24 de dezembro de 2009

Fim de ano

Eu odeio fim de ano.

Deveria ser um momento de descansar, não fazer nada, não se preocupar, mas as pessoas não conseguem simplesmente não fazer nada, precisam sempre arrumar coisas, algo que mantenha todos ocupados.

Natal é uma festa para se passar com a família: se você tem, deve passar necessariamente com eles, mesmo que isso implique longas viagens; se não tem, os programas da TV não deixaram você esquecer disso.

Mas não é só isso, você precisa comprar presente (comprar comprar comprar comprar... as pessoas só pensam nisso). Ganhou presente de alguém e não comprou algo para ele? Que falta de educação!

E toda a preparação para a ceia ?(a janta do dia 24 não é uma janta qualquer, é uma ceia).

Se natal é para passar com a família, reveillon (não sei porque com 2 eles) é para farrear. Se tem namorada(o) deve passar com ela necessariamente, porque ano novo é hora de festa, quem estiver sozinho provavelmente vai aprontar, ou ficar muito triste por não conseguir.

Não quero entrar aqui num longo debate, mas não há nenhuma diferença racional entre a noite do dia 31/12 e as noites de todos os outros dias do ano, mas se você quiser ficar em casa dormindo, ninguém vai entender.

Entretanto, você poderia argumentar dizendo que o final do ano é o único momento em que as pessoas têm folga no trabalho e podem viajar.

Férias? Para mim só poderia ser chamado de férias um período de mais de 15 dias, em que você possa realmente desligar do trabalho. Passar 24/25 e 31/01 sem trabalhar, mas preocupados em arrumar tudo para a ceia ou parados em um congestionamento qualquer, isso não são férias.

Pra piorar, final de ano também é aquela época que você encontra aquele parente distante, aquela sogra, aquele cunhado...

Eu odeio fim de ano, mas o pior mesmo é o resto do ano, aquele período chato entre o carnaval e o natal.

E lembre-se, o que faz você engordar não é o que você come entre o natal e o ano novo, mas o que você come entre o ano novo e o natal.

22 de dezembro de 2009

Notas sobre o início do século XXI

Ao contrário do que disseram (e desejaram) certos pensadores, a história não acabou no fim do século XX.

Com a queda do Muro de Berlim e o fim da União Soviética, defensores da “ordem capitalista liberal” de todo o mundo poderiam dormir sossegados: Cuba não poderia se manter sem o apoio soviético; as passeatas estudantis logo derrubariam os comunistas chineses; e as novas democracias burguesas garantiriam a legitimidade e a perpetuação no poder das elites latino americanas.

No entanto, não podemos ignorar que, ao contrário do que imaginam esses pensadores, o mundo não é o “ideal liberal” de suas teses, a história é feita por homens, e esses não se enquadram plenamente em seus planos cartesianos.

Quando Hugo Chávez foi eleito pela primeira vez, em 1998, o continente ainda era comandado por líderes liberais, como FHC, no Brasil, e Menen, na Argentina; mas nos anos seguintes o panorama mudaria com a vitória de lideres populares, geralmente identificados com o ideal “nacional-desenvolvimentista, como Lula, Rafael Correa, Evo Morales, Tabaré Vázquez, Daniel Ortega e Nestor Kirchner. A história não havia acabado na América Latina.

Cuba comemorou 50 anos de sua Revolução em 2009, vinte anos após a queda do muro. A China, comandada pelo Partido Comunista, é o país que mais cresce no mundo, desafiando a hegemonia econômica americana.

A crise financeira de 2008, intensa especialmente nas regiões que mais incorporaram as idéias neoliberais, provou que o mercado não é a solução para todos os males, e que o capitalismo real ainda é à base da sociedade, ou seja, são as indústria, não os bancos, que impulsionam o sistema.

As novas experiências latino americanas e o desenvolvimento chinês destacam-se nesse início de século como objetos de estudo e atenção para aqueles que ainda buscam a mudança. Enquanto que o método marxista, tantas vezes “superado”, ainda parece o mais adequado para o entendimento de um mundo em constante transformação.

15 de dezembro de 2009

Desabafo do Aziz

Terra Magazine - O que o senhor está achando da 15ª Conferência das Partes da ONU em Copenhague, a COP-15?

Aziz Ab'Saber - Copenhague é uma farsa, quando eu vi que levaram cerca de 700 pessoas do Brasil pra lá eu disse "meu Deus", essas pessoas não terão um segundo pra falar, nem nada. Para mim, quando uma conferência passa de 1.000 pessoas na sala, elas ficam só ouvindo as metas e propostas dos outros. Não há espaço para debate ou questionamento. Além disso, os países levam metas irreais. Quando um país diz que vai reduzir 40%, por exemplo, não vai. Espertos são os países que levam metas baixinhas.

Terra Magazine - E quanto ao objetivo central da conferência: reduzir as emissões de CO2?

Aziz Ab'Saber - Não tenho a menor dúvida de que as causas não são tão perfeitas como eles pensam. Mas é fato que está havendo um aquecimento: na cidade de São Paulo, no século passado, tinha 18,6 graus Celsius de temperatura média na área central. Hoje, tem entre 20,8 e 21,2 graus. Se a gente fizer a somatória de todas as cidades em São Paulo e as contas do desmate ocorrido no nosso território, veremos que com esses desmates o sol passou a bater diretamente no chão da paisagem. Se esse aquecimento é em função do calor das grandes cidades... O clima urbano deve ser considerado, porque evidentemente esse clima tem certa projeção espacial, em algumas cidades mais em outras menos.

Há também que se considerar os efeitos das chamadas Células ou Ilhas de Calor, por que quando eu digo que a temperatura da cidade de São Paulo aumentou nesse século, eu não falo do estado como um todo, nem mesmo da cidade. A temperatura medida na área central é uma, nos Jardins é outra e, lá onde eu moro, perto de Cotia, é outra.

Terra Magazine - E os inúmeros alertas para as consequências do aquecimento: O aumento do nível do mar, a desertificação de florestas...

Aziz Ab'Saber - Mas essas observações de que o aquecimento global vai derrubar a Amazônia são terroristas! Há um aquecimento? Sim, seja ele mediano ou vagaroso, mas, quanto mais calor, a tendência, no caso da mata Atlântica e da Amazônia, é que elas cresçam e não que sejam reduzidas. Parece que essas pessoas, esses terroristas do clima nunca foram para o litoral! A gente que observa o céu vê que as nuvens estão subindo e sendo empurradas para a Serra do Mar, levando mais umidade para dentro do território. Esses cientistas alarmistas não observam nada, não têm interdisciplinaridade. Na média, está havendo aquecimento, mas as consequências desse aquecimento não são como eles prevêem. Mas essa é uma realidade não relacionada tão diretamente com a poluição atmosférica do globo e pode sofrer críticas sérias de pessoas com maior capacidade de observação.

Terra Magazine - Esse ano nós tivemos um clima problemático... Enchentes sérias em São Paulo, em Santa Catarina...

Aziz Ab'Saber - Esse ano é um ano anômalo, El Niño funcionou por causa do aquecimento do Pacífico equatorial, a umidade veio pra leste, bateu na Colômbia, lá houve problemas sérios, inundações. Aqui, essa massa de ar úmida entrou pela Amazônia e outras regiões sul-sudeste, e perturbou todo o sistema de massas de ar no Brasil. E continua, isso vem desde novembro do ano passado até hoje. Quando o pessoal diz: "Olha, está muito calor, o aquecimento!", eles não sabem as consequências das perturbações climáticas periódicas. E aí entra o problema da periodicidade climáticas que ninguém fala! Se não falarem disso lá em Copenhague, será uma tristeza para a climatologia. A periodicidade do El Niño é de 12 em 12, 13 em 13, ou 26 em 26 anos. Então ontem, no jornal, alguém disse: "O último ano que fez tanto calor foi em 1998". Há 11 anos, a medida do El Niño, então esse calor, essas chuvas, é um tempo diferenciado provocado pelo El Niño.

Terra Magazine - E o que aconteceu?

Aziz Ab'Saber - O que aconteceu naturalmente? Sem indústria, sem nada: Entre 23 mil e 12 mil anos A.P. (termo da Arqueologia, significa "Antes do Presente". Tendo por base o ano de 1950), houve um período muito crítico. O planeta passou por um período de glaciação. Devido ao congelamento de águas marinhas nos pólos Norte e Sul, o nível dos oceanos era cerca de 90 metros mais baixo do que o registrado hoje. A partir de 12 mil anos atrás, cessou o clima frio e começou a haver um aquecimento progressivo. Com isso, o nível do mar subiu, ele tinha descido 95 metros.

Terra Magazine - Isto, por conta do aquecimento...

Aziz Ab'Saber - Com o aquecimento, as grandes manchas florestais, que haviam se reduzido a refúgios, cresceram. A esse processo, que aconteceu principalmente na costa brasileira, eu dei o nome de "A Réplica do calor" e o período foi chamado de Optimum climático. Durante esse Optimum climático, o calor foi tão grande que o nível do mar subiu, embocando nas costas mundiais, formando baías, golfos, rias (canal ou braço do mar).

Terra Magazine - E o que aconteceu depois?

Aziz Ab'Saber - Houve mais chuvas, o que favoreceu a continuidade das florestas. O optimum é uma fase da história climática do mundo que vários cientistas e o próprio IPCC não consideram. Como naquele período, nem a mata Atlântica nem a Amazônia desapareceram do mapa, não é certo dizer que até 2100 a Amazônia vai virar cerrado.

