrofe, transformado, quase sem luta, em uma marionete das elites mais violentas e atrasadas do país. Era uma vistosa autoridade entronizada no Palácio do Planalto, cheia de diplomas e títulos honoris causa, mas condenada a ser puxada nos arreios por Antonio Carlos Magalhães e aquela sua entourage sinistra, cruel e sorridente, colocada, bem colocada, nas engrenagens do Estado. Eleito nas asas do Plano Real – idealizado, elaborado e colocado em prática pelo presidente Itamar Franco –, FHC notabilizou-se, no fim das contas, por ter sido co-partícipe do desmonte aleatório e irrecuperável desse mesmo Estado brasileiro, ao qual tratou com desprezo intelectual, para não dizer vilania, a julgá-lo um empecilho aos planos da Nova Ordem, expedida pelos americanos, os patrões de sempre.

Em nome de uma política nebulosa emanada do chamado Consenso de Washington, mas genericamente classificada, simplesmente, de “privatização”, Fernando Henrique promoveu uma ocupação privada no Estado, a tirar do estômago do doente o alimento que ainda lhe restava, em nome de uma eficiência a ser distribuída em enormes lucros, aos quais, por motivos óbvios, o eleitor nunca tem acesso.

Das eleições de 1994 surgiu esse esboço de FHC que ainda vemos no noticiário, um antípoda do mítico “príncipe dos sociólogos” brotado de um ninho de oposição que prometia, para o futuro do Brasil, a voz de um homem formado na adversidade do AI-5 e de outras coturnadas de então. Sobrou-nos, porém, o homem que escolheu o PFL na hora de governar, sigla a quem recorreu, no velho estilo de república de bananas, para controlar a agenda do Congresso Nacional, ora com ACM, no Senado, ora com Luís Eduardo Magalhães, o filho do coronel, na Câmara dos Deputados. Dessa tristeza política resultou um processo de reeleição açodado e oportunista, gerido na bacia das almas dos votos comprados e sustentado numa fraude cambial que resultou na falência do País e no retorno humilhante ao patíbulo do FMI.

Isso tudo já seria um legado e tanto, mas FHC ainda nos fez o favor de, antes de ir embora, designar Gilmar Mendes para o Supremo Tribunal Federal, o que, nas atuais circunstâncias, dispensa qualquer comentário.

Em 1994, rodei uns bons rincões do Brasil atrás do candidato Fernando Henrique, como repórter do Jornal do Brasil. Lembro de ver FHC inaugurando uma bica (isso mesmo, uma bica!) de água em Canudos, na Bahia, ao lado de ACM, por quem tinha os braços levantados para o alto, a saudar a miséria, literalmente, pelas mãos daquele que se sagrou como mestre em perpetuá-la. Numa tarde sufocante, durante uma visita ao sertão pernambucano, ouvi FHC contar a uma platéia de camponeses, que, por causa da ditadura militar, havia sido expulso da USP e, assim, perdido a cátedra. Falou isso para um grupo de agricultores pobres, ignorantes e estupefatos, empurrados pelas lideranças pefelistas locais a um galpão a servir de tribuna ao grande sociólogo do Plano Real. Uns riram, outros se entreolharam, eu gargalhei: “perder a cátedra”, naquele momento, diante daquela gente simples, soou como uma espécie de abuso sexual recorrente nas cadeias brasileiras. Mas FHC não falava para aquela gente, mas para quem se supunha dono dela.

Hoje, FHC virou uma espécie de ressentido profissional, a destilar o fel da inveja que tem do presidente Lula, já sem nenhum pudor, em entrevistas e artigos de jornal, justamente onde ainda encontra gente disposta a lhe dar espaço e ouvidos. Como em 1998, às vésperas da reeleição, quando foi flagrado em um grampo ilegal feito nos telefones do BNDES. Empavonado, comentava, em tom de galhofa, com o ex-ministro Luiz Carlos Mendonça de Barros, das Comunicações, da subserviência da mídia que o apoiava acriticamente, em meio a turbilhão de escândalos que se ensaiava durante as privatizações de então:

Mendonça de Barros – A imprensa está muito favorável com editoriais.

