28 de dezembro de 2010

Abrir caminho, sempre

por Luiz Carlos Azenha

no Viomundo

Nas últimas semanas uma fatia significativa da direitona brasileira admitiu o óbvio: o presidente Lula foi melhor que o presidente FHC e não apenas uma continuação dele.

A Folha de S. Paulo, doente de pesquisismo, escondeu seu diagnóstico atrás da “descoberta” de que 83% dos brasileiros consideraram o governo Lula ótimo ou bom.

A gente, da blogosfera progressista, já sabia disso.

“No pós-ditadura, nenhum presidente eleito diretamente deixou o cargo tão bem avaliado, o que se explica sobretudo pela melhora do emprego, da renda e de sua distribuição”, escreveu a Folha em um caderno especial, publicado no mesmo dia em que o jornal, em editorial de primeira página, admitiu: o governo Lula, cheio de defeitos, foi bom.

E, no entanto, por dizer exatamente isso na campanha eleitoral nós, blogueiros progressistas e leitores progressistas, fomos tachados de sujos, de chapa-branca, de vendidos e de outros adjetivos. O resumo dos xingamentos está no inesquecível discurso do deputado derrotado Marcelo Itagiba, no Congresso. Os impropérios continuam, como notou o Miguel do Rosário a propósito do texto de um colunista do Estadão. São tão poucos os leitores deles que já não vale a pena promovê-los.

O que isso nos diz sobre a blogosfera progressista? Diz que em 2010 fizemos, sim, a diferença. Enquanto alguns se entregavam ao onanismo intelectual, perguntando se “progressista” não era algo datado, do século 19, se não seria melhor usar “independente”, “de esquerda” ou “do diabo”, nós fizemos a diferença ao desmoralizar a bolinha de papel, ao desencavar o que foi dito sobre a privatização da Petrobras, ao demonstrar que o candidato da direita não era apenas o do atraso, mas também da hipocrisia e da mentira. O que quero dizer é que fomos suficientemente ágeis, pragmáticos e leais uns aos outros e às nossas ideias e que isso deu mais resultado que qualquer debate estéril sobre o sexo dos anjos.

Fiquei igualmente satisfeito pelo fato de que um grupo de blogueiros sujos conseguiu, no Palácio do Planalto, algo que o PIG não conseguiu ao longo dos dois mandatos de Lula: definir claramente os limites do governo que finda.

Hoje, na Folha, em “Ecos da Ditadura”, o articulista Fernando de Barros e Silva lamenta o papel de Nelson Jobim no debate sobre a Comissão de Verdade. Barros atribui a Jobim “pressão obscurantista”. Isso também a gente já sabia. Está na pergunta que Leandro Fortes fez ao presidente no Palácio do Planalto. Assim como estiveram nas perguntas de Rodrigo Vianna, Eduardo Guimarães, Conceição Oliveira e Altamiro Borges os limites de Lula nas questões da comunicação, educação e direitos trabalhistas.

Nós, da dita blogosfera progressista, fomos os primeiros a reconhecer a ousadia do Itamaraty na política externa, quando os chanceleres de pijama que frequentam as colunas de opinião dos grandes jornais pregavam a invasão da Bolívia e a derrubada de Hugo Chávez. Só depois de descobrir que o Departamento de Estado de Hillary Clinton estuda o Itamaraty para descobrir como o Brasil ganhou peso internacional sem uma única ogiva nuclear é que a grande mídia brasileira vai dizer, sobre a política externa de Lula, o que nós já sabíamos.

Afinal, foi só depois do vazamento dos telegramas diplomáticos do WikiLeaks que nossa mídia “descobriu” o que denunciamos na campanha eleitoral: na questão do pré-sal, José Serra era owned pelas petroleiras.

Ser blogueiro “progressista”, “de esquerda”, “independente”, “sujo” ou o que quer que seja é isso: abrir caminho, ousar, desafiar o lugar comum, peitar o discurso único e, acima de tudo, se divertir com a incompetência, o horizonte limitado e a submissão intelectual de nossas grandes redações. Feliz 2011 a todos!

10 de dezembro de 2010

Clássicos da Disney







8 de dezembro de 2010

Thank you Brazil & Argentina!












As part of the Up And Coming Tour, Paul played 5 sell out shows in Brazil and Argentina this November and to an amazing 300,000 fans!

The shows were truly special, and we have put together some video highlights to thank all the fans who supported Paul and the team.

7th November - Beira Rio Stadium Porto, Alegre, Brazil
10th & 11th November - River Plate Stadium, Argentina
21st & 22nd November - Morumbi Stadium Sao Paulo, Brazil

http://www.paulmccartney.com/news.php#/2085/2010-12

7 de dezembro de 2010

Aula de imperialismo contemporâneo

Da Carta Maior

Postado por Emir Sader


"Os EUA se tornaram uma potência imperial na disputa pela sucessão da Inglaterra como potência hegemônica, com a Alemanha. As duas guerras mundiais – tipicamente guerras interimperialistas, pela repartição do mundo colonial entre as grandes potências, conforme a certeira previsão de Lenin – definiram a hegemonia norteamericana à cabeça do bloco de forças imperialistas.

No final da Segunda Guerra, os EUA tiveram que compartilhar o mundo com a URSS – a outra superpotência, não por seu poderio econômico, mas militar, que lhe dava uma paridade política. Foi o período denominado de “guerra fria”, que condicionava todos os conflitos em qualquer zona do mundo, que terminavam redefinidos no seu sentido no marco do enfrentamento entre os dois grandes blocos que dominavam a cena mundial.
Nesse período os EUA consolidaram seu poderio como gendarme mundial, poder imperial que tinha se iniciado na América Latina e o Caribe e que se estendeu pela Europa, Asia e Africa. Invasões, ocupações, golpes militares, ditaduras – marcaram a trajetória imperial norteamericana. Montaram o mais gigantesco aparelho de contra inteligência, acoplado a um monstruoso aparato militar.

Terminada a guerra fria, com a desaparição de um dos campos e a vitória do outro, esses mecanismos não foram desmontados. A OTAN, nascida supostamente para deter o “expansionismo soviético”, não foi desmontada, mas reciclada para combater os novos inimigos: o “terrorismo”, o “islamismo”, o “narcotráfico”, etc.

Os documentos publicados confirmam tudo o que os aparentemente paranoicos difundiam sobre os planos e as ações dos EUA no mundo. Eles são a única potência global, aquela que tem interesses em qualquer parte do mundo e, se não os tem, os cria. Que pretende zelar pela ordem norteamericana no mundo, a todo preço – com ameaças, ataques, difusão de noticias falsas, ocupações, etc., etc.

Qualquer compreensão do mundo contemporâneo que não leve em contra, como fator central a hegemonia imperial norteamericana, não capta o essencial das relações de poder que regem o mundo. A leitura dos documentos é uma aula sobre o imperialismo contemporâneo."

Padaria do Ronaldo

29 de novembro de 2010

Rio

NA FOLHA DE S.PAULO DESTE DOMINGO

TENDÊNCIAS/DEBATES

Não haverá vencedores

MARCELO FREIXO


Pode parecer repetitivo, mas é isso: uma solução para a segurança pública do Rio terá de passar pela garantia dos direitos dos cidadãos da favela