Terra Magazine - Qual é o principal risco do aquecimento, então?

Aziz Ab'Saber - Conclusão: se está havendo certo nível de aquecimento que é antrópico (relativo à ação do homem), o que irá acontecer é certo degelo - que não é relacionado com as coisas que eles falam lá de supra atmosfera, o homem tem uma pequena parcela nisso. A conclusão que se chega é que haverá impactos nas cidades costeiras. Realmente é perigoso: há aquecimento, há degelo e o mar está subindo.

Terra Magazine - Mas esse aquecimento é controlável pelo homem? É possível impedi-lo?

Aziz Ab'Saber - Não é possível. O que é possível é que as cidades costeiras comecem já seus projetos para defender as ruas principais, mais rasas.

A redução da emissão de gás carbônico pelo homem vai amenizar um pouco esse processo, mas eles falam nisso sem lembrar a periodicidade, eu não desprezo o fato que as emissões de CO2 podem influir na climatologia do mundo, mas eu acho ruim que eles não conhecem dinâmica climática, não sabem nada do que já aconteceu no passado de modo natural e estão facilitando a vida dos que querem aproveitar-se da situação.

Terra Magazine - Quem são esses?

Aziz Ab'Saber - Por exemplo, o governador do Amazonas, Eduardo Braga (PMDB-AM), que disse recentemente: "Nossa região é uma vítima do aquecimento global, não a vilã". Eles pensam assim: "Já que o aquecimento global vai mesmo destruir a Amazônia, que deixe a floresta para nós". A senadora Kátia Abreu (DEM-TO), diz que agricultura nunca afetou em nada o meio ambiente... O problema é o mesmo, na Amazônia, a diminuição da mata que permaneceu quase intacta até 1950. Eu estive lá: Era tão difícil estudar lá, de tão ampla que era a mata, biodiversa e densa.

Terra Magazine - E Hoje?

Aziz Ab'Saber - Vai lá pra ver como está. O desmate da cidade é incrível! Tem uma coisa que eu não gosto de dizer para jornalista... Mas vou dizer: Todo espaço virou mercadoria! Nos arredores da cidade, especulação. Não são produzidas coisas economicamente boas para o Estado e para o País. O espaço é todo deles!

Entrevista concedida à Terra Magazine

6 de dezembro de 2009

Mengo 2009




Melhor do Brasileirão:


Piores:

Palmeiras, torcida do Coritiba e diretoria do Grêmio





Libertadores ano que vem:
Flamengo, Internacional, São Paulo, Cruzeiro e Ronaldo!

2 de dezembro de 2009

Haja fedentina

Abundacanalha


A Folha desceu pelo esgoto mais pútrido. A repercussão que pretendia ficou restrita aos recantos malcheirosos, onde permanentemente exalam os odores mais pestilentos. Fiquei com uma sensação de déjà vu, lembrando alguns dos momentos mais horrendos da ditadura, quando jovens torturados iam a TV falar de seus arrependimentos. Não fui o único com tal associação. César Benjamim não é tão jovem, e se assim reagiu agora foi tardiamente. Seu artigo é de uma inequívoca construção para criar um fato político, a favor de seus antigos inimigos de classe. A Folha o sabia, esperava por ele. Baixaram todos pela cloaca, em um dos piores momentos do jornalismo.


Apesar de todo o esforço midiático para transformar a corrupção no governo Arruda em algo conhecido − falam em caixa 2, mensalão −, o que se vê é a mais explícita roubalheira, como nunca antes vista, em imagem, som e movimento. O tal Durval Barbosa filmou o suficiente para mais de um longa metragem de patifarias. Os momentos são os mais variados e estarrecedores, mas o vídeo divulgado hoje com a “oração da propina” ganha qualquer concurso de documentarista. Que gente é essa?



E Arruda hoje falou grosso com o DEM. Ameaçou que se radicalizarem vai radicalizar também. Recado dado com efeito imediato: a bancada demo recuou e já se dividiu. Voltarão a conversar amanhã. Parece que se abrir a Caixa de Pandora não vai sobrar ninguém.


Piada pronta não tem graça. Mas essa história de panetones pode explicar a forma física de alguns políticos.


E aliás, pensando na proporção do escândalo, vale lembrar da “gentileza” do deputado Vic Pires Franco do DEM em patrocinar uma tapiocada na CPI dos Cartões Corporativos. Foi festa para as fotos. Quando haverá um novo festival gastronômico?


E com tanto mau cheiro, a mídia “esqueceu” de lembrar que o novo escândalo no Detran em São Paulo é de mais um governo tucano, há 16 anos dando seu “choque de gestão”.


São muito duras as pedras no caminho de Serra. Apesar de seu esforço de campanha para reverter o quadro de declínio nas pesquisas, com mais uma viagem ao Nordeste, suas várias horas em entrevistas em programas populares de TV, a ladeira ficou mais íngreme e ensaboada. Arruda seria seu candidato à vice em um dos cenários mais prováveis. Aposto que o vampiro continuará assustando as criancinhas até quando puder, mas já jogou a toalha.

25 de novembro de 2009

Lula e o presidente do Irã

Íntegra do discurso do presidente Lula (clique aqui)

Eu pretendia comentar, mas já achei um bom texto:

Da Folha

Marco Aurélio Garcia: A paz desejável – 26/11/2009

Quem governa um Brasil, ou quer governar, sabe que há temas de política externa que não podem ser objeto de oportunismo eleitoral

NO ESPAÇO de duas semanas, o Brasil recebeu as visitas dos presidentes de Israel, da Autoridade Palestina e do Irã. Não é ocasional a presença em nosso país de três atores-chave do conflito que há décadas infelicita o Oriente Médio.

Os três governantes -cada um a sua maneira- viram na diplomacia brasileira, especialmente no presidente Lula, uma possibilidade de, por meio do diálogo, avançar no caminho de uma solução negociada para um conflito que transcende a dimensão puramente regional. Ele ameaça a paz no mundo.

Essa é também a percepção de muitos líderes mundiais. O presidente norte-americano, Barack Obama, nas conversações mantidas com Lula e em recentíssima carta a ele enviada, reitera o papel que o Brasil poderá ter na busca de uma solução de paz para o Oriente Médio -aí incluindo suas conversas com o presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad.

Mas essa não é a percepção de quem defende uma política externa minimalista, para não dizer subserviente. Nela, as grandes potências se ocupariam dos grandes temas enquanto os demais países se ocupariam do resto. Assuntos como esse não poderiam ser tratados pelos “vira-latas” aos quais se referia Nelson Rodrigues ao analisar o comportamento de certos brasileiros, vítimas de complexo de inferioridade.

Quando o governo organizou a cúpula América do Sul-Países Árabes em 2005, essas mesmas vozes se fizeram ouvir. Para que essa reunião? Haviam criticado, em 2003, a viagem de Lula ao Oriente Médio, aí incluindo a Líbia. As críticas sumiram quando Tony Blair [ex-premiê britânico], José María Aznar [ex-premiê espanhol] e Silvio Berlusconi [premiê italiano] também fizeram o caminho de Trípoli semanas após.

Durante a crise de Gaza, no começo deste ano, o presidente Lula determinou que o chanceler Celso Amorim visitasse o Oriente Médio e se entrevistasse com os líderes políticos da região em busca de alternativas. Houve quem buscasse ridicularizar a missão, qualificando-a de megalômana.

A persistência do impasse na região, seu potencial explosivo e a pertinência de nossas propostas mostraram o acerto daquela iniciativa.

A tese defendida pelo presidente Lula era (e é) a de que havia necessidade de “arejar” as negociações no Oriente Médio. A inclusão de novos interlocutores poderia dar aos entendimentos uma credibilidade hoje inexistente.

Outros países, como a África do Sul, a Índia e o próprio Brasil -para só citar três que não ocupam lugares permanentes no Conselho de Segurança- podem contribuir para lograr o que até agora os interlocutores de sempre, sozinhos, não conseguiram.

O Brasil tem posições claras. Defende a existência de dois Estados -o Palestino e Israel- viáveis e seguros, com base nas fronteiras de 1967.

Coincide com Shimon Peres [presidente de Israel] e Mahmoud Abbas [presidente da Autoridade Nacional Palestina] sobre a necessidade de trocar terra por paz.

Nossa diplomacia está segura de que a imensa maioria das populações afetadas pelo conflito -judeus e palestinos- anseiam pela paz.

O Brasil condena todos os que se opõem à existência do Estado de Israel. Repudia todas as formas de terrorismo. Insta Tel Aviv a suspender novos assentamentos e construções nos território ocupados e a acatar as resoluções das Nações Unidas.

Metaforicamente, o presidente Lula tem citado a boa convivência de árabes e judeus em nosso país como um paradigma a ser seguido mundo afora.
Quem governa um país como o Brasil -ou quem quer governar- sabe, ou deveria saber, que os temas de política externa, sobretudo quando envolvem questões maiores, como a paz no mundo, não podem ser objeto de oportunismo eleitoral.

O diálogo que o governo brasileiro tem mantido com as comunidades árabe e israelita em nosso país e na América Latina é transparente e não deixa dúvidas sobre nossas posições, seja sobre temas de natureza histórica -como o Holocausto-, seja sobre questões mais recentes, elas também dolorosas.

