30 de abril de 2010

Lulão !

"O que Lula quer para o Brasil é o que um dia chamamos de Sonho Americano."
Michael Moore


O texto, em inglês, aqui.

26 de abril de 2010

A desindustrialização brasileira

Por Roberto São Paulo/SP-2010

A desindustrialização gradual no Brasil
26 de abril de 2010 | 0h 00- O Estado de S.Paulo

Paulo Godoy, PRESIDENTE DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE INFRAESTRUTURA E INDÚSTRIAS DE BASE (ABDIB)

O Brasil foi o país da América Latina que mais aprofundou e diversificou a estrutura produtiva manufatureira no século 20.

Esse fenômeno ganhou impulso a partir dos anos 50, sob a lógica da substituição de importações, economia fechada, proteção contra a concorrência externa e grande participação de grupos estrangeiros.

A indústria criou capacidade de produzir desde bens não-duráveis até bens de capital sob encomenda, mas, a partir dos anos 80, esse modelo passou a ser questionado, pois o protecionismo resultou em uma estrutura viciada em subsídios e pouco competitiva no mercado internacional.

A partir dos anos 90, a indústria nacional foi exposta à concorrência externa durante o processo de abertura da economia. O impacto não foi pequeno.
Vários setores e empresas que não conseguiram se modernizar fecharam as portas.
Outros, no entanto, reagiram e novos investimentos ocorreram. O Plano Real voltou a trazer alguma dificuldade competitiva por causa da apreciação da moeda brasileira até 1998, mas a indústria, depois de alguns anos, voltou a atuar com força.

Nos últimos dez anos, no entanto, um novo desafio surgiu para a indústria nacional.

A partir de uma abundância da liquidez internacional, países como o Brasil, com elevada taxa interna de juros, passaram a atrair esses capitais à procura de melhor remuneração.

Isso, aliado aos bons resultados da conta do comércio exterior brasileiro após 2003/2004, resultou em uma entrada maciça de recursos externos.
O mercado de câmbio brasileiro voltou a ser pressionado, consumindo grande parte dos ganhos de competitividade comparativa que a indústria nacional promoveu nos últimos anos.

Melhorar a competitividade da indústria brasileira significa promover algumas reformas estruturantes, pois, em muitas empresas, não há mais muito espaço para ganhos de competitividade “da porta para dentro”, mas somente “da porta para fora”.

É mandatório reduzir e redirecionar a carga tributária. A legislação que regula as relações de trabalho requer flexibilidade, de forma que companhias com características, porte e mercados regionais distintos possam encontrar em comum acordo com os empregados as regras, a remuneração e os benefícios mais condizentes com a realidade de cada um…..

……..Mas, mesmo que equalizados os custos tributários, trabalhistas, financeiros e de logística, é preciso corrigir desequilíbrios com um dos principais parceiros comerciais do Brasil: a China.

Em certo sentido, a China replica o modelo asiático de desenvolvimento e industrialização que foi utilizado anteriormente pelo Japão e pelos tigres asiáticos..

…….. A estrutura produtiva industrial global está sendo novamente moldada e o Brasil, com certeza, não ficará imune a isso.

Essa inserção chinesa no plano global tem provocado mudanças significativas na estrutura produtiva dos países, com o deslocamento de plantas e o fechamento de atividades produtivas.
Mesmo que não cessem atividade, muitas empresas desativam etapas fabris de forma gradual, representando uma lenta e penosa perda de densidade da indústria. No limite, algumas que possuíam uma atividade significativa, viraram praticamente firmas de montagem ou distribuidoras de produtos importados meramente colocando marca própria no produto.

Por trás ainda há o fato de o Brasil contar com enormes estoques em produtos naturais que, quando exportados, causam nova pressão sobre o câmbio, considerando a tendência de elevação dos preços de commodities. A diplomacia brasileira terá de ser extremamente ativa e realista.

A situação é desigual, pois, à medida que o Brasil pratica o câmbio livre, a China se dá ao luxo de praticar um câmbio controlado diante da enorme poupança interna acumulada.
Enquanto nenhuma correção é feita, o Brasil já pode ter ingressado, mesmo sem o saber, em um processo lento e gradativo de desindustrialização silencioso, à medida que as indústrias vão penosamente se moldando à nova realidade em que não é possível competir em face do novo cenário global.