FHC – Está demais, né? Estão exagerando, até!

A mesma mídia, capitaneada por um colunismo de viúvas, continua favorável a FHC. Exagerando, até. A diferença é que essa mesma mídia – e, em certos casos, os mesmos colunistas – não tem mais relevância alguma.

Resta-nos este enredo de ópera-bufa no qual, no fim do último ato, o príncipe caído reconhece a existência do filho bastardo, 18 anos depois de tê-lo mandado ao desterro, no bucho da mãe, com a ajuda e a cumplicidade de uma emissora de tevê concessionária do Estado – de quem, portanto, passou dois mandatos presidenciais como refém e serviçal.

Agora, às portas do esquecimento, escondido no quarto dos fundos pelos tucanos, como um parente esclerosado de quem a família passou do orgulho à vergonha, FHC decidiu recorrer à maconha.

A meu ver, um pouco tarde demais.

20 de novembro de 2009

E dormem tranquilos...

Ontem a noite, durante seu especial sobre Cazuza, a Globo simplesmente ignorou o último disco lançado em vida pelo artista.


Não apareceu nem nos créditos finais


Estranho não?


Burguesia

A burguesia fede
A burguesia quer ficar rica
Enquanto houver burguesia
Não vai haver poesia

A burguesia não tem charme nem é discreta
Com suas perucas de cabelos de boneca
A burguesia quer ser sócia do Country
A burguesia quer ir a New York fazer compras

Pobre de mim que vim do seio da burguesia
Sou rico mas não sou mesquinho
Eu também cheiro mal
Eu também cheiro mal

A burguesia tá acabando com a Barra
Afunda barcos cheios de crianças
E dormem tranqüilos
E dormem tranqüilos

Os guardanapos estão sempre limpos
As empregadas, uniformizadas
São caboclos querendo ser ingleses
São caboclos querendo ser ingleses

A burguesia fede
A burguesia quer ficar rica
Enquanto houver burguesia
Não vai haver poesia

A burguesia não repara na dor
Da vendedora de chicletes
A burguesia só olha pra si
A burguesia só olha pra si
A burguesia é a direita, é a guerra

A burguesia fede
A burguesia quer ficar rica
Enquanto houver burguesia
Não vai haver poesia

As pessoas vão ver que estão sendo roubadas
Vai haver uma revolução
Ao contrário da de 64
O Brasil é medroso
Vamos pegar o dinheiro roubado da burguesia
Vamos pra rua
Vamos pra rua
Vamos pra rua
Vamos pra rua
Pra rua, pra rua

Vamos acabar com a burguesia
Vamos dinamitar a burguesia
Vamos pôr a burguesia na cadeia
Numa fazenda de trabalhos forçados
Eu sou burguês, mas eu sou artista
Estou do lado do povo, do povo

A burguesia fede - fede, fede, fede
A burguesia quer ficar rica
Enquanto houver burguesia
Não vai haver poesia

Porcos num chiqueiro
São mais dignos que um burguês
Mas também existe o bom burguês
Que vive do seu trabalho honestamente
Mas este quer construir um país
E não abandoná-lo com uma pasta de dólares
O bom burguês é como o operário
É o médico que cobra menos pra quem não tem
E se interessa por seu povo
Em seres humanos vivendo como bichos
Tentando te enforcar na janela do carro
No sinal, no sinal
No sinal, no sinal

A burguesia fede
A burguesia quer ficar rica
Enquanto houver burguesia
Não vai haver poesia

18 de novembro de 2009

Blecaute

por Luiz Pinguelli Rosa, na Folha de S. Paulo, em 13/11/2009

Ainda pairam algumas dúvidas sobre o blecaute que atingiu vários Estados brasileiros, mais drasticamente São Paulo e Rio de Janeiro.

É preciso esclarecer, porém, que o ocorrido na terça-feira foi totalmente diferente do chamado apagão de 2001, quando o governo decretou um racionamento obrigatório de energia elétrica para toda a população, sob pena de desligamento de residência ou empresa por alguns dias caso não fosse cumprido o corte no consumo.