Essa cristalina transparência difere das águas turvas dentro das quais pescadores lançam suas iscas. Mais para atrair incautos eleitores do que para oferecer alternativas.

MARCO AURÉLIO GARCIA, 68, é assessor especial de Política Externa do presidente da República e professor licenciado do Departamento de História da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas). Foi secretário de Cultura do município de São Paulo (gestão Marta Suplicy).

23 de novembro de 2009

Adeus, FHC

Do Blog: Brasília, Eu vi
de Leandro Fortes





Adeus também foi feito pra se dizer

Fernando Henrique Cardoso foi um presidente da República limítrofe, transformado, quase sem luta, em uma marionete das elites mais violentas e atrasadas do país. Era uma vistosa autoridade entronizada no Palácio do Planalto, cheia de diplomas e títulos honoris causa, mas condenada a ser puxada nos arreios por Antonio Carlos Magalhães e aquela sua entourage sinistra, cruel e sorridente, colocada, bem colocada, nas engrenagens do Estado. Eleito nas asas do Plano Real – idealizado, elaborado e colocado em prática pelo presidente Itamar Franco –, FHC notabilizou-se, no fim das contas, por ter sido co-partícipe do desmonte aleatório e irrecuperável desse mesmo Estado brasileiro, ao qual tratou com desprezo intelectual, para não dizer vilania, a julgá-lo um empecilho aos planos da Nova Ordem, expedida pelos americanos, os patrões de sempre.

Em nome de uma política nebulosa emanada do chamado Consenso de Washington, mas genericamente classificada, simplesmente, de “privatização”, Fernando Henrique promoveu uma ocupação privada no Estado, a tirar do estômago do doente o alimento que ainda lhe restava, em nome de uma eficiência a ser distribuída em enormes lucros, aos quais, por motivos óbvios, o eleitor nunca tem acesso.

Das eleições de 1994 surgiu esse esboço de FHC que ainda vemos no noticiário, um antípoda do mítico “príncipe dos sociólogos” brotado de um ninho de oposição que prometia, para o futuro do Brasil, a voz de um homem formado na adversidade do AI-5 e de outras coturnadas de então. Sobrou-nos, porém, o homem que escolheu o PFL na hora de governar, sigla a quem recorreu, no velho estilo de república de bananas, para controlar a agenda do Congresso Nacional, ora com ACM, no Senado, ora com Luís Eduardo Magalhães, o filho do coronel, na Câmara dos Deputados. Dessa tristeza política resultou um processo de reeleição açodado e oportunista, gerido na bacia das almas dos votos comprados e sustentado numa fraude cambial que resultou na falência do País e no retorno humilhante ao patíbulo do FMI.

Isso tudo já seria um legado e tanto, mas FHC ainda nos fez o favor de, antes de ir embora, designar Gilmar Mendes para o Supremo Tribunal Federal, o que, nas atuais circunstâncias, dispensa qualquer comentário.

Em 1994, rodei uns bons rincões do Brasil atrás do candidato Fernando Henrique, como repórter do Jornal do Brasil. Lembro de ver FHC inaugurando uma bica (isso mesmo, uma bica!) de água em Canudos, na Bahia, ao lado de ACM, por quem tinha os braços levantados para o alto, a saudar a miséria, literalmente, pelas mãos daquele que se sagrou como mestre em perpetuá-la. Numa tarde sufocante, durante uma visita ao sertão pernambucano, ouvi FHC contar a uma platéia de camponeses, que, por causa da ditadura militar, havia sido expulso da USP e, assim, perdido a cátedra. Falou isso para um grupo de agricultores pobres, ignorantes e estupefatos, empurrados pelas lideranças pefelistas locais a um galpão a servir de tribuna ao grande sociólogo do Plano Real. Uns riram, outros se entreolharam, eu gargalhei: “perder a cátedra”, naquele momento, diante daquela gente simples, soou como uma espécie de abuso sexual recorrente nas cadeias brasileiras. Mas FHC não falava para aquela gente, mas para quem se supunha dono dela.

Hoje, FHC virou uma espécie de ressentido profissional, a destilar o fel da inveja que tem do presidente Lula, já sem nenhum pudor, em entrevistas e artigos de jornal, justamente onde ainda encontra gente disposta a lhe dar espaço e ouvidos. Como em 1998, às vésperas da reeleição, quando foi flagrado em um grampo ilegal feito nos telefones do BNDES. Empavonado, comentava, em tom de galhofa, com o ex-ministro Luiz Carlos Mendonça de Barros, das Comunicações, da subserviência da mídia que o apoiava acriticamente, em meio a turbilhão de escândalos que se ensaiava durante as privatizações de então:

Mendonça de Barros – A imprensa está muito favorável com editoriais.

FHC – Está demais, né? Estão exagerando, até!

A mesma mídia, capitaneada por um colunismo de viúvas, continua favorável a FHC. Exagerando, até. A diferença é que essa mesma mídia – e, em certos casos, os mesmos colunistas – não tem mais relevância alguma.

Resta-nos este enredo de ópera-bufa no qual, no fim do último ato, o príncipe caído reconhece a existência do filho bastardo, 18 anos depois de tê-lo mandado ao desterro, no bucho da mãe, com a ajuda e a cumplicidade de uma emissora de tevê concessionária do Estado – de quem, portanto, passou dois mandatos presidenciais como refém e serviçal.

Agora, às portas do esquecimento, escondido no quarto dos fundos pelos tucanos, como um parente esclerosado de quem a família passou do orgulho à vergonha, FHC decidiu recorrer à maconha.

A meu ver, um pouco tarde demais.

20 de novembro de 2009

E dormem tranquilos...

Ontem a noite, durante seu especial sobre Cazuza, a Globo simplesmente ignorou o último disco lançado em vida pelo artista.


Não apareceu nem nos créditos finais


Estranho não?


Burguesia

A burguesia fede
A burguesia quer ficar rica
Enquanto houver burguesia
Não vai haver poesia

A burguesia não tem charme nem é discreta
Com suas perucas de cabelos de boneca
A burguesia quer ser sócia do Country
A burguesia quer ir a New York fazer compras

Pobre de mim que vim do seio da burguesia
Sou rico mas não sou mesquinho
Eu também cheiro mal
Eu também cheiro mal

A burguesia tá acabando com a Barra
Afunda barcos cheios de crianças
E dormem tranqüilos
E dormem tranqüilos

Os guardanapos estão sempre limpos
As empregadas, uniformizadas
São caboclos querendo ser ingleses
São caboclos querendo ser ingleses

A burguesia fede
A burguesia quer ficar rica
Enquanto houver burguesia
Não vai haver poesia

A burguesia não repara na dor
Da vendedora de chicletes
A burguesia só olha pra si
A burguesia só olha pra si
A burguesia é a direita, é a guerra

A burguesia fede
A burguesia quer ficar rica
Enquanto houver burguesia
Não vai haver poesia

As pessoas vão ver que estão sendo roubadas
Vai haver uma revolução
Ao contrário da de 64
O Brasil é medroso
Vamos pegar o dinheiro roubado da burguesia
Vamos pra rua
Vamos pra rua
Vamos pra rua
Vamos pra rua
Pra rua, pra rua

Vamos acabar com a burguesia
Vamos dinamitar a burguesia
Vamos pôr a burguesia na cadeia
Numa fazenda de trabalhos forçados
Eu sou burguês, mas eu sou artista
Estou do lado do povo, do povo

A burguesia fede - fede, fede, fede
A burguesia quer ficar rica
Enquanto houver burguesia
Não vai haver poesia

Porcos num chiqueiro
São mais dignos que um burguês
Mas também existe o bom burguês
Que vive do seu trabalho honestamente
Mas este quer construir um país
E não abandoná-lo com uma pasta de dólares
O bom burguês é como o operário
É o médico que cobra menos pra quem não tem
E se interessa por seu povo
Em seres humanos vivendo como bichos
Tentando te enforcar na janela do carro
No sinal, no sinal
No sinal, no sinal

A burguesia fede
A burguesia quer ficar rica
Enquanto houver burguesia
Não vai haver poesia

18 de novembro de 2009

Blecaute

por Luiz Pinguelli Rosa, na Folha de S. Paulo, em 13/11/2009

Ainda pairam algumas dúvidas sobre o blecaute que atingiu vários Estados brasileiros, mais drasticamente São Paulo e Rio de Janeiro.

É preciso esclarecer, porém, que o ocorrido na terça-feira foi totalmente diferente do chamado apagão de 2001, quando o governo decretou um racionamento obrigatório de energia elétrica para toda a população, sob pena de desligamento de residência ou empresa por alguns dias caso não fosse cumprido o corte no consumo.

Naquela ocasião, havia falta de energia para atender a demanda, pois esta vinha crescendo mais rapidamente do que a capacidade instalada no país. Enquanto houve chuvas suficientes para a geração hidrelétrica, o sistema funcionou e o problema foi adiado. Quando as chuvas se reduziram, os reservatórios estavam vazios e faltou energia no sistema.

Alertei o então presidente Fernando Henrique Cardoso por uma carta, como coordenador do Instituto Virtual da Coppe/UFRJ, e cheguei a conversar com José Jorge, à época ministro de Minas e Energia.

Naquele caso, houve falta de investimento. As estatais elétricas, a começar pela Eletrobrás, reduziram seus investimentos, pois aguardavam a privatização. Já as empresas privatizadas, a maioria delas distribuidoras nos Estados, pouco investiram.