Quando esse processo se tornar ruidoso, talvez seja tarde demais…..

http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20100426/not_imp542965,0.php

21 de abril de 2010

Dilma e Marta

Mauro Carrara: O paralelo entre Dilma e Marta

E Dilma vai virando outra Marta

Teimosia, arrogância e indolência na campanha de 2010

Mauro Carrara

Meu Deus! Chega de “mimimi”, garotada. Quem não sabia? Quem foi pego de surpresa pela operação Tempestade no Cerrado? Quem imaginava céu de brigadeiro na voo de Dilma ao Planalto?

Há décadas, o roteiro de destruição de reputações é o mesmo. E a reação da cúpula de comunicação do PT, o partido sem mídia, é sempre a mesma. Mistura teimosia, arrogância e indolência. Invariavelmente, dá com os burros n’água.

Erundina, por exemplo, fez excelente trabalho na prefeitura de São Paulo, mas foi duramente fustigada pelos jornalões.

O Estadão, por exemplo, pagava um repórter para buscar, durante 24 horas, informações que a prejudicassem.

Alberto Luchetti Neto, sujeito de cultura e talentos limitados, aproveitou a oportunidade e virou peixe grande na imprensa. Fez amigos poderosos.

Pouco depois, virou diretor executivo da Rádio Bandeirantes. Mais tarde, dirigiu o programa do Faustão, na Globo.

Os fatos oferecem uma ideia de como a direita brasileira valoriza o trabalho tático de destruição de imagens. Erundina não fez seu sucessor, e os barões paulistas consideraram ter contraído uma dívida eterna com Luchetti.

Anos depois, Marta Suplicy realizou belas obras à frente da prefeitura paulistana, mas também sofreu pesadíssimo bombardeio da imprensa elito-fascista da Capital.

Em 2008, havia uma memória popular residual dos benefícios obtidos durante a gestão da petista. E, assim, a loura ocupou, de cara, o topo das pesquisas de opinião por meses e meses.

Bastou o primeiro lugar temporário para que os teimosos, arrogantes e indolentes desenhassem a trilha de mais um fracasso eleitoral.

Negligentes, não foram capazes de erigir uma barreira midiática de proteção à candidata. E, assim, todos os rótulos negativos foram novamente (e facilmente) colados à petista, pintada na Internet como “perua”, “vagabunda”, “ladra”, “adúltera” e “incompetente”.

O sandeu Kassab pôde então nadar de braçada, e ganhou de goleada, até mesmo na periferia, tradicional reduto vermelho.

Há várias semanas, denunciamos a deflagração da operação “Tempestade no Cerrado“, logo após o encontro dos barões da imprensa no Instituto Millenium.

Afinal, tudo vazou de imediato nas redações. Os editores foram obrigados a adestrar cada repórter para a ação destrutiva em curso.

Também avisamos sobre a fábrica de “hoaxes” graeffista. E, de lá para cá, dezenas e dezenas de pessoas foram arregimentadas para divulgar peças difamatórias na Internet.

O rapaz do “xerox”, aqui perto de casa, no Brás, já recebeu uma dessas bombas virtuais.

Até a mulher da quitanda já leu. Ela não tem Internet, mas uma sobrinha tratou de imprimir o texto que aponta Dilma como “assaltante de bancos” e “prostituta de guerrilheiros”.

Paralelamente, até os entes minerais já sabiam que a grande imprensa mandaria às favas qualquer escrúpulo, antecipando a campanha serrista. E está aí, na propaganda institucional da Globo (suspensa) e na capa escandalosa de “Veja”.

E, dessa forma, sem qualquer oposição organizada, as forças reacionárias vão colando tudo que há de ruim à imagem de Dilma Rousseff. Vai virando outra Marta…

Há um padrão repetitivo de erros nas ações estratégicas de comunicação do PT e de seus aliados. E são cinco:

- No poder há 7 anos, a esquerda não foi capaz de criar um jornal eclético, multitemático, dirigido às massas ou à classe média leitora. Até os confusos comunistas italianos têm; aqui, não temos nada.

- Tampouco há um portal de Internet, também eclético e multitemático, capaz de difundir a versão correta dos fatos políticos e divulgar as conquistas do governo Lula. A juventude de classe média, por exemplo, é altamente conectada, mas tem a pior visão possível da esquerda.