Dezenas de jovens pobres, negros, armados de fuzis, marcham em fuga, pelo meio do mato. Não se trata de uma marcha revolucionária, como a cena poderia sugerir em outro tempo e lugar.
Eles estão com armas nas mãos e as cabeças vazias. Não defendem ideologia. Não disputam o Estado. Não há sequer expectativa de vida.
Só conhecem a barbárie. A maioria não concluiu o ensino fundamental e sabe que vai morrer ou ser presa.
As imagens aéreas na TV, em tempo real, são terríveis: exibem pessoas que tanto podem matar como se tornar cadáveres a qualquer hora. A cena ocorre após a chegada das forças policiais do Estado à Vila Cruzeiro e ao Complexo do Alemão, zona norte do Rio de Janeiro.
O ideal seria uma rendição, mas isso é difícil de acontecer. O risco de um banho de sangue, sim, é real, porque prevalece na segurança pública a lógica da guerra. O Estado cumpre, assim, o seu papel tradicional. Mas, ao final, não costuma haver vencedores.
Esse modelo de enfrentamento não parece eficaz. Prova disso é que, não faz tanto tempo assim, nesta mesma gestão do governo estadual, em 2007, no próprio Complexo do Alemão, a polícia entrou e matou 19. E eis que, agora, a polícia vê a necessidade de entrar na mesma favela de novo.
Tem sido assim no Brasil há tempos. Essa lógica da guerra prevalece no Brasil desde Canudos. E nunca proporcionou segurança de fato. Novas crises virão. E novas mortes. Até quando? Não vai ser um Dia D como esse agora anunciado que vai garantir a paz. Essa analogia à data histórica da 2ª Guerra Mundial não passa de fraude midiática.
Essa crise se explica, em parte, por uma concepção do papel da polícia que envolve o confronto armado com os bandos do varejo das drogas. Isso nunca vai acabar com o tráfico. Este existe em todo lugar, no mundo inteiro. E quem leva drogas e armas às favelas?
É preciso patrulhar a baía de Guanabara, portos, fronteiras, aeroportos clandestinos. O lucrativo negócio das armas e drogas é máfia internacional. Ingenuidade acreditar que confrontos armados nas favelas podem acabar com o crime organizado. Ter a polícia que mais mata e que mais morre no mundo não resolve.
Falta vontade política para valorizar e preparar os policiais para enfrentar o crime onde o crime se organiza -onde há poder e dinheiro. E, na origem da crise, há ainda a desigualdade. É a miséria que se apresenta como pano de fundo no zoom das câmeras de TV. Mas são os homens armados em fuga e o aparato bélico do Estado os protagonistas do impressionante espetáculo, em narrativa estruturada pelo viés maniqueísta da eterna “guerra” entre o bem e o mal.
Como o “inimigo” mora na favela, são seus moradores que sofrem os efeitos colaterais da “guerra”, enquanto a crise parece não afetar tanto assim a vida na zona sul, onde a ação da polícia se traduziu no aumento do policiamento preventivo. A violência é desigual.
É preciso construir mais do que só a solução tópica de uma crise episódica. Nem nas UPPs se providenciou ainda algo além da ação policial. Falta saúde, creche, escola, assistência social, lazer.
O poder público não recolhe o lixo nas áreas em que a polícia é instrumento de apartheid. Pode parecer repetitivo, mas é isso: uma solução para a segurança pública terá de passar pela garantia dos direitos básicos dos cidadãos da favela.
Da população das favelas, 99% são pessoas honestas que saem todo dia para trabalhar na fábrica, na rua, na nossa casa, para produzir trabalho, arte e vida. E essa gente -com as suas comunidades tornadas em praças de “guerra”- não consegue exercer sequer o direito de dormir em paz.
Quem dera houvesse, como nas favelas, só 1% de criminosos nos parlamentos e no Judiciário…


MARCELO FREIXO, professor de história, deputado estadual (PSOL-RJ), é presidente da Comissão de Defesa dos Direitos Humanos e Cidadania da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro.

24 de novembro de 2010

Entrevista do Lula com blogueiros

ANT

Visite o site da Associação Nacional dos Torcedores

http://torcedores.org/


objetivos

lutar contra:
  1. A exclusão do povo brasileiro dos estádios de futebol, fruto de uma política deliberada de diminuição da capacidade dos estádios, extinção de setores populares dos estádios e aumento abusivo dos ingressos
  2. O desrespeito à cultura torcedora com a extinção de áreas populares como a geral, onde há uma tradição própria de participação no espetáculo que inclui assistir ao jogo de pé (o que acontece na Alemanha)
  3. A falta de transparência no futebol brasileiro, há décadas nas mãos de dirigentes incompetentes e corruptos; exigimos a democratização das decisões acerca do futebol brasileiro com a participação dos torcedores; por exemplo: as sucessivas e milionárias reformas do Maracanã, feitas sem nenhuma consulta aos torcedores
  4. A exploração politiqueira do futebol visando eleger candidatos que aproveitam-se da sua popularidade para conseguirem mandatos contra o povo
  5. O controle das tabelas e horários dos campeonatos na mão da rede de televisão que há décadas detém o lucrativo monopólio das transmissões televisivas de jogos de futebol; horário máximo de 20h para o início das partidas durante a semana e 17h aos domingos
  6. A retirada de comunidades de trabalhadores em nome da Copa do Mundo e das Olimpíadas
  7. A falta de meios de transporte dignos durante os dias de jogos; exigimos esquemas especiais em dias de jogos

22 de novembro de 2010

Sir Paul McCartney





17 de novembro de 2010

Comentários pós jogo

Depois de Argentina 1 X Brasil 0


Dunga:

"Pelo menos da Argentina eu ganhava"

D´Alessandro:

"Com o Victor no outro time eu nunca perdi"

Torcedor do Santos:

"Com um bando de jogador corinthiano nunca vamos ganhar dos argentinos"

Torcedor do São Paulo

"Hernanes > Messi > Ronaldinho"

Torcedor do Corinthians:

"Ronaldo ! "

15 de novembro de 2010

Boa Adnet

3 de novembro de 2010

pós eleições

do Escrevinhador
de Rodrigo Vianna


"Serra plantou ódio, e o Brasil colhe preconceito: as manifestações contra nordestinos na internet

O vídeo que reproduzo abaixo é de revirar o estômago. Mas faz um bem danado: lança luz sobre um Brasil que muitas vezes não gostamos de ver. O Brasil do ódio.

http://www.youtube.com/watch?v=tCORsD-hx0w

A campanha conservadora movida pelos tucanos, a misturar religião e política, trouxe à tona o lodo que estava guardado no fundo da represa. A lama surgiu na forma de ódio e preconceito. Muita gente gosta de afirmar: no Brasil não há ódio entre irmãos, há tolerância religiosa. Serra jogou isso fora. A turma que o apoiava infestou a internet com calúnias. E, agora, passada a eleição, o twitter e outras redes sociais são tomadas por manifestações odiosas.

Como se vê no vídeo acima, não foi só a tal Mayara (estudante de Direito!!!) que declarou ódio aos nordestinos. Há muitos outros. Com nome, assinatura. É fácil identificar um por um. E processar a todos! O Ministério Público deveria agir. A Polícia Federal deveria agir.

E nós devemos estar preparados, porque Serra fez dessas feras da direita a nova militância tucana. Jogou no lixo a história de Montoro e Covas. Serra cavou a trincheira na direita. E o Brasil agora colhe o resultado da campanha odiosa feita por Serra.

Desde domingo, muita gente já fez as contas e mostrou: Dilma ganharia de Serra com ou sem os votos do Nordeste. Não dei destaque a isso porque acho que é – de certa forma – uma rendição ao pensamento conservador. Em vez de dizer que Dilma ganhou “mesmo sem o Nordeste”, deveríamos dizer: ganhou – também – por causa dos nordestinos. E qual o problema?

E deveríamos lembrar: Dilma ganhou também com o voto de quase 60% dos mineiros e dos moradores do Estado do Rio.E ganhou com quase metade dos votos de paulistas e gaúchos.

Parte da imprensa – que, como Serra, não aceita a derrota e tenta desqualificar a vitoriosa - insiste no mapinha ”Estados vermelhos no Norte/Nordeste x Estados azuis no Sul/Sudeste”. O interessante é ver - aqui - a votação por municípios, e não por Estados: há imensas manchas vermelhas nesse Sul/Sudeste que alguns gostariam de ver todo azulzinho.

No Sul e no Sudeste há muita gente que diz: “não ao ódio”. Se essa turma de mauricinhos idiotas quiser brincar de separatismo, vai ter que enfrentar não apenas o bravo povo nordestino. Vai ter que enfrentar gente do Sul e Sudeste que não aceita dividir o Brasil.

Serra do bem tentou lançar o Brasil no abismo. Não conseguiu. Mas deu combustível para esses idiotas. Caberá a nós enfrentá-los. Com a lei e a força dos argumentos."

1 de novembro de 2010

Dilma representa luta que “vem de longe”

do Escrevinhador

"Serra não deu as caras pela manhã nesse dia decisivo. Ele prefere a noite e as sombras. Dilma começou a jornada com um café-da-manhã simbólico em Porto Alegre: ao lado de Alceu Collares (PDT), Olívio Dutra e Tarso Genro (PT). Já escrevi aqui que Dilma é o reencontro do PT com o trabalhismo de origem varguista.

Depois de lutar contra a ditadura em organizaçções de esquerda marxista, Dilma optou pelo PDT quando a democracia voltou, nos aos 80. Esteve ao lado de Brizola, foi secretária de Alceu Collares no governo gaúcho. E não renega essa história, assim como não renega o passado de resistência à ditadura.

Brizola, esse grande brasileiro, costumava dizer: “venho de longe, de muito longe”. A frase tinha um sentido duplo: ele queria dizer que vinha de uma cidadezinha lá do interior gaúcho, e ao mesmo tempo que representava uma corrente de lutas enraizada no imaginário popular. Era um contraponto ao PT – que na época imaginava que as lutas populares no Brasil tinham começadao em 79, com as greves do ABC.

Dilma vem de longe, sim!

Dilma representa as lutas sociais do Brasil, e poderíamos ir buscar esse fio da história lá nas lutas anti-coloniais e anti-escravistas – de Tiradentes e Zumbi. Mas fiquemos no passado mais recente. Dilma é o tenentismo que lutou contra a República Velha. Dilma é o trabalhismo de esquerda. Dilma é o nacionalismo de Vargas – com Petrobrás, BNDES e o fortalecimento do Estado. Não é à toa que o ódio da elite anti-nacional contra Vargas tenha reaparecido agora com o ódio contra Lula e Dilma.