O problema da última terça-feira tem mais semelhança com o blecaute de 1999, que também desligou São Paulo e muitas outras cidades, algumas por muito mais horas do que o recente incidente. Aquele problema se originou em uma subestação de transformadores em Bauru (SP), causado por uma sobretensão elétrica supostamente devida a um raio que atingiu a linha de transmissão a muitos quilômetros de distância e se propagou até a subestação -- que deveria estar protegida. Como não estava, o sistema falhou.

O que ocorreu nesta semana foi a interrupção de três linhas que trazem a energia de Itaipu ao Sudeste, acarretando o desligamento de todas as turbinas da usina e causando o desligamento de várias outras linhas em cascata. Daí a propagação do blecaute ter atingido tantas cidades. O efeito é como uma série de pedras de dominó que caem uma por cima da outra.

O desligamento das linhas em sobretensão é correto, pois as protege e evita danos a equipamentos e perdas de transformadores por sobrecarga. Portanto, o desligamento automático das linhas de transmissão é inevitável em certos casos críticos como o de agora. Os efeitos seriam muito piores se o desligamento não ocorresse.

No entanto, algumas questões ainda precisam ser respondias. A primeira delas é o que causou a sobrecarga. Uma hipótese aventada é que raios tenham causado tudo isso. Três linhas sofreram colapso, embora todas sejam protegidas por para-raios, que são fios paralelos ao longo das linhas.

Talvez uma delas tenha sido atingida, a sobretensão tenha se propagado indevidamente para dentro da subestação em que as outras também tenham sido afetadas. É uma hipótese.

Como evitar a repetição de blecautes? Não há sistema tecnológico com 0% de falhas. O que pode ser feito é minimizá-las, tanto na frequência de ocorrências desse tipo como na gravidade delas.

Eliminar o uso da transmissão de longa distância seria uma bobagem, pois o Brasil é uma Arábia Saudita hidrelétrica. Integrando em um longo tempo a energia que se pode obter do potencial hidrelétrico brasileiro, o resultado é maior que a energia do petróleo do pré-sal. O sistema interligado é inteligente, pois otimiza o uso da geração hidrelétrica, complementada por outras fontes.

Uma proposta que tem sido recentemente estudada em todo o mundo é o de redes elétricas inteligentes, ou seja, fazer uma gestão melhor das redes para diminuir incertezas, evitar problemas de pico de tensão e falhas, com um sistema de controle ponto a ponto ao longo das redes.

Nos Estados Unidos, Nova York sofreu um blecaute em 2003 que, sob certos aspectos, foi mais grave.

Há poucos meses, o professor Pravin Varaiya, da Universidade da Califórnia, em Berkeley, esteve no Programa de Planejamento Energético da Coppe para participar de um seminário sobre essas redes inteligentes de energia elétrica. Mas os estudos ainda precisam avançar, inclusive para prevenir vulnerabilidades como o acesso indevido à rede por hackers.

O que se mostrou vulnerável aqui no nosso caso foi a enorme extensão da área atingida e a grande população que sofreu as consequências, pois não se conseguiu ilhar a propagação do efeito para circunscrever suas consequências a uma região menor. É necessário apurar os fatos para corrigir as falhas e aperfeiçoar o sistema.

* Luiz Pinguelli Rosa , 67, físico, é diretor da Coppe-UFRJ (Coordenação dos Programas de Pós-Graduação em Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro) e secretário do Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas. Foi presidente da Eletrobrás (2003-04).

4 de novembro de 2009

Sobre morar em apartamento

" Morar em apartamento por The Classe Média Way of Life:

O modus vivendi de nossos herois médio-classistas, cuja característica mestra consiste no "morar em apartamento", contribuiu para a instituição de uma nova realidade urbana não apenas pela geração dos "filhos de apartamento". Uma outra esquisitice daí proveninente também mudaria de figura as nossas cidades: os empreendimentos imobiliários.

A evolução do "morar em apartamento" causou profundas mudanças na maneira como se constroi uma cidade. Se antigamente um edifício era projetado e implantado por um arquiteto, sobre uma malha urbana determinada por um urbanista, e colocado de pé por um engenheiro, atualmente a Classe Média só compra imóveis projetados por publicitários. O publicitário é uma figura de extrema relevância para a Classe. É algo como um guru. Sua função extrapola a mera tradução dos valores do médio-classista e sua consequente materialização em forma de produto, para na verdade formatar a preferência deste cidadão e impor-lhe tudo aquilo que ele deve gostar. Se você quer ser um médio-classista normal, terá que gostar dessa situação. Do contrário será convencido por um publicitário.

Com a cidade sendo construída pelos empreendimentos do Depto. de Marketing, o desenho urbano e as relações sociais vão tomando a cara da Classe Média. Todo prédio tem um nome, que quando não é o nome de um médio-classista falecido (com sobrenome italiano), é um estrangeirismo. Os idiomas preferenciais são o inglês, o francês e o próprio italiano. As exceções ocorrem quando o marqueteiro resolve batizar o prédio com o nome de um lugar que ele visitou. Publicitários só visitam o estrangeiro.

Tendo este meio de vida se instaurado e solidificado no seio da Classe Média o "filho de apartamento" passou a ser considerado uma espécie de instituição, de forma que os empreendimentos agora tentam redefinir as condições. Médio-classistas , hoje em dia, podem escolher morar em um empreendimento chamado Château De Douceur, onde estão disponíveis nas áreas comuns o "Espaço Kids", para os pequenos brincarem o dia inteiro, o "Espaço Teen", para os adolescentes, o "Garage Band", para os filhos terem o direito de serem rebeldes enquanto a empregada leva suco e biscoitos. Também há o "Woman's Space", para ficar vazio enquanto você frequenta o salão do momento. O "Espaço Gourmet" para dizer aos outros que você é refinado e cozinha por prazer, enquanto a empregada deixa tudo pré-pronto em segredo, e ainda lava as panelas. O "Fitness Center" para ficar vazio enquanto você paga uma academia perto do trabalho, e muitos outras salas com nomes estrangeiros. O objetivo disto, além de encarecer absurdamente o condomínio, é fornecer argumentos ao publicitário para que o tamanho dos apartamentos seja cada vez mais diminuto, no pressuposto de que ninguém ficará lá dentro com tantas atividades dando sopa no pilotis.

Por fim, neste novo jeito de morar, uma coisa é imprescindível: grades. O mundo lá fora é mau. A gente de bem está do lado de dentro. Por isso, no espaço urbano todas as características da Classe Média convergem para um único organismo, que é o "lado de dentro". Médio-classista evita sair na rua. Rua é pra pobre, é onde passa ônibus e onde estão os assaltantes. O médio-classista anda de garagem em garagem, da garagem de casa para a garagem do shopping, do trabalho, da academia. Sem contato nem com o ar do lado de fora. Filho de apartamento tem alergia a fumaça, poeira, plantas de verdade e pobre. Assim, a cidade da Classe Média é hoje um núcleo fortificado, à espera de um ataque bárbaro a qualquer momento. Para isso, métodos de segurança dos mais modernos foram desenvolvidos, como lanças e homens armados. Dizem que em São Paulo uma Construtora aguarda autorização do Ibama para construir um sistema de fosso com jacarés. Será o primeiro Eco-Security-Residence do Brasil. "

Me lembrou uma das minhas músicas favoritas


3 de novembro de 2009

Wii !



Por que os japoneses da Nintendo são mais espertos que os outros?

29 de outubro de 2009

Cutrale

Cutrale, símbolo do agronegócio internacionalizado

23/10/2009

Ariovaldo Umbelino

O episodio da ocupação pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) de uma das fazendas “invadidas” pela empresa Cutrale, de terras públicas da União na região de Iaras (SP), suscitou todo tipo de especulações na imprensa e, sobretudo, motivou os parlamentares ruralistas a pedirem uma nova CPI do MST e da reforma agrária.

Sobre o caso, ficou evidente a manipulação da mídia ao veicular a cena da derrubada de pés de laranja pelas famílias. Reprisado insistentemente em todos os programas, por todos os canais de televisão, foi o suficiente para demonizar todas aquelas pobres famílias que estão há mais de cinco anos debaixo de lonas pretas esperando o direito de trabalhar na terra.

Vandalismo!
A chamada “grande” imprensa não quis continuar pesquisando as outras denúncias de depredação de máquinas e “roubos” de casas de empregados, pois ficou evidente o circo armado pelo serviço de inteligência da Polícia Militar (PM), em conluio com a empresa, para criar um clima desfavorável às famílias. Logo, todas as autoridades, colunistas, políticos e assemelhados foram para a mídia esbravejar: vandalismo, vandalismo! Sem pensar e se perguntar quem teria feito de fato aquilo.

As famílias negam que tenham furtado qualquer objeto e destruído tratores. Aliás, para destruir tratores, precisariam, convenhamos, de uma certa dose de força bruta. E mais. Por que não se fez uma investigação? Uma simples perícia iria identificar que aqueles tratores estavam desmontados há muito tempo pela oficina de reparos da empresa, existente na fazenda.