Naquela ocasião, havia falta de energia para atender a demanda, pois esta vinha crescendo mais rapidamente do que a capacidade instalada no país. Enquanto houve chuvas suficientes para a geração hidrelétrica, o sistema funcionou e o problema foi adiado. Quando as chuvas se reduziram, os reservatórios estavam vazios e faltou energia no sistema.

Alertei o então presidente Fernando Henrique Cardoso por uma carta, como coordenador do Instituto Virtual da Coppe/UFRJ, e cheguei a conversar com José Jorge, à época ministro de Minas e Energia.

Naquele caso, houve falta de investimento. As estatais elétricas, a começar pela Eletrobrás, reduziram seus investimentos, pois aguardavam a privatização. Já as empresas privatizadas, a maioria delas distribuidoras nos Estados, pouco investiram.

O problema da última terça-feira tem mais semelhança com o blecaute de 1999, que também desligou São Paulo e muitas outras cidades, algumas por muito mais horas do que o recente incidente. Aquele problema se originou em uma subestação de transformadores em Bauru (SP), causado por uma sobretensão elétrica supostamente devida a um raio que atingiu a linha de transmissão a muitos quilômetros de distância e se propagou até a subestação -- que deveria estar protegida. Como não estava, o sistema falhou.

O que ocorreu nesta semana foi a interrupção de três linhas que trazem a energia de Itaipu ao Sudeste, acarretando o desligamento de todas as turbinas da usina e causando o desligamento de várias outras linhas em cascata. Daí a propagação do blecaute ter atingido tantas cidades. O efeito é como uma série de pedras de dominó que caem uma por cima da outra.

O desligamento das linhas em sobretensão é correto, pois as protege e evita danos a equipamentos e perdas de transformadores por sobrecarga. Portanto, o desligamento automático das linhas de transmissão é inevitável em certos casos críticos como o de agora. Os efeitos seriam muito piores se o desligamento não ocorresse.

No entanto, algumas questões ainda precisam ser respondias. A primeira delas é o que causou a sobrecarga. Uma hipótese aventada é que raios tenham causado tudo isso. Três linhas sofreram colapso, embora todas sejam protegidas por para-raios, que são fios paralelos ao longo das linhas.

Talvez uma delas tenha sido atingida, a sobretensão tenha se propagado indevidamente para dentro da subestação em que as outras também tenham sido afetadas. É uma hipótese.

Como evitar a repetição de blecautes? Não há sistema tecnológico com 0% de falhas. O que pode ser feito é minimizá-las, tanto na frequência de ocorrências desse tipo como na gravidade delas.

Eliminar o uso da transmissão de longa distância seria uma bobagem, pois o Brasil é uma Arábia Saudita hidrelétrica. Integrando em um longo tempo a energia que se pode obter do potencial hidrelétrico brasileiro, o resultado é maior que a energia do petróleo do pré-sal. O sistema interligado é inteligente, pois otimiza o uso da geração hidrelétrica, complementada por outras fontes.

Uma proposta que tem sido recentemente estudada em todo o mundo é o de redes elétricas inteligentes, ou seja, fazer uma gestão melhor das redes para diminuir incertezas, evitar problemas de pico de tensão e falhas, com um sistema de controle ponto a ponto ao longo das redes.

Nos Estados Unidos, Nova York sofreu um blecaute em 2003 que, sob certos aspectos, foi mais grave.

Há poucos meses, o professor Pravin Varaiya, da Universidade da Califórnia, em Berkeley, esteve no Programa de Planejamento Energético da Coppe para participar de um seminário sobre essas redes inteligentes de energia elétrica. Mas os estudos ainda precisam avançar, inclusive para prevenir vulnerabilidades como o acesso indevido à rede por hackers.

O que se mostrou vulnerável aqui no nosso caso foi a enorme extensão da área atingida e a grande população que sofreu as consequências, pois não se conseguiu ilhar a propagação do efeito para circunscrever suas consequências a uma região menor. É necessário apurar os fatos para corrigir as falhas e aperfeiçoar o sistema.

* Luiz Pinguelli Rosa , 67, físico, é diretor da Coppe-UFRJ (Coordenação dos Programas de Pós-Graduação em Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro) e secretário do Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas. Foi presidente da Eletrobrás (2003-04).