- 90% dos conteúdos da chamada “blogosfera lulista” circulam dentro dos próprios redutos da esquerda. As denúncias, correções e defesas raramente chegam ao povo votante. Temos de valorizar esses guerreiros midiáticos, mas os resultados, em termos midiáticos, são extremamente modestos.

- Não existe uma ação planejada e efetiva de caça aos difusores de calúnias na Internet. Aparentemente, a esquerda não tem advogados, desconhece a lei e considera inevitável a ação dos criminosos virtuais.

- O PT e seus aliados continuam com medo da imprensa monopolista. Não a denunciam, não a desmascaram. Vergonhosamente ajoelhados, reagem com vagas lamúrias, dirigidas aos próprios algozes. São incapazes de se comunicar diretamente com a população, de modo a desmascarar os barões midiáticos.

Vale lembrar ainda que pouquíssimos militantes têm feito a lição de casa. Entre os comentaristas dos sites dos grandes jornais, a malta reacionária está sempre em vantagem.

Em média, para cada comentário favorável a Dilma Rousseff e Lula, há 10 contrários.

Prova que não temos um Graeff do bem. E que nossos batalhões também são indisciplinados e, muitas vezes, preguiçosos.

Se o destino de Dilma pode ainda ser diferente daquele de Marta, há que se produzir uma mudança no curso das ações de comunicação e propaganda.

Se a candidata não pode ser estigmatizada, é preciso que essa operação de iluminação informativa comece agora, e já.

E esse trabalho de defesa estratégica precisa urgentemente gerar saber político extensivo. Precisa impactar o sujeito do xerox e a senhora da quitanda.

E chega de “mimimi”!

19 de abril de 2010

Futebol

Em Santos, o futebol brasileiro como deveria ser.


Mas no Rio e no Gauchão, destaque para os argentinos



18 de abril de 2010

+ sobre a mídia

Imperdível o "Post proibido para quem tem mais de 30 anos" do Azenha

Clique aqui

16 de abril de 2010

Malabarismos do PSDB

Serra, 1995.
resultado: Apagão do FHC


Alckmin, 2006


Resultado: Lula reeleito

14 de abril de 2010

Pesquisas

Veja (eca!) mais no Cidadania.com


Em Outubro, aposto em Dilma 60% X Serra 40%

12 de abril de 2010

Veja

do Quanto Tempo Dura?

Why Lula Is The Man

Do Times of India


Brasilia: Recently, US secretary of state Hillary Clinton pressured Brazil's president Lula da Silva to join the US in imposing new sanctions against Iran. Lula rebuffed Clinton, saying it's "not prudent to push Iran against a wall". This is not what Clinton wanted to hear from a country that holds a rotating seat in the UN Security Council and is lobbying for a permanent one. Subsequently, in Tel Aviv, Lula shocked Israeli leaders by refusing to visit the tomb of the father of Zionism, Theodore Herzl. In May, he goes to Tehran to meet President Ahmadinejad, a move that a US newspaper described as "unworthy of a country that aspires to be considered an equal among the world's leaders". Is Lula behaving like a world leader?

Mocked by Brazil's chatterati for his fractured grammar, Lula has become a hit on the world stage with his Everyman style. At the London summit on the global financial crisis last year, on seeing Lula, US president Barack Obama shouted, "That's my man right here. Love this guy. He's the most popular politician on earth." Obama's gushing remarks came just a few days after the Brazilian had blamed the global crisis on "the irrational behaviour of people that are white, blue-eyed, that before the crisis looked like they knew everything about economics". Lula's remarks made the Brazilian elite cringe.

Set to leave office in nine months, Lula is travelling around the world and talking attacking the UN for its "caste system", blasting the rich world at Copenhagen, campaigning for a more global role for "emerging" countries and calling for a "dialogue" with Iran. This has made some western observers wonder if he is following Venezuela's Hugo Chavez as a "gladiator of the anti-imperialist battle".

Nothing could be further from the truth. Lula has become a hero at home and a statesman abroad for genuine reasons. In Brazil, his approval ratings are 76 per cent, a record for an outgoing president. His domestic accomplishments are unprecedented: since 2003, he has more than doubled the minimum wage to $300, helped lift 20 million Brazilians out of poverty, and brought public debt down to 35 per cent from 55 per cent of GDP. Last year, Brazil's reais was the fifth best-performing currency, inflation was down to 4 per cent and the country sailed through the economic crisis with hardly a bruise.