Mas tudo isso é manobra dispersiva. Primeiro, para esconder que na região há 200 mil hectares de terras da União que vêm sendo sistematicamente griladas. E griladas por empresas cujos donos circulam por altas rodas da socialite paulistana. Mas mesmo assim o Incra já recuperou mais de 20 mil hectares que hoje assentam famílias de trabalhadores. Segundo, para esconder que a Cutrale “comprou” a área há apenas 5 anos, sabendo que não havia titulação, que havia um processo na Justiça por reintegração de posse pelo Incra. Por que então a Cutrale apostou em comprar terras baratas e griladas e enchê-las de laranja? Graças a seu poder de influência na sociedade brasileira e paulista.

A Cutrale é o símbolo do processo de concentração de terras, produção e capital ensejado por esse modelo de subordinação da agricultura brasileira aos interesses do capital internacional.

Omissão
Ninguém da “grande” imprensa noticiou que a Cutrale possui nada menos do que 30 fazendas em São Paulo e Minas Gerais, totalizando 53.207 hectares. E que, destes, seis fazendas com 8.011 hectares são classificadas pelo Incra, no recente cadastro de 2003, como improdutivas; portanto, passíveis de desapropriação. Entre as 30 fazendas não consta a área grilada de Iaras, pois não é de sua propriedade (veja tabela abaixo).

Uma colunista teve coragem de noticiar os vínculos partidários e as polpudas verbas gastas pela empresa nas campanhas eleitorais, em apoio a todos os partidos.

O fato é que a Cutrale é símbolo desse modelo de agronegócio subordinado ao capital internacional. Uma empresa de origem familiar do interior de São Paulo se vincula ao mercado externo, se associa com a Coca-Cola e passa a controlar, em poucos anos, a maior parte do mercado de laranja do Brasil e 30% de todo o mercado mundial de sucos. Hoje, cerca de 90% do suco produzido no Brasil é exportado.

Monopólio
Em poucos anos, o setor se transformou, de muitas e médias agroindústrias e de milhares de pequenos e médios produtores de laranja, num setor altamente oligopolizado. Hoje são apenas quatro grupos que controlam toda laranja: Cutrale (mais ou menos 60%); Citrosuco; Louis Dreifus Commodities – LDC (francesa); e Citrovita, da Votorantim.

A Cutrale tem esse poder todo porque possui uma empresa associada (joint venture) à Coca-Cola mundial nos EUA, de quem é fornecedora exclusiva em escala mundial. Por isso sua condição de empresa “Ltda.”, pois já é parte (menor) do monopólio mundial da Coca-Cola.
Numa reportagem de 2003, a insuspeita revista Veja denunciou a empresa Cutrale de ter subsidiária nas ilhas Cayman, como forma de aumentar seus lucros, ou quem sabe de evasão fiscal... e saiba Deus mais o quê.

Exploração
Essas empresas passaram a comprar terras e assim garantem uma base da produção de laranja suficiente para impor preços e condições draconianas aos pequenos e médios agricultores que antes produziam laranja para um mercado concorrencial. Os trabalhadores dos laranjais são superexplorados com salários ridículos, pagos por produção, sem nenhum direito trabalhista.

O resultado de todo esse processo foi que milhares de pequenos e médios agricultores tiveram que abandonar a produção de laranja. Entre 1996 e 2006, foram destruídos, segundo o Censo Agropecuário do IBGE, somente em São Paulo, nada menos do que 280 mil hectares de laranjais.

Mas a Globo não fez nenhuma reportagem. Nem o serviço de inteligência da PM de São Paulo se preocupou em filmar porque os pequenos e médios agricultores estavam destruindo seus laranjais!

Os parlamentares ruralistas realmente não têm consciência de sua classe – da burguesia rural. Em vez de defendê-la, ficam sempre puxando o saco da burguesia internacional. Razão tinha mesmo o nosso saudoso Florestan Fernandes: faltou-nos uma revolução burguesa nesse país, que pelo menos lhe desse sentido de classe e consciência de nação.


Ariovaldo Umbelino de Oliveira é doutor em Geografia, professor da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas – Departamento de Geografia Humana – da Universidade de São Paulo (USP). É estudioso dos movimentos sociais do campo e da agricultura brasileira e autor de vários livros.

22 de outubro de 2009

Manipulação


2 exemplos:

1) Entrevista de Lula na Folha:

FOLHA – A imprensa não tem de ser fiscal do poder?

LULA – Para ser fiscal, tem o Tribunal de Contas da União, a Corregedoria-Geral da República, tem um monte de coisas. A imprensa tem de ser o grande órgão informador da opinião pública. Essa informação pode ser de elogios, de denúncias sobre o governo, de outros assuntos. A única coisa que peço a Deus é que a imprensa informe da maneira mais isenta possível, e as posições políticas sejam colocadas nos editoriais.


Clóvis Rossi “análisa” :

Tudo somado, dá para entender por que o presidente prefere que a imprensa não fiscalize o poder, apenas informe. Lula e seu partido trocaram a fiscalização do tempo de oposição pelo gozo do poder uma vez nele instalados.

2) Associação Paulista de Jornais



Comentários:

Primeiro caso:
Lula disse que a imprensa deve informar, dar a notícia, e que as opiniões devem aparecer nos editorias.
Ou seja, não apresentar o fato segundo a opinião do jornalista.
Mas ele deixa bem claro que a mídia pode ter opinião, mas que essa não deve estar mascarada.

O "colunista" deturpou a fala de Lula.

Segundo caso:
Exemplo claro do que Lula disse na entrevista à Folha.
Qual é a notícia? Lula defende transposição do Rio São Francisco
Fala do Lula: "Me sinto moralmente comprometido com a transposição. Essa obra é uma necessidade"
Mas qual a chamada da matéria?
" Lula está 'moralmente comprometido'

Pra completar, a matéria narra a viagem como uma "caravana eleitoral", onde Lula faria campanha para os candidatos Dilma (Ministra da Casa Civíl) e Ciro (ex-Ministro da Integração Nacional). Só faltou dizer que Aécio Neves (PSDB) também estava presente.

21 de outubro de 2009

Conjugando


Eu cavo, tu cavas, ele cava, nós cavamos, vós cavais, eles cavam...
Não é bonito, mas é profundo.

20 de outubro de 2009

Como o PSDB terceirizou a política

do blog do Luis Nassif

"Continua a piada pronta.

Segundo matéria da Folha, a Casa Civil informa que na hora da tal reunião com Lina Vieira ela, Dilma, estava com o presidente da República e não participou de reunião alguma. Lina diz, em depoimento no Senado, que não houve reunião em 9 de outubro porque estava em São Paulo. Ambas – casa Civil e Lina (no Senado) informam que houve reunião na Casa Civil para tratar do tal encontro dos CEOs.

E, depois de pesar todos os elementos, o ponderado senador Arthur Virgílio encerra o samba do crioulo doido com uma frase lapidar:

“Devido ao surgimento de novas e irrefutáveis provas é imprescindível a presença da ex-secretária”, disse o líder do partido, Arthur Virgílio (AM).

Desde que a agenda política passou a ser comandada pelas manchetes do circuito Folha-Veja-Globo, a oposição só afunda. Criou-se um mundo virtual totalmente dissociado da realidade, auto-referenciado, sem auto-crítica, com esse nível de “provas novas e irrefutáveis”.

Esse fenômeno ainda há de ser estudado e, no futuro, considerado o maior engano de comunicação já produzido por uma liderança política no país: José Serra, o homem que terceirizou a estratégia política para os jornais.

O que esteve por trás dessa imprudência é o seguinte.

No mano-a-mano, a oposição perde a batalha da comunicação para Lula. Decide, então, curvar-se a essa realidade, deixar de lado o “feeling” político próprio – por não confiar nele – e terceirizar a estratégia comunicação para quem presumivelmente entende e comanda o processo: a mídia. Assim, a parte mais sensível de uma campanha política, a formação da imagem e das ideias, foi substituída pelo exercício fácil de atender às demandas da mídia e deixar o trabalho por sua conta e risco. Só não entendeu que a demanda da mídia é distinta da agenda política. A lógica da mídia é imediatista. Em outros países, pode atuar como formadora de opinião, mas sempre comandada por ideias que emanam de partidos políticos.

Sem o fio condutor das ideias, a mídia desandou. No Brasil, aliás, há muitos e muitos anos a única ferramente de que dispõe é a escandalização. Não existe estratégia sequer para coberturas continuadas. Vive-se da mão para a boca, publicando amanhã a mera suspeita que foi aventada hoje e será repercutida depois de amanhã.

Antes, os estrategistas políticos eram pessoas como Tancredo Neves, Tales Ramalho, Ulisses.No campo das ideias, economistas, intelectuais, entre os quais o próprio Serra.

Na era Serra foram substituídos pelo Ali Kamel (!), Merval (!), o Otavinho (!), o Roberto Civita (!), as colunistas políticas – que diariamente mandam orientações à oposição sobre como proceder, dão broncas quando acham que a oposição está desanimando, passam pito, ordenam isso e aquilo. E as lideranças aceitam de cabeça baixa, entram em todas as geladas que esse processo desembestado gera, criam até CPI da Petrobras e, depois que a empresa lança uma monumental campanha midiática, ficam órfãos, sem saber porque a mídia se desinteressou pelo tema, depois de obrigá-los a entrar na fria.