A candidata petista vem de muito longe.

Dilma é a Campanha da Legalidade em 61 – movimento em que Brizola resistiu contra o golpe, entricheirando-se no Palácio do Piratini e convocando a Rede da Legalidade.

Dilma é Luiz Carlos Prestes. Dilma é Arraes. Dilma é Francisco Julião e suas Ligas Camponesas.

Dilma é a resistência ao Golpe de 64, a resistência à ditadura e ao AI-5. Dilma é Lamarca, é Marighella e a esquerda de armas na mão contra a ditadura. Mas Dilma é também o MDB de Ulysses e da luta pela democracia formal. Nos anos 70, parecia que essa duas vertentes não iriam se encontrar nunca. Mas elas se encontraram!

Dilma é a greve de 79. Dilma é Vila Euclides. Dilma é a Campanha das Diretas e a Constituição cidadã de 88.

Dilma é Brizola. Dilma é Lula.

Dilma vem de longe. Concentra em sua candidatura lutas históricas do povo brasileiro. Dilma é a defesa de um legado de 8 anos. Defesa de um governo que teve, sim, muitos erros. Mas significou um avanço tremendo nesse país de tradição oligárquica e conservadora.

Dilma é a retomada do fio da história do Brasil. Um fio interrompido em 64. Dilma é o MST e as centrais sindicais. Dilma é o Brasil dos movimentos sociais, da luta contra concentração de terra e renda, contra a concentração da informação na mão de meia dúzia de famílias.

É importante eleger uma mulher – sim! Importantíssimo, e nos próximos dias poderemos avaliar isso melhor. Mas Dilma não é simplesmente “mulher”. É uma brasileira que ousou lutar contra a ditadura, em organizações clandestinas. Isso a velha elite não perdoa. É uma marca tão forte quanto os quatro dedos do operário que nunca será aceito na velha turma.

Dilma vem de longe. Dilma não é uma “invenção do Lula”. Dilma concentra a esperança de um Brasil mais justo.

Nesse dia histórico, depois de uma campanha exaustiva e lamentável por parte da direita, é preciso ainda estar atento. Porque do outro lado há gente que também vem de longe.

Serra representa o golpismo de Lacerda, Olympio Mourão, das marchas com Deus e a família. Serra é a concentração de renda dos militares, Serra é a ditadura. Infelizmente, jogou no lixo sua história somando-se ao que há de pior na história brasileira.

Serra vem de longe também. Serra é o liberalismo de FHC, Serra é o desmonte do Estado, Serra é Brasil dos anos 90 que se ajoelhava diante dos EUA, e que desprezava a unidade latino-americana.

Serra é um Brasil que vem de longe nos grandes e pequenos golpes contra a democracia. Por isso, é preciso estar atento nessa dia decisivo. Atento às urnas, aos boletins de urna, à fiscalização das urnas.

Votar em Dilma é votar num país que vem de longe. E que pode chegar muito mais longe nas próximas décadas."

30 de outubro de 2010

Debate

Do chato debate da Globo, restou uma frase de Dilma:

“quem cuida de pobre em São Paulo é o governo federal”


Essa foi boa.

26 de outubro de 2010

Finalmente!

Povo do marketing deu uma dentro

Mais 1 bom argumento pró Dilma

Olha que coisa

A CBN (eca!) entrevistou dois religiosos sobre as eleições de Domingo

Pra defender Dilma: Leonardo Boff


Pra defender Serra: Silas Malafia


Preciso falar algo mais?

ATO NA USP

INTELECTUAIS REUNIDOS FAZEM APELO À ESQUERDA

Heloísa Fernandes, filha de Florestan Fernandes, Alfredo Bosi e Marilena Chauí, entre outros, fizeram um apelo à esquerda para que não anule o voto no 2º turno. Os três falaram em ato pró-Dilma que reuniu mais de mil pessoas na USP, na noite desta 2º feira. Heloísa, socióloga, como Florestan, fez o discurso mais emocionado da noite. Afirmou que o pai gostaria de estar ali e disse ter votado em Plínio de Arruda Sampaio (PSOL) no primeiro turno; agora apoia Dilma:"Discordo que não existam diferenças nem acho que os dois candidatos sejam farinha do mesmo saco." O profesor de literatura, Alfredo Bosi, foi igualmente enfático: "Nosso voto nãoé cego, é crítico. A confiança e a esperança não nos isentam de continuar lutando." (Carta Maior; 26-10)








23 de outubro de 2010

VotoSerrapq

Genial!




22 de outubro de 2010

20 de outubro de 2010

19 de outubro de 2010

Depoimentos

Leonardo Boff


Chico Buarque

Lula e os que se acovardam diante da mídia

14 de outubro de 2010

Brasil de Fato: Sobre sonhos e pesadelos

Se a Dilma não é o governo dos nossos sonhos, certamente o Serra é o governo dos nossos pesadelos

06/10/2010

Editorial ed. 397, Brasil de Fato

Concluído o primeiro turno do processo eleitoral, há inúmeras análises políticas que buscam interpretar o resultado das urnas e vislumbrar, de imediato, sinais dos possíveis resultados do segundo turno, que será realizado dia 31. Junto com tantas outras análises que surgirão, o trabalho dos marqueteiros dos partidos políticos que estão na disputa, a busca de alianças com os partidos derrotados e as mudanças no que insistem em denominar de programa de governo, na tentativa de agradar o senso comum, irão predominar nos espaços noticiosos até o último dia desse mês.

A campanha eleitoral ficou polarizada entre candidata do PT, Dilma Roussef e o candidato tucano José Serra. O resultado eleitoral, ainda por motivos não totalmente decifráveis, desfez essa polarização com os quase 20 milhões de votos que obteve a candidata Marina da Silva, do PV. Assim, não se concretizou a vitória da candidata do governo Lula no primeiro turno, como era a expectativa.

É possível que o fracasso da eleição plebiscitária – polarização entre o governo FHC e o governo Lula – se deva aos ataques e manipulações de baixo nível protagonizadas pela mídia burguesa, pela sórdida campanha realizada pelos setores religiosos mais conservadores das igrejas Católica e Evangélicas à candidatura de Dilma.

Mas também não é possível ignorar que uma parcela significativa dos eleitores se sentiu decepcionada com a despolitização da campanha, que se propunha a confrontar com o governo neoliberal dos tucanos. Denunciar os descalabros que sãos os 16 anos de administração tucana em São Paulo ficou ausente da campanha. A corrupção acobertada pelo domínio sobre as assembleias legislativas, sobre os tribunais de contas e setores do poder judiciário e completa subordinação da mídia aos seus interesses asseguram a impunidade dos governo tucanos e vicejam lideranças políticas sem nenhum compromisso com a ética e com a verdade. Deixar as bandeiras históricas da classe trabalhadora aos candidatos sem chances de vitória eleitoral foi um erro da candidata petista. Militantes sociais, mesmo decepcionados com o governo Lula, mas cientes do que significa uma vitória tucana, sentiram-se órfãos nessa campanha. Estavam sem porta-vozes das bandeiras das lutas populares e os discursos bem elaborados nos gabinetes acadêmicos não os seduziram.

Lastimável foi também a atuação das autoridades eleitorais nesse processo. A história há de registrar a participação ativa da controvertida vice-procuradora-geral eleitoral, doutora Sandra Cureau. Sua tentativa de cercear a revista Carta Capital, por não estar subordinada aos interesses do candidato tucano e a resposta do editor da publicação semanal, Mino Carta, estarão registrados tanto nas escolas de jornalismo quanto das do poder judiciário eleitoral.

Coube ainda ao poder judiciário deixar indefinida a questão da “ficha limpa”. Milhares de eleitores votaram em candidatos e candidatas que não sabiam se estavam ou não aptos para disputar a eleição. Se o Tribunal agora decidir pela inaptidão do candidato, seus eleitores fizeram a papel de bobos, não porque são, mas pela incompetência daquele.

O mesmo se pode dizer da exigência legal da documentação para votar. A lei exigia o título de eleitor e um documento oficial com foto. É a bizarra situação jurídica em que um documento oficial tem que comprovar a veracidade de outro documento. O Supremo Tribunal Federal revogou a lei e exigiu obrigatoriamente um documento oficial com foto. Jogou-se o título de eleitor, definido pelas autoridades eleitorais que não teria foto, na lata do lixo.

Coube ainda mais um deslize do Supremo Tribunal Federal: a descoberta de que um de seus membros, Gilmar Mendes, (Dantas, para alguns da mídia), foi monitorado pelo candidato tucano na sessão que julgou a necessidade ou não de dois documentos para votar. Até o momento, nenhum pronunciamento do STF sobre esse caso vergonhoso a que foi submetido. O impeachment do Mendes/Dantas se torna um imperativo.