Thanks to Lula's social programmes, growth's biggest beneficiaries have been the poor for whom the president, who grew up polishing shoes and sharing a room with his mother and eight siblings, is a sign of hope. So high is Lula's popularity that he is even credited for the discovery of oil off the Brazilian shore. Brazil may soon become the third-largest producer of petroleum, and Lula has already announced plans to spend the oil income on anti-poverty plans.

Of course, Lula has made mistakes. There have been scandals in the government and he has been criticised by Workers Party leftists for "moving too much to the Centre". But no one disputes his biggest achievement: positioning Brazil in the world. Lula has converted economic muscle into global clout by pushing "south-south" trade and growing political ties with developing countries. That explains his stand on Iran, with whom Brazil's trade has grown by 40 per cent since 2003. So good is his chemistry with Ahmadinejad that Obama has asked Brazil to mediate between Iran and US, something Lula would love to do. Amid the row in Tel Aviv, Lula called for "someone with neutrality" to mediate the Middle East peace process. And he didn't mean Tony Blair.

Once laughed at by Copacabana's caipirhinha-sipping elite that "feared" Lula might embarrass Brazil abroad, the former metal worker has shown a solid grasp of foreign affairs. During his first term, he worked on closer ties with India, China and South Africa. Today, China, not the US, is Brazil's biggest trading partner. Playing a crucial role in the creation of IBSA and BASIC two groups involving Brazil, India, China and South Africa Lula has become the most vocal proponent of emerging nations on global issues ranging from finance to climate change. With the non-aligned movement as good as dead, these groups have become the voice of Asia, Africa and Latin America in global affairs. Calling him "a referent to emerging countries and also to the developing world", in 2009, a leading French daily named Lula "Man of the Year".

Lula is the man of the moment because he has followed a simple formula of strengthening the domestic economy, delinking the financial system from the US, cultivating ties with emerging countries and following an independent foreign policy. It's because of this he can speak his mind on any issue. Call it his good luck, but a lack of charismatic leadership in other emerging nations too has helped. Today, China and India are led by technocrats, not mass leaders, South Africa has failed to produce a well-known leader since Nelson Mandela and Russian president Vladimir Putin lacks democratic credentials. In such a scenario, Lula grabbed the opportunity with both hands. An Indian leader with imagination might have written this role for himself.

8 de abril de 2010

Commodities vs Desenvolvimento Tecnológico

Da CartaCapital

Somos mais do que um grande celeiro

André Siqueira

Esqueça a imagem do Brasil como o celeiro do mundo. Nos próximos anos, o País caminha para se consolidar como grande fornecedor mundial não só de grãos, mas também de carne, açúcar, minério de ferro, petróleo e uma série de outros bens de largo consumo e cujos preços são cotados internacionalmente – as chamadas commodities. E o melhor é que, diferentemente do que pregavam as teses cepalinas nos anos 60, uma grande participação do setor primário na economia não representa mais, necessariamente, uma ameaça à industrialização e à diversificação de atividades. A conclusão é de acadêmicos, executivos do setor privado e representantes do governo reunidos na segunda-feira 29, em São Paulo, no seminário Produção de Commodities e Desenvolvimento – O esforço empresarial brasileiro.

“A experiência mostra que a exploração dos recursos naturais, por si só, não garante o desenvolvimento. Mas, sem recursos naturais, o desenvolvimento torna-se penoso”, afirma o diretor do Instituto de Economia da Unicamp, Mariano Laplane, responsável pela organização do encontro.

Nos últimos cinco anos, a participação das commodities nas exportações brasileiras ampliou-se em um ritmo médio superior a 6% ao ano, de acordo com dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex). Em 2009, quando as vendas ao exterior levaram um tombo de quase 30% sob os efeitos da crise financeira internacional, a fatia dos produtos básicos cresceu de 44,8% para 50,2%, o que contribuiu para evitar que o Brasil registrasse déficit na balança comercial.

Mas não é só nas contas externas que se mede o peso dos produtos primários na promoção do desenvolvimento. “A indústria de commodities do século XIX não é a do século XXI. As atividades que antes eram básicas agora são sofisticadas”, afirma o diretor de planejamento do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), João Carlos Ferraz.