Além disso, à falta de ideias condutoras, da capacidade de compreensão do processo político, da incapacidade de discutir propostas ou modelos de país (porque exige ir além dos slogans e porque não faz parte da lógica midiática), a mídia brasileira adotou a agenda neocon – um modismo norte-americano, minoritário até nos EUA que, no caso brasileiro, vinha pronto e embalado (criado pelo brilhantismo obcecado de Olavo de Carvalho e repetido por meia dúzia de papagaios). Um discurso restrito, de pouca ressonância, tornou-se hegemônico na mídia. E, pior: não por convicção, como em Olavo, mas por visão míope de mercado.

Essa simbioso criou um monstrengo político. Não era mais a política comandando o discurso – como ocorreu com o PMDB de Ulisses, com o próprio Collor, até com o mercadismo de FHC. Eram as criaturas de FHC colocados num liquidificador, que acabou resultando em um monstrengo ideológico, misturando neoliberalismo + pensamento neocon + intolerância + estilo esgoto de agressividade. Pior condicionando o discurso político de seu criador, Serra.

Como a mídia, seguramente, não estava à altura do desafio de pensar programaticamente – e nem poderia estar, porque a lógica dos jornais é outra – criou-se essa mixórdia visceral, um debate circular em torno de Honduras, FARCs, cotas raciais, Venezuela, erros de português do Lula, Honduras, Bolsa Familia, Foro de São Paulo, FARCs, Moralez, erros de português do Lula, Honduras, Cuba, Fidel… Meu Deus! Essa temática só existe na cabeça deles e de leitores influenciáveis (e sem nenhuma relevância). Não há um ambiente minimamente esclarecido – seja entre empresários, intelectuais, classe média esclarecida, classes populares – que tenha saco para entrar nesse jogo.

Serra conseguiu transformar um partido que já representou esperanças de mudança no país em sucursal da mídia. Não de um New York Times, mas da Veja.

Dá para entender sua diferença do, por exemplo, neto do Tancredo Neves? É a política, estúpido!, diriam os estrategistas de Obama."

19 de outubro de 2009

Crônica política

do blog: Cidadania.com

O egoísmo cego da elite


Quando vejo cenas de guerra como essas que mostra o vídeo acima, contendo reportagem da Globo sobre o helicóptero da Polícia que foi abatido a tiros por traficantes no Rio de Janeiro neste sábado, o que me espanta não são as cenas ou o fato em si, mas a reflexão sobre como é possível que a elite branca não entenda que, sem progresso social, tais cenas continuarão se tornando cada vez mais comuns, e a ameaça aos que “têm”, cada vez mais intensa.

A casta social a que me refiro pode ser encontrada em retrato fiel nas novelas da Globo, por exemplo. São 90% de brancos de olhos claros e nomes europeus, os quais, em certos círculos sociais, parecem muitos, mas que não correspondem a 10% da população misturada deste país, e que, de forma absolutamente inacreditável, ficam com quase todas as vagas no ensino superior público (o de melhor qualidade no país), com as melhores oportunidades no mercado de trabalho, que ocupam os poucos bairros “nobres” das grandes cidades, que têm acesso ao melhor da Segurança Pública, das obras urbanísticas etc.

A elite racial brasileira é dona de jornais centenários, canais de televisão – transformados em propriedade eterna apesar de serem concessões públicas – e de todo o resto do grande aparato de comunicação de massa do país. Além disso, é dona das maiores empresas, ocupa os melhores empregos, domina a dramaturgia, a literatura, as ciências e tudo mais de melhor e mais avançado que o Brasil produz.

Essa concentração anômala de riqueza e de oportunidades foi o que provocou, nas massas empobrecidas, um sentimento de desesperança quanto às possibilidades do homem do povo de crescer na vida, fazendo com que jovens negros e favelados, por exemplo, declarem serenamente que preferem morrer jovens nas mãos da polícia ao cometerem crimes, contanto que tenham dinheiro para desfrutar dessa breve vida numa sociedade consumista, na qual, sem dinheiro para carros, roupas e baladas, o jovem se sente uma nulidade.

Os programas sociais de gastos vultosos e as políticas afirmativas deste governo e o próprio discurso igualitário do presidente da República têm servido como uma espécie de colchão amortecedor das tensões sociais. Sem a esperança de vencer na vida com honestidade que o Estado tem dado a essa massa empobrecida nos últimos anos, tenho certeza absoluta que a guerra civil que o vídeo acima mostra já teria sido deflagrada oficialmente – e em nível muito mais alto.

Mas o egoísmo, a vontade de ser uma casta em meio a uma ralé ignara e desqualificada profissional, cultural e intelectualmente, impede essa elite de enxergar o que está acontecendo neste país que mantém um nível de confronto social como o que se vê na reportagem sobre a derrubada do helicóptero da Polícia por traficantes no Rio.

Há, sim, o criminoso mau-caráter, aquele que não caiu na criminalidade pela pobreza e pela necessidade inclusive de sobreviver, sendo ele muitas vezes de classe média. É a mentalidade consumista, importada sobretudo dos Estados Unidos e que tanto encanta essa elite racial brasileira, o que enlouquece uma juventude que vê na posse de bens materiais o verdadeiro sentido da vida.

Todavia, ouso afirmar que a quase totalidade da “criminalidade” brasileira é oriunda da pobreza e até da miséria. Em suma, da falta de perspectiva de ascensão social por vias normais que leva legiões de jovens a buscar por qualquer meio tal ascensão, nem que seja por meio da criminalidade.

Enquanto isso, os ideólogos dessa separação por castas que exclui as massas morenas e negras das universidades, dos clubes, dos bairros etc., permitindo nesses lugares apenas amostras do biótipo predominante no país, continuam elaborando a sustentação desse estado de coisas através até da afirmação estupefaciente de que “não somos [a elite branca] racistas”, dizendo que políticas inclusivas como a de cotas para negros nas universidades seriam o que separaria uma sociedade que sempre esteve separada.

Não há nação socialmente injusta, neste nível da nossa, que conheça a paz social. Não há nação que viva essa sonegação de oportunidades a setores étnicos tão majoritários que não esteja mergulhada na violência e na criminalidade. E não há segurança para os brancos ricos em sociedades assim.

Em Julho, estive na África do Sul e pude constatar in loco a que ponto a opressão racial pode levar uma nação. Naquele país no qual a minoria branca oprimiu a maioria negra de uma forma como a minoria branca brasileira sonha oprimir a maioria negra e mestiça, os brancos ou fugiram ou vivem praticamente escondidos em bunkers. Quando têm que sair às ruas, o medo em seus rostos é quase palpável.

No Brasil, porém, a elite branca, racista e socialmente separatista continua acreditando que poderá manter a maioria negra (sobretudo os jovens) conformada em seus guetos sem ousar aspirar o sucesso e o bem estar social da casta racial dominante. Inverte os fatos e acusa políticas afirmativas como as cotas de “discriminatórias”, chama o Bolsa Família de “esmola” etc. E combate Lula com ódio apesar de ser ele quem está mantendo as belas cabeças loiras da elite unidas aos seus alvos pescoços.



Escrito por Eduardo Guimarães às 13h51

15 de outubro de 2009

Bicharlyson

Os novos negros

por Leandro Fortes, no Brasília Eu Vi

Não faz muito tempo, o mundo – e o Brasil, em particular –, se escandalizou com as manifestações racistas contra jogadores de futebol que foram hostilizados por torcedores nos estádios europeus apenas porque eram negros. Na Itália e na Espanha, diversos jogadores negros, inclusive brasileiros, foram chamados de “macacos”, “gorilas” e “pretos de merda” por torcidas organizadas dos maiores times daqueles países. As reações foram, felizmente, imediatas. Intelectuais, jornalistas, políticos e autoridades esportivas de todo o planeta botaram a boca no trombone e reduziram, como era de se esperar, gente assim ao nível de delinqüentes comuns. Ainda há, eventualmente, exaltações racistas nos gramados, mas há um consenso razoavelmente arraigado sobre esse tipo de atitude, tornada, universalmente, inaceitável. Você não irá ver, por exemplo, no Maracanã, torcidas inteiras – homens, mulheres e crianças – gritando “crioulo safado” para o artilheiro Adriano, do Flamengo, por conta de alguma mancada do Imperador. Com a PM circulando, nem racistas emperdenidos se arriscam a tanto.

Mas, ai de Adriano, se ele fosse gay.

No sábado passado, espremido no Maracanã ao lado de meu filho mais velho e outras 57 mil pessoas, fui ver um jogaço, Flamengo 2 x 1 São Paulo, de virada, um espetáculo de futebol. Quando o time do São Paulo entrou em campo, as torcidas organizadas do Flamengo, além de milhares de outros torcedores avulsos, entoaram, a todo pulmão: “Veados, veados, veados!”. Daí, o painel eletrônico passou a anunciar, com a ajuda do sistema de autofalantes, a escalação são-paulina, recebida com as tradicionais vaias da torcida da casa, até aí, nada demais. Mas o Maraca veio abaixo quando o nome do volante Richarlyson foi anunciado: “Bicha, bicha, bicha!”. E, em seguida: “Bicharlyson, bicharlyson!”. Ao longo da partida, bastava que o são-paulino tocasse na bola para receber uma saraivada de insultos semelhantes. No ápice da histeria homofóbica, a Raça Rubro Negra, maior e mais importante torcida do Rio, e uma das maiores do Brasil, convocou o estádio a entoar uma quadrinha supostamente engraçada. Era assim:

“O time do São Paulo/só tem veado/o Dagoberto/come o Richarlyson”.