Sobre a mídia burguesa, talvez tenha sido a maior conquista da sociedade brasileira nesse processo eleitoral. Ela mesma – frente à fragilidade dos partidos direitistas – se outorgou o papel de ser o partido de oposição ao governo Lula. Não poupou espaços em seus noticiários para algumas lideranças do campo de esquerda – desde que fosse para falar de escândalos pontuais e atacar a pessoalmente a candidata Dilma. Não hesitou em massacrar o currículo de vida de pessoas públicas, mesmo sem provas. Recorreu a receptador de cargas de mercadorias roubadas, repassador de notas falsas de dinheiro, condenado pela justiça, para noticiar fatos não comprovados. “Assassinou” um senador (Romeu Tuma) hospitalizado. Enfim, caiu a máscara da mídia burguesa. Ganhamos!

Nesse sentido, precisamos consolidar essa vitória conquistando uma lei de controle social sobre os meios de comunicação, que garantam a liberdade de expressão e o direito a informação ao povo brasileiro. A bandeira da democratização da comunicação é da esquerda e dos movimentos sociais, não dos demotucanos e dos proprietários dos meios de comunicação.

Agora é o espaço de luta do segundo turno das eleições. Não há espaço em cima do muro. Os movimentos populares da Via Campesina brasileira, já no início do processo eleitoral, tomaram a definição de impedir o retrocesso ao governo neoliberal, representado pela candidatura de José Serra.

É hora de levar essa decisão, buscando a unidade, com todos os movimentos populares, sindicais e estudantis, do campo e da cidade. Se a Dilma não é o governo dos nossos sonhos, certamente o Serra é o governo dos nossos pesadelos.

A psicologia de massa do fascismo à brasileira

"Há tempos alerto para a campanha de ódio que o pacto mídia-FHC estava plantando no jogo político brasileiro.

O momento é dos mais delicados. O país passa por profundos processos de transformação, com a entrada de milhões de pessoas no mercado de consumo e político. Pela primeira vez na história, abre-se espaço para um mercado de consumo de massa capaz de lançar o país na primeira divisão da economia mundial

Esses movimentos foram essenciais na construção de outras nações, mas sempre vieram acompanhados de tensões, conflitos, entre os que emergem buscando espaço, e os já estabelecidos impondo resistências.

Em outros países, essas tensões descambaram para guerras, como a da Secessão norte-americana, ou para movimentos totalitários, como o fascismo nos anos 20 na Europa.

Nos últimos anos, parecia que Lula completaria a travessia para o novo modelo reduzindo substancialmente os atritos. O reconhecimento do exterior ajudou a aplainar o pesado preconceito da classe média acuada. A estratégia política de juntar todas as peças – de multinacionais a pequenas empresas, do agronegócio à agricultura familiar, do mercado aos movimentos sociais – permitiu uma síntese admirável do novo país. O terrorismo midiático, levantando fantasmas com o MST, Bolívia, Venezuela, Cuba e outras bobagens, não passava de jogo de cena, no qual nem a própria mídia acreditava.

À falta de um projeto de país, esgotado o modelo no qual se escudou, FHC – seguido por seu discípulo José Serra – passou a apostar tudo na radicalização. Ajudou a referendar a idéia da república sindicalista, a espalhar rumores sobre tendências totalitárias de Lula, mesmo sabendo que tais temores eram infundados.

Em ambientes mais sérios do que nas entrevistas políticas aos jornais, o sociólogo FHC não endossava as afirmações irresponsáveis do político FHC.

Mas as sementes do ódio frutificaram. E agora explodem em sua plenitude, misturando a exploração dos preconceitos da classe média com o da religiosidade das classes mais simples de um candidato que, por muitos anos, parecia ser a encarnação do Brasil moderno e hoje representa o oportunismo mais deslavado da moderna história política brasileira.

O fascismo à brasileira

Se alguém pretende desenvolver alguma tese nova sobre a psicologia de massa do fascismo, no Brasil, aproveite. Nessas eleições, o clima que envolve algumas camadas da sociedade é o laboratório mais completo – e com acompanhamento online - de como é possível inculcar ódio, superstição e intolerância em classes sociais das mais variadas no Brasil urbano – supostamente o lado moderno da sociedade.

Dia desses, um pai relatou um caso de bullying com a filha, quando se declarou a favor de Dilma.

Em São Paulo esse clima está generalizado. Nos contatos com familiares, nesses feriados, recebi relatos de um sentimento difuso de ódio no ar como há muito tempo não se via, provavelmente nem na campanha do impeachment de Collor, talvez apenas em 1964, período em que amigos dedavam amigos e os piores sentimentos vinham à tona, da pequena cidade do interior à grande metrópole.

Agora, esse ódio não está poupando nenhum setor. É figadal, ostensivo, irracional, não se curvando a argumentos ou ponderações.

Minhas filhas menores freqüentam uma escola liberal, que estimula a tolerância em todos os níveis. Os relatos que me trazem é que qualquer opinião que não seja contra Dilma provoca o isolamento da colega. Outro pai de aluna do Vera Cruz me diz que as coleguinhas afirmam no recreio que Dilma é assassina.

Na empresa em que trabalha outra filha, toda a média gerência é furiosamente anti-Dilma. No primeiro turno, ela anunciou seu voto em Marina e foi cercada por colegas indignados. O mesmo ocorre no ambiente de trabalho de outra filha.

No domingo fui visitar uma tia na Vila Maria. O mesmo sentimento dos antidilmistas, virulento, agressivo, intimidador. Um amigo banqueiro ficou surpreso ao entrar no seu banco, na segunda, é captar as reações dos funcionários ao debate da Band.

A construção do ódio

Na base do ódio um trabalho da mídia de massa de martelar diariamente a história das duas caras, a guerrilha, o terrorismo, a ameaça de que sem Lula ela entregaria o país ao demonizado José Dirceu. Depois, o episódio da Erenice abrindo as comportas do que foi plantado.

Os desdobramentos são imprevisíveis e transcendem o processo eleitoral. A irresponsabilidade da mídia de massa e de um candidato de uma ambição sem limites conseguiu introjetar na sociedade brasileira uma intolerância que, em outros tempos, se resolvia com golpes de Estado. Agora, não, mas será um veneno violento que afetará o jogo político posterior, seja quem for o vencedor.

Que país sairá dessas eleições?, até desanima imaginar.

Mas demonstra cabalmente as dificuldades embutidas em qualquer espasmo de modernização brasileira, explica as raízes do subdesenvolvimento, a resistência história a qualquer processo de modernização. Não é a herança portuguesa. É a escassez de homens públicos de fôlego com responsabilidade institucional sobre o país. É a comprovação de porque o país sempre ficou para trás, abortou seus melhores momentos de modernização, apequenou-se nos momentos cruciais, cedendo a um vale-tudo sem projeto, uma guerra sem honra.

Seria interessante que o maior especialista da era da Internet, o espanhol Manuel Castells, em uma próxima vinda ao Brasil, convidado por seu amigo Fernando Henrique Cardoso, possa escapar da programação do Instituto FHC para entender um pouco melhor a irresponsabilidade, o egocentrismo absurdo que levou um ex-presidente a abrir mão da biografia por um último espasmo de poder. Sem se importar com o preço que o país poderia pagar. "

12 de outubro de 2010

Abortando a eleição

* por Otto Dana Lara, pároco da Igreja Sant’Ana, em Rio Claro/SP. Publicado no Jornal de Piracicaba, dia 12 de outubro de 2010.

"Brasileiros e Brasileiras! O capeta está solto! Empunhemos nossos terços e Bíblias e até Alcorões, se os houver! Herodes brande a espada afiada contra criancinhas do Brasil! Ergamos a fogueira! Queimemos os hereges! O aborto e os gays estão espreitando pela janela!

Gente do céu! Que tiririquice! Que babaquice mais que medieval. Que onda inquisitorial graçando em pleno século 21. A caça às bruxas. O extermínio dos veados. Cruz-credo! Xô, Satanás! Estamos apenas tentando eleger um presidente para o Brasil. Estamos discutindo propostas e projetos para uma boa administração do Brasil. Aborto, gueisismo, pílula, camisinha, não é prioridade no momento.

O processo eleitoral corria tranqüilo, dentro dos princípios democráticos: discute-aqui, denuncia-ali; promete-isso, condena-aquilo, tudo numa boa. De repente a serenidade é detonada por uma horda de aiatolás, talibãs, mulás, numa gritaria ensurdecedora contra os que ameaçam o poder do Altíssimo. Alguns vestidos de batina (ainda!), outros de mitra e báculo, outros de terno e gravata ostentando Bíblias, todos ecumenicamente de dedo em riste acusador: “Ela é a favor do aborto; ele apóia o casamento homem com homem, mulher com mulher; os dois defendem a distribuição de camisinhas até para as crianças da escola”.

Deus do céu! Que atraso! Que tiririquice! Para começar, arbitrar sobre aborto e formas de casamento é da competência do Congresso Nacional e não do presidente da República, que apenas sanciona ou veta a disposição do Congresso. Além do mais, aborto e casamento gay nem estão em pauta hoje.