As dificuldades enfrentadas na introdução da cultura da soja e do algodão na Região Centro-Oeste e a complexidade envolvida na extração do petróleo nas profundezas do mar são exemplos de obstáculos que exigiram o uso intensivo de tecnologia na produção brasileira. A esse cenário, Ferraz acrescenta o componente da intensa concorrência internacional. “Em se plantando, tudo dá? Não é bem assim.”

O presidente da Vale, Roger Agnelli, lembrou que as descobertas de grandes jazidas minerais são cada vez mais raras, e dependem da utilização das mesmas tecnologias utilizadas nas pesquisas espaciais. “A atividade pode ser antiga, mas o que era fácil encontrar já foi explorado”, afirma.

O executivo compara o debate sobre o peso das commodities na economia ao jogo de cartas rouba-monte. “Uma discussão sobre reduzir o papel dos produtos básicos na economia é estéril. A vocação do Brasil é ser o maior país agrícola, o maior minerador e o maior produtor de petróleo. Somos bons no que conseguimos naturalmente nos tornar bons. Nada veio de graça”, ressalta. “E precisamos nos concentrar nesses setores para nos tornar ainda melhores.”

Por enquanto, o Brasil beneficia-se da boa fase dos bens primários no comércio internacional. Desde o início da década, cresce a participação de alimentos, minério e petróleo nas trocas internacionais, enquanto os preços acompanham a trajetória de alta. A boa notícia é que os países asiáticos, apontados como principais causadores desse movimento, não dão sinais de exaustão.

Entre 1998 e 2008, a Ásia aumentou de 23% para 30% sua participação nas compras mundiais de produtos básicos, e manteve estável sua fatia nas exportações na categoria. “Isso quer dizer que ainda temos pela frente um período interessante de demanda mundial em alta”, prevê Ferraz, do BNDES. Os números também refletem a clara opção daqueles países por importar insumos do Brasil. “Conversamos com banqueiros chineses, e eles deixam clara a disposição para nos fornecer financiamento, infraestrutura, máquinas e, se preciso, até mão de obra.” A respeito, vale a leitura da coluna de Delfim Netto, à página 27.

O interesse da China em estimular a exportação de matérias-primas brasileiras, entretanto, guarda uma diferença fundamental em relação à antiga estratégia “centro-periferia”, associada, em outros tempos, ao subdesenvolvimento. “Não somos um País pequeno, com economia especializada. O peso das commodities tem de estar associado ao tamanho do nosso mercado, há espaço para os outros setores”, sustenta Ferraz.

Também conta a favor do Brasil o fato de a grande demanda por insumos, aliada à oferta de bens industrializados no Oriente, ter promovido uma alteração histórica nas relações de troca, com vantagem para os fornecedores. “Antes era necessário vender 15 toneladas de minério de ferro para comprar um computador. Hoje, são três ou quatro”, compara Agnelli. “Se no futuro precisar de uma só, vou ficar feliz.”

O diretor da divisão de mineração, petróleo e gás do Banco Mundial, Paulo de Sá, cita um informe recente da Intel, segundo o qual a produção mundial de microprocessadores vai duplicar nos próximos cinco anos, enquanto os preços cairão pela metade. O movimento é oposto ao do setor mineral, em que a maior parte do valor agregado se concentra nas etapas iniciais. “A rentabilidade da extração não se reproduz nas etapas da manufatura, quando a concorrência é muito maior”, afirma.

Segundo o executivo, restam duas opções aos países ricos em recursos. A primeira é aplicar altos impostos à produção, como fazem, por exemplo, as nações do Oriente Médio em relação ao petróleo. O outro caminho não requer que se abra mão das taxas, mas consiste no alargamento das cadeias produtivas. Não só no sentido vertical, que requer comprar brigas com os clientes, mas no horizontal, ao estimular parcerias com fornecedores locais e a criação de infraestrutura de energia, tecnologia, transportes e serviços. “A integração horizontal contribui muito mais para o desenvolvimento do que a simples taxação”, defende.

Sá dá como exemplos países africanos que, a despeito de possuírem vastas reservas petrolíferas, registram taxas de crescimento negativas, ou inferiores às de vizinhos sem riquezas naturais – um fenômeno batizado de “maldição dos recursos”. Em outros locais, a falta de fontes de financiamento e de orientação política da produção simplesmente impede que minas de alto potencial sejam exploradas.