Richarlyson virou alvo da homofobia esportiva brasileira, com indisfarçável conivência de cronistas esportivos, jornalistas e colegas de vestiário, a partir de 2005, quando fez uma espécie de “dança da bundinha” ao comemorar um gol do São Paulo, time que por ser oriundo do elitista bairro do Morumbi acabou estigmatizado como reduto homossexual, ou time dos “bambis”, como resumem as torcidas adversárias. A imprensa chegou a anunciar o dia em que Richarlyson iria assumir sua homossexualidade, provavelmente numa entrada ao vivo, no programa Fantástico, da TV Globo – o que, diga-se de passagem, nunca aconteceu. Desde então, no entanto, o volante nunca mais teve paz. No Maracanã lotado, qualquer lance que o envolvesse era, imediatamente, louvado por um coro uníssono e ensurdecedor de “veado, veado, veado!”. Homens, mulheres e crianças. O atacante Dagoberto entrou de gaiato nessa história apenas porque, com Richarlyson, forma uma eficiente dupla de ataque no São Paulo.

8 de outubro de 2009

Nota CPT no caso MST x Cutrale

Mais uma vez mídia e ruralistas investem contra o MST

A Coordenação Nacional da CPT vem a público para manifestar sua estranheza diante do “requentamento” por toda a grande mídia de um fato ocorrido na segunda feira da semana passada, 28 de setembro, e que foi noticiado naquela ocasião, mas que voltou com maior destaque, uma semana depois, a partir do dia 5 de outubro até hoje.

Trata-se do seguinte: no dia 28 de setembro, integrantes do MST ocuparam a Fazenda Capim, que abrange os municípios de Iaras, Lençóis Paulista e Borebi, região central do estado de São Paulo. A área faz parte do chamado Núcleo Monções, um complexo de 30 mil hectares divididos em várias fazendas e que pertencem à União. A fazenda Capim, com mais de 2,7 mil hectares, foi grilada pela Sucocítrico Cutrale, uma das maiores empresas produtora de suco de laranja do mundo, para a monocultura de laranja. O MST destruiu dois hectares de laranjeiras para neles plantar alimentos básicos. A ação tinha por objetivo chamar a atenção para o fato de uma terra pública ter sido grilada por uma grande empresa e pressionar o judiciário, já que, há anos, o Incra entrou com ação para ser imitido na posse destas terras que são da União.

As primeiras ocupações na região aconteceram em 1995. Passados mais de 10 anos, algumas áreas foram arrecadadas e hoje são assentamentos. A maioria das terras, porém, ainda está nas mãos de grandes grupos econômicos. A Cutrale instalou-se há poucos anos, 4 ou 5 mais ou menos. Sabia que as terras eram griladas, mas esperava, porém, que houvesse regularização fundiária a seu favor.

As imagens da televisão, feitas de helicóptero, mostram um trator destruindo as plantas. As reações, depois da notícia ser novamente colocada em pauta, vieram inclusive de pessoas do governo, mas, sobretudo, de membros da bancada ruralista que acusam o movimento de criminoso e terrorista.

A quem interessa a repetição da notícia, uma semana depois?

No mesmo dia da ação dos sem-terra foi entregue aos presidentes do Senado e da Câmara, um Manifesto, assinado por mais de 4.000 pessoas, entre as quais muitas personalidades nacionais e internacionais, declarando seu apoio ao MST, diante da tentativa de instalação de uma CPMI para investigar os repasses de recursos públicos a entidades ligadas ao Movimento. Logo no dia 30, foi lido em plenário o requerimento para sua instalação, que acabou frustrada porque mais de 40 deputados retiraram seu nome e com isso não atingiu o número regimental necessário. A bancada ruralista se enfureceu.

A ação do MST do dia 28, que ao ser divulgada pela primeira vez não provocara muita reação, poderia dar a munição necessária para novamente se propor uma CPI contra o MST. E numa ação articulada entre os interesses da grande mídia, da bancada ruralista do Congresso e dos defensores do agronegócio, se lançaram novamente as imagens da ocupação da fazenda da Cutrale.

A ação do MST, por mais radical que possa parecer, escancara aos olhos da nação a realidade brasileira. Enquanto milhares de famílias sem terra continuam acampadas Brasil afora, grandes empresas praticam a grilagem e ainda conseguem a cobertura do poder público.

Algumas perguntam martelam nossa consciência:

Por que a imprensa não dá destaque à grilagem da Cutrale?

Por que a bancada ruralista se empenha tanto em querer destruir os movimentos dos trabalhadores rurais? Por que não se propõe uma grande investigação parlamentar sobre os recursos repassados às entidades do agronegócio, ao perdão rotineiro das dívidas dos grandes produtores que não honram seus compromissos com as instituições financeiras?

Por que a senadora Kátia Abreu (DEM-TO), declarou, nas eleições ao Senado em 2006, o valor de menos de oito reais o hectare de uma área de sua propriedade em Campos Lindos, Tocantins? Por que por um lado, o agronegócio alardeia os ganhos de produtividade no campo, o que é uma realidade, e se opõe com unhas e dentes á atualização dos índices de produtividade? Por que a PEC 438, que propõe o confisco de terras onde for flagrado o trabalho escravo nunca é votada? E por fim, por que o presidente Lula que em agosto prometeu em 15 dias assinar a portaria com os novos índices de produtividade, até agora, mais de um mês e meio depois, não o fez?

São perguntas que a Coordenação Nacional da CPT gostaria de ver respondidas.

Goiânia, 7 de outubro de 2009

Coordenação Nacional da CPT

5 de outubro de 2009

Lulão !!!

Eu acredito

Palmeiras ganhou?

Não importa, depois do jogo de quarta feira, eu acredito em tudo.

Porque só o São Paulo tem JESUGO !!!



Oração a Jesugo

Hugo que estais no campo
Santificado seja os teus chutes de esquerda
Seja feito o gol no final do jogo
Seja nos Aflitos ou no Morumbi

A sua entrada no segundo tempo de jogo a vitória nos dai hoje
Perdoai as nossas vaias
Assim como perdoamos seus passes errados
Não deixe a derrota acontecer
Nós traga o Hepta do Brasileirão

Amém





Me lembrei daquela piada (pra quem gosta de fotografia)

3 de outubro de 2009

Rio 2016

Os melhores textos da net



Leandro Fortes:


O rio deve essa ao Lula

Lula poderia ter agido, como muitos de seus pares na política agiriam, com rancor e desprezo pelo Rio de Janeiro, seus políticos, sua mídia, todos alegremente colocados como caixa de ressonância dos piores e mais mesquinhos interesses oriundos de um claro ódio de classe, embora mal disfarçados de oposição política. Lula poderia ter destilado fel e ter feito corpo mole contra o Rio de Janeiro, em reação, demasiada humana, à vaia que recebeu – estranha vaia, puxada por uma tropa de canalhas, reverberada em efeito manada – na abertura dos jogos panamericanos, em 2007, talvez o maior e mais bem definido ato de incivilidade de uma cidade perdida em décadas de decadência. Vaiou-se Lula, aplaudiu-se César Maia, o que basta como termo de entendimento sobre os rumos da política que se faz e se admira na antiga capital da República. Fosse um homem público qualquer, Lula faria o que mais desejavam seus adversários: deixaria o Rio à própria sorte, esmagado por uma classe política claudicante e tristemente medíocre, presa a um passado de cidade maravilhosa que só existe, nos dias de hoje, nas novelas da TV Globo ambientadas nas oníricas ruas do Leblon.

Lula poderia ter agido burocraticamente a favor do Rio, cumprido um papel formal de chefe de Estado, falado a favor da candidatura do Rio apenas porque não lhe caberia falar mal. Deixado a cidade ao gosto de seus notórios representantes da Zona Sul, esses seres apavorados que avançam sinais vermelhos para fugir da rotina de assaltos e sobressaltos sociais para, na segurança das grades de prédios e condomínios, maldizer a existência do Bolsa Família e do MST, antros simbólicos de pretos e pobres culpados, em primeira e última análise, do estado de coisas que tanto os aflige. Lula poderia ter feito do rancor um ato político, e não seria novidade, para dar uma lição a uma cidade que o expôs e ao país a um vexame internacional pensado e executado com extrema crueldade por seus piores e mais despreparados opositores.

Mas Lula não fez nada disso.

No discurso anterior à escolha do Comitê Olímpico Internacional, já visivelmente emocionado, Lula fez o que se esperava de um estadista: fez do Rio o Brasil todo, o porto belo e seguro de todos os brasileiros, a alma da nacionalidade. Foi um ato de generosidade política inesquecível e uma lição de patriotismo real com o qual, finalmente, podemos nos perfilar sem a mácula do adesismo partidário ou do fervor imbecil das patriotadas. Lula, esse mesmo Lula que setores da imprensa brasileira insistem em classificar de títere do poder chavista em Honduras, outra vez passou por cima da guerrilha editorial e da inveja pura e simples de seus adversários. Falou, como em seus melhores momentos, direto aos corações, sem concessões de linguagem e estilo, franco e direto, como líder não só da nação, mas do continente, que hoje o saúda e, certamente, o aplaude de pé.

Em 2016, o cidadão Luiz Inácio da Silva terá 71 anos. Que os cariocas desse futuro tão próximo consigam ser generosos o bastante para também aplaudi-lo na abertura das Olimpíadas do Rio, da qual, só posso imaginar, ele será convidado especial.