Mais importante e pertinente agora é ouvir dos candidatos suas propostas e seus projetos concretos quanto a saúde, educação de qualidade, distribuição de renda, segurança da população, criação de empregos, formas de apropriação ou não do Estado, relações diplomáticas e econômicas com outros países, transporte, saneamento básico, liberdade de imprensa, desenvolvimento do país, programas sociais, etc etc.

E mais: estamos num país democrático, regido por uma Constituição Civil e não pelas tábuas da lei de Moisés. É um país democrático e laico e não teocrático, apesar de supostamente religioso. Sua capital é Brasília e não o Vaticano, nem a Canção Nova, nem a sede da Assembléia de Deus, nem a CNBB (Confederação Nacional dos Bispos do Brasil).

Tentar manipular a consciência do eleitor, ameaçando-o com a ira de Deus, é injuriar o próprio Deus que nos criou livres. O dia em que o povo tiver que consultar um aiatolá de plantão tipo pastos Silas Malafaia, ou um padre José Augusto (Canção Nova) para votar, é melhor rasgar o título de eleitor e o estatuto da maioridade civil. O que vem se praticando em meios religiosos no momento é o aborto da eleição, da democracia, da Constituição e do bom senso. Xô, Satanás."

6 de outubro de 2010

O dilema das esquerdas, ou, de Marx a Yoda

“Quando não há contradição, não há movimento”

Marx

Quantas vezes já ouvi aquela velha besteira de que atualmente não existiria mais “esquerda” e “direita”. Por favor, isso é a ideologia da “não ideologia”, ou seja, da despolitização da sociedade, de que todos os políticos são iguais, de que a política não resolve nada etc.

A diferença é muito simples e pouco se alterou ao longo da história: “Esquerda” são aqueles que querem mudas as coisas, defendem o progresso da sociedade; “Direita” é o conservador, que defende as tradições e vê com maus olhos (tem medo) das mudanças. É de esquerda quem sonha com um mundo melhor, e é de direita quem diz que antigamente é que era bom.

Mas ao contrário da direita, unida na preservação de suas tradições, a esquerda dificilmente pode ser entendida no singular, pois, em geral, existem muitas esquerdas, muitas idéias e caminhos a percorrer para mudar o mundo.

Para onde vamos? Como vamos? O que precisamos mudar? Como seria um mundo melhor?

As respostas aos dilemas das esquerdas não são tão fáceis como para a direita. Essas diferenças entre os grupos mais progressistas geralmente acabam criando diversas facções, as quais, não raramente, acabam se digladiando tanto entre si como com a direita.

Na Guerra Civil espanhola, por exemplo, comunistas, socialistas e anarquistas lutavam não só contra o exercito de Franco, mas também entre eles. O resultado foi bastante previsível.

O grande desafio das esquerdas é o da união para enfrentar a direita. Mas isso não é nada fácil, até pela natureza do sentimento de “esquerda”.

Geralmente, quando um grupo de esquerda consegue conquistar o governo, logo terá que enfrentar, não só a oposição conservadora, como os descontentes da esquerda. Afinal, agora você (a esquerda) é o poder, todos as frustrações vão ser direcionados a você, especialmente aquela rebeldia juvenil, que terá em você o novo alvo.

Até o momento, a esquerda adotou duas estratégias quando governo: nos casos democráticos, respeitou e confrontou a dissidência de esquerda; já nas experiências totalitárias, dizimou seus opositores.

Infelizmente, o destino das experiências de governo de esquerda não são muito animadoras. No primeiro caso, democrático, a esquerda enfraquecida em seus confrontos internos acabou, invariavelmente, perdendo a batalha política com a direita. No segundo, totalitário, o resultado foi ainda pior, pois sem debate de idéias não temos como construir um mundo melhor, ou seja, a esquerda totalitária se transforma em direita, que só quer conservar os privilégios conquistados por essa nova classe de governantes.

Esse é o grande dilema das esquerdas: como fazer um governo democrático de esquerda sem ser consumido pelas diferenças.

Não podemos esquecer, a direta estará sempre ali, oferecendo o “fácil, a “ordem”, a “segurança”, em contraponto ao “medo” das mudanças propostas por nós.

E como diria o mestre Yoda “O medo é o caminho para o lado negro”

Dois projetos

Leonardo Boff, na Carta Maior

O Brasil está ainda em construção. Somos inteiros mas não acabados. Nas bases e nas discussões políticas sempre se suscita a questão: que Brasil finalmente queremos?

É então que surgem os vários projetos políticos elaborados a partir de forças sociais com seus interesses econômicos e ideológicos com os quais pretendem moldar o Brasil.

Agora, no segundo turno das eleições presidenciais, tais projetos repontam com clareza. É importante o cidadão consciente dar-se conta do que está em jogo para além das palavras e promessas e se colocar criticamente a questão: qual dos projetos atende melhor às urgências das maiorias que sempre foram as “humilhadas e ofendidas” e consideradas “zeros econômicos” pelo pouco que produzem e consomem.

Essas maiorias conseguiram se organizar, criar sua consciência própria, elaborar o seu projeto de Brasil e digamos, sinceramente, chegaram a fazer de alguém de seu meio, Presidente do pais, Luiz Inácio Lula da Silva. Fou uma virada de magnitude histórica.

Há dois projetos em ação: um é o neoliberal ainda vigente no mundo e no Brasil apesar da derrota de suas principais teses na crise econômico-financeira de 2008. Esse nome visa dissimular aos olhos de todos, o caráter altamente depredador do processo de acumulação, concentrador de renda que tem como contrapartida o aumento vertiginoso das injustiças, da exclusão e da fome. Para facilitar a dominação do capital mundializado, procura-se enfraquecer o Estado, flexibilizar as legislações e privatizar os setores rentáveis dos bens públicos.

O Brasil sob o governo de Fernando Henrique Cardoso embarcou alegremente neste barco a ponto de no final de seu mandato quase afundar o Brasil. Para dar certo, ele postulou uma população menor do que aquela existente. Cresceu a multidão dos excluidos. Os pequenos ensaios de inclusão foram apenas ensaios para disfarçar as contradições inocultáveis.

Os portadores deste projeto são aqueles partidos ou coligações, encabeçados pelo PSDB que sempre estiveram no poder com seus fartos benesses. Este projeto prolonga a lógica do colonialismo, do neocolonialismo e do globocolonialismo pois sempre se atém aos ditames dos paises centrais.

José Serra, do PSDB, representa esse ideário. Por detrás dele estão o agrobusiness, o latifúndio tecnicamente moderno e ideologicamente retrógrado, parte da burguesia financeira e industrial. É o núcleo central do velho Brasil das elites que precisamos vencer pois elas sempre procuram abortar a chance de um Brasil moderno com uma democracia inclusiva.

O outro projeto é o da democracia social e popular do PT. Sua base social é o povo organizado e todos aqueles que pela vida afora se empenharam por um outro Brasil. Este projeto se constrói de baixo para cima e de dentro para fora. Que forjar uma nação autônoma, capaz de democratizar a cidadania, mobilizar a sociedade e o Estado para erradicar, a curto prazo, a fome e a pobreza, garantir um desenvolvimento social includente que diminua as desigualdades. Esse projeto quer um Brasil aberto ao diálogo com todos, visa a integração continental e pratica uma política externa autônoma, fundada no ganha-ganha e não na truculência do mais forte.

Ora, o governo Lula deu corpo a este projeto. Produziu uma inclusão social de mais de 30 milhões e uma diminuição do fosso entre ricos e pobres nunca assistido em nossa história. Representou em termos políticos uma revolução social de cunho popular pois deu novo rumo ao nosso destino. Essa virada deve ser mantida pois faz bem a todos, principalmente às grandes maiorias, pois lhes devolveu a dignidade negada.

Dilma Rousseff se propõe garantir e aprofundar a continuidade deste projeto que deu certo. Muito foi feito, mas muito falta ainda por fazer, pois a chaga social dura já há séculos e sangra.

É aquí que entra a missão de Marina Silva com seus cerca de vinte milhões de votos. Ela mostrou que há uma faceta significativa do eleitorado que quer enriquecer o projeto da democracia social e popular. Esta precisa assumir estrategicamente a questão da natureza, impedir sua devastação pelas monoculturas, ensaiar uma nova benevolência para com a Mãe Terra. Marina em sua campanha lançou esse programa. Seguramente se inclinará para o lado de onde veio, o PT, que ajudou a construir e agora a enriquecer. Cabe ao PT escutar esta voz que vem das ruas e com humildade saber abrir-se ao ambiental proposto por Marina Silva.

Sonhamos com uma democracia social, popular e ecológica que reconcilie ser humano e natureza para garantir um futuro comum feliz para nós e para a humanidade que nos olha cheia de esperança.

(*) Leonardo Boff é teólogo

1 de outubro de 2010

2 motivos para votar na Dilma

Primeiro motivo





Segundo motivo

30 de setembro de 2010

Meus votos

Dep. Estadual:

Roberto Felício (PT), número 13 400

Motivo: É o candidato do PT de Piracicaba. Não acompanho sua carreira, não sei de qual linha do PT ele é, mas fico com ele por ser de Piracicaba.