4 de novembro de 2009

Sobre morar em apartamento

" Morar em apartamento por The Classe Média Way of Life:

O modus vivendi de nossos herois médio-classistas, cuja característica mestra consiste no "morar em apartamento", contribuiu para a instituição de uma nova realidade urbana não apenas pela geração dos "filhos de apartamento". Uma outra esquisitice daí proveninente também mudaria de figura as nossas cidades: os empreendimentos imobiliários.

A evolução do "morar em apartamento" causou profundas mudanças na maneira como se constroi uma cidade. Se antigamente um edifício era projetado e implantado por um arquiteto, sobre uma malha urbana determinada por um urbanista, e colocado de pé por um engenheiro, atualmente a Classe Média só compra imóveis projetados por publicitários. O publicitário é uma figura de extrema relevância para a Classe. É algo como um guru. Sua função extrapola a mera tradução dos valores do médio-classista e sua consequente materialização em forma de produto, para na verdade formatar a preferência deste cidadão e impor-lhe tudo aquilo que ele deve gostar. Se você quer ser um médio-classista normal, terá que gostar dessa situação. Do contrário será convencido por um publicitário.

Com a cidade sendo construída pelos empreendimentos do Depto. de Marketing, o desenho urbano e as relações sociais vão tomando a cara da Classe Média. Todo prédio tem um nome, que quando não é o nome de um médio-classista falecido (com sobrenome italiano), é um estrangeirismo. Os idiomas preferenciais são o inglês, o francês e o próprio italiano. As exceções ocorrem quando o marqueteiro resolve batizar o prédio com o nome de um lugar que ele visitou. Publicitários só visitam o estrangeiro.

Tendo este meio de vida se instaurado e solidificado no seio da Classe Média o "filho de apartamento" passou a ser considerado uma espécie de instituição, de forma que os empreendimentos agora tentam redefinir as condições. Médio-classistas , hoje em dia, podem escolher morar em um empreendimento chamado Château De Douceur, onde estão disponíveis nas áreas comuns o "Espaço Kids", para os pequenos brincarem o dia inteiro, o "Espaço Teen", para os adolescentes, o "Garage Band", para os filhos terem o direito de serem rebeldes enquanto a empregada leva suco e biscoitos. Também há o "Woman's Space", para ficar vazio enquanto você frequenta o salão do momento. O "Espaço Gourmet" para dizer aos outros que você é refinado e cozinha por prazer, enquanto a empregada deixa tudo pré-pronto em segredo, e ainda lava as panelas. O "Fitness Center" para ficar vazio enquanto você paga uma academia perto do trabalho, e muitos outras salas com nomes estrangeiros. O objetivo disto, além de encarecer absurdamente o condomínio, é fornecer argumentos ao publicitário para que o tamanho dos apartamentos seja cada vez mais diminuto, no pressuposto de que ninguém ficará lá dentro com tantas atividades dando sopa no pilotis.

Por fim, neste novo jeito de morar, uma coisa é imprescindível: grades. O mundo lá fora é mau. A gente de bem está do lado de dentro. Por isso, no espaço urbano todas as características da Classe Média convergem para um único organismo, que é o "lado de dentro". Médio-classista evita sair na rua. Rua é pra pobre, é onde passa ônibus e onde estão os assaltantes. O médio-classista anda de garagem em garagem, da garagem de casa para a garagem do shopping, do trabalho, da academia. Sem contato nem com o ar do lado de fora. Filho de apartamento tem alergia a fumaça, poeira, plantas de verdade e pobre. Assim, a cidade da Classe Média é hoje um núcleo fortificado, à espera de um ataque bárbaro a qualquer momento. Para isso, métodos de segurança dos mais modernos foram desenvolvidos, como lanças e homens armados. Dizem que em São Paulo uma Construtora aguarda autorização do Ibama para construir um sistema de fosso com jacarés. Será o primeiro Eco-Security-Residence do Brasil. "

Me lembrou uma das minhas músicas favoritas


3 de novembro de 2009

Wii !



Por que os japoneses da Nintendo são mais espertos que os outros?