Rodrigo Vianna:

O complexo de vira-lata segue fortíssimo em nosso país. Se bem que, agora, parece mais restrito a setores da classe média...

Falo das estranhas reações a esse acontecimento maravilhoso: a vitória do Rio como sede das Olimpíadas de 2016.

Estava eu fora do alcance da internet - gravando uma reportagem nas proximidades de Iguape, no litoral sul de São Paulo - quando o Rio foi anunciado vencedor. Comemorei, em mensagens enviadas por celular à minha mulher - que é carioca.

Quando cheguei a São Paulo, na noite desta sexta, também comemorei com meu filho Vicente, outro nascido no Rio de Janeiro.

Em qualquer lugar do planeta seria mesmo motivo para comemorar. Mas, no Brasil, aparecem nessas horas os corvos agourentos: e a a corrupção? e as favelas? e a violência?

Mas que diabos! Parece-me tão óbvio que Olimpíadas não são (nem nunca serão) o remédio para nossos problemas seculares, parece-me isso tão óbvio (repito!) que sinto até certa vergonha de precisar argumentar diante de certas coisas que comecei a ouvir e a ler, assim que botei os pés de novo em São Paulo, nesta histórica sexta-feira.

Aos poucos, fui-me lembrando das diferenças entre Rio e São Paulo. Paulistano que sou, posso dizer sem medo de errar: parte das pessoas que vivem aqui na minha terra não gosta muito do Brasil. A verdade é essa.

Era esse o tom dos comentários que ouvi no rádio do carro, a caminho de casa. O locutor ia lendo os e-mails dos ouvintes, que criticavam a escolha do Rio: eram comentários mal-humorados, ranhetas, complexados.

No futebol, o brasileiro superou esse complexo de vira-lata. Nelson Rodrigues foi quem cunhou a expressão. Foi ele também quem mostrou como Pelé, com sua pose de rei, indicava a seus colegas em campo: somos fortes, somos bons, falta só acreditar em nós mesmos.

Lá pelas décadas de 50/60, com Pelé, superamos o complexo. Mas só no futebol. A síndrome do vira-lata infeliz continuou a nos abater em outras áreas..

Os mais pobres, em anos recentes, parecem ter vencido o complexo. Até porque não têm muita escolha. São brasileiros até o último fio de cabelo. Para o bem e para o mal. Melhor brigar e trabalhar pra fazer dese país uma terra um pouco melhor.

A vitória e a reeleição de Lula - mais do que motivo - são a prova de que parte dos brasileiros, especialmente os de origem mais humilde, superou o complexo. É uma parcela de brasileiros que foi capaz de eleger um homem monoglota, sem estudo, e além de tudo sem um dedo (ah, como essa marca do trabalho braçal incomoda nossas elites) para liderar o país.

Em contrapartida, a escolha - por duas vezes - de um presidente com esse perfil parece ter acirrado ainda mais o complexo de vira-lataa, entre certos setores de nossa classe média. É uma parte dos brasileiros (e como são numerosos em São Paulo) que não gostam de ser brasileiros. Gostam de ser netos de italianos, bisnetos de alemães, trinetos de poloneses, tataranetos de espanhóis.

Eles se envergonham do Lula que discursa em "português" na cerimônia do comitê olímpico (ouvi um sujeito falando disso hoje na rua). Queriam que discursasse em javanês?

Eles se envergonham do Lula que chora. Preferiam, talvez, o tom afetado daquele outro presidente, que adorava fazer piadas sem graça, e preferia discursar em francês ou inglês (tremendo complexo de vira-lata) para agradar os gringos...

Com Lula, o Brasil deixou de se ver como colônia.

Os problemas do Brasil - com ou sem Olimpíadas - são enormes. Cabe a nós resolvê-los. Podemos tentar fazer as duas coisas ao mesmo tempo: cuidar de nossos problemas, e organizar as Olimpíadas. Isso parece uma obviedade sem tamanho!

Ou alguém acha - por exemplo - que um sujeito, só porque ainda está pagando as prestações da casa, não pode fazer uma bela festa de fim-de-ano para os vizinhos e os amigos?

A escolha do Rio é reconhecimento da grandeza do Brasil. Não deve nos fazer ufanistas. Mas a verdade é que merecemos comemorar. Sem dar bola para os corvos agourentos. Eles que curem seus complexos viajando para Miami nas férias. E deixem o Brasil trabalhar para fazer uma bela Olimpíada em 2016.

Parabéns ao Rio. Viva o Brasil.



Luiz Carlos Azenha

A elite está se roendo. A elite odeia o Brasil

Lula tem sorte. "Rabo", é o que eles dizem.

O pré-sal foi rabo. A Copa foi rabo. As Olimpíadas? Rabo.

O Brasil? Um horror. É corrupto. Imagine só o que "eles" vão fazer com as verbas das Olimpíadas. Imaginem o que "eles" vão fazer com o dinheiro de nossos impostos.

Cá entre nós, quem é que gosta de esporte?

Quem é que vai se espremer em um estádio sem poder dizer no dia seguinte que teve algum tipo de privilégio?

Privilégio.

Essa é a palavra que define a elite brasileira.

O camarote da Brahma. O lounge exclusivo do aeroporto. A sala VIP.

A separação entre Casa Grande e Senzala é a matriz da brasilidade.

Para os amigos, tudo. Para os inimigos, toda a força da lei.

A cela especial dos diplomados. Os habeas corpus do banqueiro. Os negros que enriquecem e se tornam brancos.

Lula embaralhou bastante as cartas. É um sucesso de público.

Daí o estratagema da elite. Lula sim, o PT não. Lula sim, o Itamaraty é um horror -- dominado por chavistas. Lula é um democrata, Morales um demagogo.

É uma forma de negar o protagonismo histórico de Lula e, portanto, da classe na qual ele se originou.

É uma forma de dizer que Lula é inocente, tão vítima quanto todos nós de seus assessores "esquerdistas".

É a forma antropofágica de nossa elite de engolir Lula, ao mesmo tempo negando tudo o que ele de fato representa.

Por isso, o "rabo" de Lula. A sorte de Lula.

Lembrem-se, o pré-sal não foi resultado da sabedoria da Petrobras.

A Copa do Mundo não foi mérito do Brasil.

As Olimpíadas não foram mérito do Rio de Janeiro.

Não, foi tudo "sorte" do Lula.

Foi um acaso. Foi "rabo".

O BrasIl? É um horror. "Eles" são corruptos. "Eles" elegem gente corrupta. "Eles" não sabem gastar nosso dinheiro.

O Brasil são "eles", aqueles que não tem acesso ao nosso camarote, à nossa Casa Grande, à nossa sala VIP.

Se eles fossem como a gente, seríamos Paris. Ou Nova York.

Infelizmente, somos Brasil.

PS: É por isso que, hoje, quando o Rio ganhou, celebrei com os colegas de "firma". Depois, fomos todos trabalhar.



Paulo Henrique Amorim

O Brasil devia isso ao Rio

Lula empenhou seu cacife político na campanha do Rio 2016.

Se o Rio perdesse, o PiG (*) e a elite branca, especialmente a de São Paulo, que é separatista, cairiam em cima de Lula, como se fosse um coitadinho, um operário metalúrgico que tentou ir além dos sapatos.

Lula, logo após a vitória de 66 a 32, ressaltou que o Brasil devia isso ao Rio.

Ao Rio, que já foi capital da República, que foi politicamente esvaziado, e passou a freqüentar as paginas podres do PiG (*), o Brasil devia ao Rio – disse Lula.

(Nessa hora, Lula olho no olho do repórter da Globo …)

Ninguém mais do que o Presidente Lula trabalhou para re-fazer esse mapa geopolítico.

A distorção começou com Juscelino, que tirou a capital do Rio e abriu o ciclo da inflação.

Tirou a capital do Rio para isolar a capital do povo.

Levou a indústria só para São Paulo – e botou o resto do Brasil para trabalhar para São Paulo.

Depois, o regime militar esvaziou o Rio, porque o Rio era brizolista.

E a Globo, por causa do Brizola, estigmatizou o Rio e transformou o Rio numa Medelín.

Acabou hoje a minoridade política do Rio.

Como disse o Presidente Lula, em lágrimas, esse é o atestado de cidadania do Brasil.

É a prova de que o mundo reconhece que o Brasil chegou lá.

E que o Rio é o Rio.

Capital do Brasil !


Eduardo Guimarães:

Durante coletiva de imprensa concedida em Copenhague pela delegação brasileira defensora da candidatura do Rio como sede dos jogos olímpicos de 2016, o enviado do Correio Brasiliense perguntou ao presidente Lula, na forma de insinuação, algo como se ele não temia ser vaiado na abertura das Olimpíadas no Rio como foi durante a dos jogos Panamericanos em 2007, no Maracanã. Lula, paciente, respondeu que então, em 2016, não seria mais presidente, e que, naquele momento, estaria mais preocupado com as olimpíadas de inverno, ou coisa que o valha. Contudo, coube ao governador do Rio, Sérgio Cabral, dar a resposta que o teleguiado repórter merecia. Reproduzo abaixo, de memória, a resposta do governador:

Quem armou aquelas vaias perdeu as eleições seguintes e está sem mandato, e o presidente Lula é um dos políticos mais bem avaliados do mundo, meu caro. Tem oitenta por cento de popularidade, é amado pelo povo brasileiro