Dep Federal:

Protógenes Queiroz (PC do B) número 65 88

Prendeu Daniel Dantas e foi esculachado pela mídia. Maior inversão de valores da história recente do país. Foi esperto, filiou-se num partidão da base de Lula, quando poderia tê-lo culpado. Sabe o que a mídia ruim pode fazer com seus inimigos.

Depois de Dilma, é o que voto com mais prazer.

Senadores:

Marta e Netinho (PT e PC do B) números 133 e 650 (escolheram esses números só pra complicar a chapa? Não podia ser 133 e 655, ou 130 e 650?)

Candidatos da coligação que apóia Dilma e muito melhores que as alternativas (Tuma e o fulano do psdb)

Governador:

Mercadante (PT), número 13

Última das minhas escolhas. Estava em dúvida entre ele e Paulo Skaf (PSB, número 40), mas não gostei de Skaf no debate.


Presidente:, mas deveria ser presidenta:

Dilma (PT), número 13



Minha "cola"

Dep. Estadual 13 400

Dep. Federal 65 88

Senador 133

Senador 650

Governador 13

Presidente 13

29 de setembro de 2010

Sobre os boatos

24 de setembro de 2010

A mídia comercial em guerra contra Lula e Dilma

Por Leonardo Boff, na Adital, via Vermelho

23 de setembro de 2010

Sou profundamente pela liberdade de expressão em nome da qual fui punido com o “silêncio obsequioso” pelas autoridades do Vaticano. Sob risco de ser preso e torturado, ajudei a editora Vozes a publicar corajosamente o “Brasil Nunca Mais”, onde se denunciavam as torturas, usando exclusivamente fontes militares, o que acelerou a queda do regime autoritário.

Esta história de vida me avalisa fazer as críticas que ora faço ao atual enfrentamento entre o Presidente Lula e a midia comercial que reclama ser tolhida em sua liberdade. O que está ocorrendo já não é um enfrentamento de ideias e de interpretações e o uso legítimo da liberdade da imprensa. Está havendo um abuso da liberdade de imprensa que, na previsão de uma derrota eleitoral, decidiu mover uma guerra acirrada contra o Presidente Lula e a candidata Dilma Rousseff. Nessa guerra vale tudo: o factóide, a ocultação de fatos, a distorção e a mentira direta.

Precisamos dar o nome a esta mídia comercial. São famílias que, quando veem seus interesses comerciais e ideológicos contrariados, se comportam como “famiglia” mafiosa. São donos privados que pretendem falar para todo Brasil e manter sob tutela a assim chamada opinião pública. São os donos de O Estado de São Paulo, de A Folha de São Paulo, de O Globo, da revista Veja, na qual se instalou a razão cínica e o que há de mais falso e chulo da imprensa brasileira. Estes estão a serviço de um bloco histórico assentado sobre o capital que sempre explorou o povo e que não aceita um Presidente que vem desse povo. Mais que informar e fornecer material para a discusão pública, pois essa é a missão da imprensa, esta mídia empresarial se comporta como um feroz partido de oposição.

Na sua fúria, quais desesperados e inapelavelmente derrotados, seus donos, editorialistas e analistas não têm o mínimo respeito devido a mais alta autoridade do país, ao Presidente Lula. Nele veem apenas um peão a ser tratado com o chicote da palavra que humilha.

Mas há um fato que eles não conseguem digerir em seu estômago elitista. Custa-lhes aceitar que um operário, nordestino, sobrevivente da grande tribulação dos filhos da pobreza, chegasse a ser Presidente. Este lugar, a Presidência, assim pensam, cabe a eles, os ilustrados, os articulados com o mundo, embora não consigam se livrar do complexo de vira-latas, pois se sentem meramente menores e associados ao grande jogo mundial. Para eles, o lugar do peão é na fábrica produzindo.

Como o mostrou o grande historiador José Honório Rodrigues (Conciliação e Reforma), “a maioria dominante, conservadora ou liberal, foi sempre alienada, antiprogresssita, antinacional e não contemporânea. A liderança nunca se reconciliou com o povo. Nunca viu nele uma criatura de Deus, nunca o reconheceu, pois gostaria que ele fosse o que não é. Nunca viu suas virtudes, nem admirou seus serviços ao país, chamou-o de tudo -Jeca Tatu-; negou seus direitos; arrasou sua vida e logo que o viu crescer ela lhe negou, pouco a pouco, sua aprovação; conspirou para colocá-lo de novo na periferia, no lugar que contiua achando que lhe pertence (p.16)”.

Pois esse é o sentido da guerra que movem contra Lula. É uma guerra contra os pobres que estão se libertando. Eles não temem o pobre submisso. Eles têm pavor do pobre que pensa, que fala, que progride e que faz uma trajetória ascedente como Lula. Trata-se, como se depreende, de uma questão de classe. Os de baixo devem ficar em baixo. Ocorre que alguém de baixo chegou lá em cima. Tornou-se o Presidente de todos os brasileiros. Isso para eles é simplesmente intolerável.

Os donos e seus aliados ideológicos perderam o pulso da história. Não se deram conta de que o Brasil mudou. Surgiram redes de movimentos sociais organizados, de onde vem Lula, e tantas outras lideranças. Não há mais lugar para coroneis e para “fazedores de cabeça” do povo. Quando Lula afirmou que “a opinião pública somos nós”, frase tão distorcida por essa midia raivosa, quis enfatizar que o povo organizado e consciente arrebatou a pretensão da midia comercial de ser a formadora e a porta-voz exclusiva da opinião pública. Ela tem que renunciar à ditadura da palabra escrita, falada e televisionada e disputar com outras fontes de informação e de opinião.

O povo cansado de ser governado pelas classes dominantes resolveu votar em si mesmo. Votou em Lula como o seu representante. Uma vez no Governo, operou uma revolução conceptual, inaceitável para elas. O Estado não se fez inimigo do povo, mas o indutor de mudanças profundas que beneficiaram mais de 30 milhões de brasileiros. De miseráveis se fizeram pobres laboriosos, de pobres laboriosos se fizeram classe média baixa e de classe média baixa de fizeram classe média. Começaram a comer, a ter luz em casa, a poder mandar seus filhos para a escola, a ganhar mais salário, em fim, a melhorar de vida.

Outro conceito inovador foi o desenvolvimento com inclusão soicial e distribuição de renda. Antes havia apenas desenvolvimento/crescimento que beneficiava aos já beneficiados à custa das massas destituidas e com salários de fome. Agora ocorreu visível mobilização de classes, gerando satisfação das grandes maiorias e a esperança que tudo ainda pode ficar melhor. Concedemos que no Governo atual há um déficit de consciência e de práticas ecológicas. Mas, importa reconhecer que Lula foi fiel à sua promessa de fazer amplas políticas públicas na direção dos mais marginalizados.

O que a grande maioria almeja é manter a continuidade deste processo de melhora e de mudança. Ora, esta continuidade é perigosa para a mídia comercial que assiste, assustada, ao fortalecimento da soberania popular que se torna crítica, não mais manipulável e com vontade de ser ator dessa nova história democrática do Brasil. Vai ser uma democracia cada vez mais participativa e não apenas delegatícia. Esta abria amplo espaço à corrupção das elites e dava preponderância aos interesses das classes opulentas e ao seu braço ideológico que é a mídia comercial. A democracia participativa escuta os movimentos sociais, faz do Movimento dos Sem Terra (MST), odiado especialmente pela VEJA, que faz questão de não ver; protagonista de mudanças sociais não somente com referência à terra, mas também ao modelo econômico e às formas cooperativas de produção.

O que está em jogo neste enfrentamento entre a midia comercial e Lula/Dilma é a questão: que Brasil queremos? Aquele injusto, neocoloncial, neoglobalizado e, no fundo, retrógrado e velhista; ou o Brasil novo com sujeitos históricos novos, antes sempre mantidos à margem e agora despontando com energias novas para construir um Brasil que ainda nunca tínhamos visto antes?

Esse Brasil é combatido na pessoa do Presidente Lula e da candidata Dilma. Mas estes representam o que deve ser. E o que deve ser tem força. Irão triunfar a despeito das más vontades deste setor endurecido da midia comercial e empresarial. A vitória de Dilma dará solidez a este caminho novo ansiado e construido com suor e sangue por tantas gerações de brasileiros.

O fantasma da UDN

Argemiro Ferreira

na Carta Capital


"De como o PSDB acabou por ocupar, com extrema naturalidade, o papel que em outros tempos coube à direita golpista

No brasil, um Alzheimer singular, indiferente à idade, apaga a memória de políticos da oposição e do jornalismo a serviço deles. Em razão do fenômeno, uma geração menos jovem, resistente àquele mal, tenta, nem sempre com sucesso, devolver-lhes a memória recordando lições da história recente – como fez há dias o professor Fábio Wanderley Reis.
O desconforto desse cientista político, estudioso das posições tucanas, ficou claro. Repreendeu a pressa dos partidos de oposição e sua mídia, ao denunciar uma mexicanização no País. Eles veem o PT em duplo papel de vilão: além de ser um novo PRI, ainda persegue o modelo chavista. Lula e o PT são bem menos ambiciosos: optaram por vitórias limpas em duas eleições, governo com 80% de aprovação e o respeito internacional.

Antes o presidente amargou três der-rotas na oposição. Não tinha provado o gosto do poder. Mas, em vez de pregar um golpe, retomou a construção partidária com a força crescente dos militantes. Por que o PSDB, que governou em dois mandatos – de 1995 a 2002, graças a eleições vencidas no primeiro turno – está sem condições de recuperar a Presidência pelo voto, mesmo tendo trabalhado no projeto de “20 anos no poder?” E por que, se era parte da esquerda ao nascer, apresenta-se como a direita arrogante que execrava?

A origem da contradição vivida pelos tucanos pode ser o oportunismo da aliança profana em 1994 com o PFL – que já fora Arena e PDS, e agora virou DEM. Por mais que este mude o disfarce, fingindo-se liberal, social, democrático (o codinome atual, irônico, é “Democratas”), nunca deixará de ser o partido da ditadura, a direita escarrada.
Último rebento a se separar do PMDB de Ulysses, o PSDB saiu, como o PT de Lula, do ventre dos “autênticos” – única esquerda tolerada pelo regime, exatamente por ser parte do único partido da oposição legal. Para compensar as dores do parto, os tucanos vieram com plumagem europeia – social-democracia com acadêmicos e intelectuais em vez de sindicatos.

Tinha, sim, havido namoro entre a elite acadêmica politizada – ou, pelo menos, parte dela – e líderes sindicais que a princípio evitaram os partidos e só depois sonharam em criar o deles. Como parte do processo, FHC debateu com eles. Achava não ter chegado o momento de enfraquecer o PMDB, ainda a bandeira maior da oposição. Houve reuniões- em São Paulo. Ao fim de uma, em 1978, dirigentes sindicais foram levados por Lula a um comício de FHC, pressionado por ele a se candidatar ao Senado em sublegenda do PMDB. O que o tornaria suplente e, depois, senador – em 1983, quando Franco Montoro, eleito governador, deixou-lhe o mandato restante.

A razão ostensiva de outra reunião, num hotel de São Bernardo, em 1979, foi a discussão ampla – com meia centena de líderes sindicais, uns 70 intelectuais e mais de cem parlamentares – sobre a natureza de um partido dos trabalhadores. Circulou o documento “PT, Saudações”. Mas FHC influiu para a decisão ser adiada: achou estreita a ideia de partido “clas-sista”. Quando afinal o PT foi criado, em 1980 (com reconhecimento oficial no início de 1982), FHC optou por ficar no PMDB, com gente que considerava conservadora, como Montoro – o mesmo que, ironicamente, acabaria por deixar o partido em 1988, juntamente com ele, para fundar o PSDB.

Pelo menos até 1994, FHC parecia considerar-se de esquerda. O New York Times optou pelo rótulo “centro-direitista” (às vezes, “direitista”). Foi cor-rigido uma vez pela embaixada brasileira, que invocou sua militância anterior na esquerda. No National Press Club, de Washington, ele próprio chegou a citar, com orgulho, o trabalho de jornalista no semanário esquerdista Opinião. Quando FHC e o PSDB assumiram a virada à direita? O plano original pode ter sido outro: ampliar o partido e livrar-se da companhia incômoda do PFL-DEM. O PSDB cresceu, tornou-se o maior no Congresso, mas não o suficiente para dispensar o aliado. Ao contrário, precisou de mais penduricalhos – para aprovar obscenidades como a emenda da reeleição.

Um colunista encantou-se com autoflagelações divertidas de FHC. Como esta, num jantar: “Tenho de sair agora. Não posso me atrasar para a vaia que vou receber amanhã em Recife”. E esta confissão: “O FH que vocês conhecem é melhor que o presidente. O presidente tem cada aliado! Como cidadão sou mais seletivo nas minhas companhias”. Eram mesmo más companhias. Ele e o PSDB fizeram opções. Colados ao PFL, viraram à direita, à sombra da moeda, contaminaram-se. Incapazes de mudar o aliado, foram mudados por ele.

Na eleição de 1998, acusaram Lula e o PT de tramar a desvalorização do real. Uma correção, necessária, acabou adiada por razões eleitorais, o que envenenou o segundo mandato. Em 2002, ficou complicado. Ante o crescimento do rival, com José Serra já candidato, o PSDB- abraçou a tática do medo ao começar a especulação contra a moeda. Excedeu-se. Por razões puramente eleitorais, alimentou o fantasma de que Lula seria a catástrofe. Mas ocorreu o inverso: a derrota tucana acalmou os mercados e expôs a leviandade dos governistas.

O partido dos “20 anos no poder” descobriu então duas coisas: 1. Sem o controle do governo não ganha eleição (até com ele pode perder). 2. Aliado ao PFL-DEM, perde a identidade. A vitória de 1994 tinha sido menos de FHC, substituído por Rubens Ricupero (e depois Ciro Gomes) do que do presidente Itamar, que sem ele lançou e defendeu o real. A Ricupero, por obra e graça da antena parabólica, ficamos devendo a confissão explícita sobre o arsenal tucano de truques sujos: “O que é bom a gente mostra; o que é ruim a gente esconde”. Faltou um grão-tucano confessar (pela antena) mais truques, como a apropriação do real ou as assinaturas de FHC (já candidato e fora do governo) no dinheiro novo.

Restaria ao PSDB, finda a eleição, a busca de nova identidade. Qual seria ela? A vocação governista é sugerida nas três primeiras letras da sigla. O velho PSD ganhava eleição até com derrota de seu candidato – caso de Cristiano Machado em 1950, quando o partido aderiu a Vargas por baixo do pano e enriqueceu o vocabulário político com o verbo “cristianizar”. A presença de Aécio Neves, neto e herdeiro político de ilustre raposa pes-sedista (Tancredo, último ministro da Justiça de Vargas), reforçaria a tese, não fosse sua habilidade política tão rejeitada no PSDB. Mas a cadeira garantida no Senado e a possível reeleição do sucessor à frente do governo de Minas o deixam com cacife – se é que vale a pena ficar e mudar a imagem do partido.

Capaz de milagres, Tancredo Neves perdeu uma eleição em 1960 para o governo de Minas e no ano seguinte governou o Brasil como “premier” – graças à sua solução para a crise da renúncia de Jânio. No tabuleiro de xadrez dos anos 1980, deixou o PMDB e criou o PP. Voltou atrás depois e viu cair-lhe no colo a eleição indireta, com a derrota das Diretas de Ulysses. O estilo Aécio, oposto a um PSDB udeenizado e golpista, privilegiaria acordo e não confronto. O avô sempre teve a UDN como adversária. Sofreu ao lado de Vargas o assalto final dos golpistas sem votos. A aposta tucana, menos nas urnas do que no golpe apoiado no poder da mídia e na ilusão do tapetão judiciário, pode recomendar rumo diferente a Aécio.

Difamação, preconceito, arrogância e ódio são ameaças a qualquer partido político. A falta de votos alimenta golpismo, denuncismo e escandalização. A UDN das vestais, dos bacharéis e dos intelectuais, antecedeu os tucanos. E antes dela houve os derrotados da República Velha, inventores das cartas falsas de Artur Bernardes em 1922, inspiração da Brandi de Lacerda. O PT enfrentou, em 2006, a denúncia do dossiê, que só na semana passada o STF afinal mandou arquivar – por absoluta falta de provas, apesar de bancado na arti-culação midiática Globo-Veja-Folha-Estadão para forçar o segundo turno. O repeteco do denuncismo em 2010 vem da mesma mídia tucana, buscando igual efeito.

Sob o impacto da morte de Vargas, a UDN golpista perseguiu JK e Jango até o golpe de 1964. Coube a Afonso Arinos de Melo Franco reconhecer, anos depois, o horror de seu partido às reformas: “Por trás da luta pela legalidade e contra Getúlio, de que fui porta-voz, havia, também, a recusa do partido, militarista e conservador, em aceitar a fatalidade de certas mudanças”. As suces-sivas derrotas nas urnas empurram o PSDB para rota semelhante. Uma diferença sutil em relação ao passado é que as vivandeiras que antes frequentavam os quartéis, hoje momentaneamente imunizados pela memória da ditadura militar, passaram a buscar os aquários nas redações. Sempre em nome da “ética”, da revolta de 1922 ao golpismo de 2010.

Uma oficialidade militar jovem, os tenentes, marcou todo o período anterior à Revolução de 1930. Entre eles, Eduardo Gomes, um dos 18 do Forte em 1922, candidato derrotado da UDN à Presidência em 1945 e 1950. Houve causas nobres, mas não a daquela revolta de 22 – mera resposta à “ofensa” de Bernardes ao marechal Hermes – em cartas falsas. Para os tenentes, o fato de presidir o Clube Militar fazia de Hermes, um ex-presidente da República, comandante do Exército. Mas o marechal foi preso e o clube, fechado. Não se sabe de inquietação militar no atual ano eleitoral, mas o clube continua o mesmo. Metralha -e-mails raivosos com a palavra de oficiais da reserva nostálgicos da ditadura.

“Talvez se queira udeenizar de vez, tentar chamar os militares”, escreveu Fábio Wanderley Reis, numa provocação ao partido sem identidade, às vésperas de nova derrota. Ele acha “marchas da família” difíceis hoje. Além disso, não se fabricam Vernon Walters como antigamente. Nem Lincoln Gordons. No elenco golpista, ficaram os sem-voto de sempre – e a mídia com o sonho do tapetão."

20 de setembro de 2010

Toma RBS



Pra quem não sabe, RBS é a Filial da Globo no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina.
Quer ver mais?

Essa porcaria passa na Hora do almoço!
Da pra acreditar?

15 de setembro de 2010

Fatos e versões, por Marcos Coimbra

Marcos Coimbra
Correio Braziliense - 15/09/2010

Nesse tipo de combate, não faz a menor diferença se algo é verdade ou não. Como é apenas uma guerra de versões, o que conta é falar alto

Nas eleições, como em tudo na vida, uma coisa são os fatos, outra as versões. E, nem sempre, aqueles são mais importantes. Na luta política, uma versão bem defendida vale mais que muitos fatos.

Uma vitória, por exemplo, pode ficar parecida a uma derrota, de tão diminuída e apequenada. Depende do que sobre ela se diz. Por maior e mais extraordinária que seja, os derrotados podem se vingar, ganhando a batalha das versões. Os vitoriosos, em vez de comemorar e receber elogios, ficam na posição de se explicar, se defender. Os perdedores lhes roubam a cena.

Neste fim de campanha eleitoral, à medida que nos aproximamos da data da eleição, a perspectiva de uma vitória de Dilma por larga margem só tem aumentado. Ao que tudo indica, ela vai conseguir o que Lula não conseguiu em nenhuma das eleições que disputou: ganhar no primeiro turno. A crer nos números das pesquisas, ela está prestes a alcançar, já em 3 de outubro, a votação que ele obteve apenas no segundo turno de 2006, quando chegou a 60% dos votos válidos. Não é nada, não é nada, Dilma tem tudo para se tornar, daqui a três semanas, a pessoa mais votada de nossa história.

Enquanto a eleição real avança, a guerra de narrativas sobre seu provável resultado está em curso. De um lado, a que é formulada pelas forças políticas e as correntes de opinião que não conseguiram apoio na sociedade para levar seu candidato à vitória. Do outro, a dos vencedores.

Paradoxalmente, são os prováveis derrotados na batalha eleitoral real que estão em vantagem na briga das versões. Vão perder, ao que parece, na contagem dos votos, mas têm, pelo menos por enquanto, o consolo de fazer que sua interpretação prevaleça.

É o oposto daquilo que o professor Edgar de Decca, da Unicamp, caracterizou há alguns anos. Escrevendo sobre a Revolução de 1930, ele mostrou que ela entrou para nossa história através da narrativa daqueles que a venceram. Tudo aquilo pelo qual se bateram os derrotados foi ignorado ou desconsiderado. Sobre aquele movimento, nossa historiografia só nos conta a versão dos vencedores. Ninguém mais se lembra do que queria o outro lado. Impôs-se a ele "o silêncio dos vencidos".

Em 2002, Lula e o PT venceram tanto a eleição quanto a batalha das versões. Quando o resultado objetivo foi proclamado, estava pronto um discurso: era "a vitória da esperança sobre o medo" e o Brasil podia sentir orgulho de sua própria coragem ao colocar na Presidência um metalúrgico. Ninguém deslegitimou o que as urnas disseram.

Se Lula começasse seu segundo mandato depois de uma apertada vitória sobre Alckmin no primeiro turno da eleição de 2006, seria complicado livrar-se da interpretação de que, depois do mensalão, havia diminuído de tamanho. Mas, no segundo turno, cresceu tanto que até seus detratores tiveram que reconhecer que nada indicava que fosse essa a realidade.

Agora, na véspera do que todos calculam ser a eleição de Dilma, está sendo elaborada uma versão que a reduz. Nela, a vitória é apresentada como um misto de manipulação ("usaram o Bolsa Família para comprar o voto dos miseráveis"), ilegalidade ("Lula passou por cima de nossa legislação eleitoral") e jogo sujo ("montaram um fábrica de dossiês para derrotar José Serra").

Nesse tipo de combate, não faz a menor diferença se algo é verdade ou não. Como é apenas uma guerra de versões, o que conta é falar alto. Quem tem meios de comunicação (jornais, revistas, emissoras de televisão) à disposição para propagandear seus argumentos, sempre leva vantagem. Pode até ganhar.

Que importa se apenas 20% do voto de Dilma vem de eleitores em cujo domicílio alguém recebe o benefício (ou seja, que ela tem votos suficientes para ganhar no primeiro turno ainda que esses fossem proibidos de votar)? Que importa se nossas leis são tão inadequadas que até uma passeata de humoristas a modifica? Que importa se nada do resultado da eleição pode ser debitado a qualquer dossiê, existente ou imaginado?

Mas fatos são sempre fatos. E as versões, por mais insistentes que sejam, não os modificam. Ganha-se no grito, mas perde-se no voto. Lá na frente, os fatos terminarão por se impor.

14 de setembro de 2010

13 de setembro de 2010

Jornal de Piracicaba

Para quem perdeu, os textos publicados no JP


dia 01/09 (A provocação)

"Democracia?

Desde que me lembro escuto suas críticas ao Lula. Críticas essas, movidas por uma raiva a qual nunca desejei compartilhar. Entretanto, Lula acabou sendo eleito presidente, logo depois de um certo sociólogo que terminou seu governo com uma péssima avaliação. Quase oito anos depois, Lula é aprovado pela maior parte da população, apresenta bons resultados na economia e talvez eleja sua ex-ministra como sucessora. Mas você, que sentia aversão ao Lula, agora dirige sua raiva a essa candidata, que como gosta de lembrar, seria “Terrorista”. Posso estar enganado, mas a história nos conta que foram os militares que acabaram com a democracia, sequestrando, estuprando e assassinando aqueles que discordavam. Dilma e tantos outros que resistiram ao golpe deveriam ser considerados heróis nacionais, não terroristas, a não ser que você prefira defender o regime militar. Nesse caso, talvez você estivesse passando sua manhã sem precisar ler essa carta, sem passar raiva com a aprovação popular do governo Lula, ou com as pesquisas que mostram Dilma liderando; no entanto, depois não me venha com aquele seu discurso hipócrita de Democracia. Para encerrar, por favor, vá tratar de sua raiva, não deve fazer bem à saúde."


Dia 04/09 (O radicalismo é do lado de lá)


"Resposta

Bastante curiosa a resposta do leitor Paulo Nogueira Liborio à minha carta publicada no dia 01/09. Nosso colega traça um perfil da minha pessoa com a mesma precisão com a qual um certo astrólogo garantia, ainda no início do ano, a vitória do candidato oposicionista em outubro. Da minha parte, pretendo me centralizar no debate das ideias, não na vida pessoal daqueles que discordam do que penso. Entretanto, seus argumentos são bastante compreensíveis e quem dera seu candidato apresentasse, na televisão, suas opiniões com tamanha clareza, em vez de alisar constantemente um presidente que tanto criticava. Minha carta se dirigia a pessoas que, como parece ser o caso, entendem que o presidente Lula só tem boa aprovação em grupos menos favorecidos, pobres e analfabetos, ou pior, aqueles que foram “vacinados” para defenderem desde cedo um certo partido. Assim, segundo esses termos, que não são somente de nosso colega, mas de muitos outros, Lula teria uma boa aprovação pela ignorância da maior parte da população. Claro, essa constatação nunca se transformou em alguma postura prática, como questionar o grupo político que comanda a educação pública de nosso estado há quase 16 anos, mas serve para justificar o porquê de a maior parte da população ter uma opinião diferente da sua. Parecem ignorar que o presidente é aprovado pela maioria em todos os grupos das pesquisas, ricos ou pobres. Pessoalmente, prefiro acreditar na inteligência do nosso povo, na real democracia, na qual o peso do voto do analfabeto vale sim o mesmo que o de um bacharel. De forma sincera, acredito que a população vote por questões mais simples, como a sensação de bem estar e otimismo que domina nosso país nos últimos anos. Por fim, é claro que tenho críticas ao governo, mas em outros termos, jamais baseadas no preconceito contra as camadas mais pobres da população, ou na raiva daqueles que pensam diferente. Foram a essas criticas que minha carta estava direcionada."