“A grande questão hoje é como expandir a produção e, ao mesmo tempo, criar laços para contribuir com a economia local. A falta dessa licença social para operar pode inviabilizar empreendimentos inteiros. No caso dos setores que exploram recursos naturais, essa preocupação é ainda mais importante”, afirma o diretor do Banco Mundial. Segundo Sá, o Brasil tem obtido sucesso na estratégia de associar o mercado interno robusto ao desenvolvimento das cadeias produtivas. A Petrobras, com o alto índice de nacionalização de fornecedores e investimentos, tornou-se um exemplo internacionalmente reconhecido, garante o executivo.

As reservas de petróleo na região do pré-sal, que podem se situar entre 10 bilhões e 50 bilhões de barris, podem tornar a estatal brasileira a maior empresa mundial do setor nos próximos anos, de acordo com o vice-presidente da Energia do Rio e conselheiro do Instituto Brasileiro de Petróleo (IBP), Luiz Carlos Costamilan. “A Petrobras era um grão de areia perto das grandes multinacionais, hoje tem um valor de mercado superior a 200 bilhões de dólares, pouco abaixo de gigantes como a Exxon ou a russa Gasprom”, afirma. “A empresa é reconhecida como a número 1 na exploração em águas profundas, que está para o setor petrolífero assim como a atividade espacial para a indústria aeronáutica.”

Segundo Costamilan, o desafio de substituir as reservas de petróleo em declínio obriga as empresas a investir, de maneira quase compulsória, o equivalente a 800 milhões de dólares ao ano em pesquisa e desenvolvimento. “O Prominp (Programa de Mobilização da Indústria Nacional de Petróleo e Gás Natural) já capacitou 50 mil profissionais e deve chegar a 200 mil. Isso mostra como a exploração da commoditty envolve um grande desafio financeiro, mas também traz impactos positivos extremamente relevantes”, diz.

Com as encomendas de navios e plataformas para a exploração do petróleo na região do pré-sal, a Petrobras foi responsável pelo renascimento do setor naval brasileiro. A Vale, por sua vez, teve papel fundamental na reativação da indústria ferroviária, com as compras de 259 locomotivas e 12,5 mil vagões desde 2003. A mineradora também terá participações relevantes em mais da metade dos investimentos brasileiros em aumento de capacidade de produção de aço até 2014. O objetivo, na área siderúrgica, não é necessariamente concorrer com outros compradores de minério de ferro, mas criar garantias de demanda interna caso a economia chinesa reduza o ritmo, conforme explica Agnelli.

“Não existem mais enclaves na mineração moderna. Não se constroem mais vilas para os funcionários. Contribuímos para que os municípios invistam na própria infraestrutura, levamos desenvolvimento para onde vamos”, garante o presidente da Vale.

Se o petróleo e a mineração ainda guardam promessas, na agricultura as vantagens comparativas brasileiras sempre foram evidentes. De acordo com as estatísticas de comércio internacional em 2008, da Organização das Nações Unidas, o País é o maior produtor mundial de proteína animal (bovina, suína e de frango), açúcar, café e tabaco. “O agronegócio brasileiro alcançou um sucesso único nos trópicos, uma atividade mais complexa e integrada à economia”, afirma o economista José Roberto Mendonça de Barros, sócio-diretor da MB Associados. “Em 40 anos, o processamento subiu das zonas mais temperadas do continente para acima dos trópicos, graças ao aproveitamento de vantagens naturais, como água e terra a baixo custo, mas também a um pacote tecnológico, com destaque para a atuação da Embrapa e de outras instituições estatais.”

Mendonça de Barros destaca técnicas como o sistema de plantio direto, que permite o uso quase contínuo dos solos e a obtenção de até três safras por ano ao cobri-los com a palha da colheita anterior. A integração da agricultura com a pecuária e com o reflorestamento também configura soluções tão revolucionárias quanto tipicamente nacionais. A ênfase no agronegócio, garante o economista, pode impulsionar o País em outros setores.

Não são poucas as áreas de pesquisa promissoras para o Brasil a partir da economia do campo. O diretor-geral da Votorantim Industrial, Raul Calfat, prevê para breve o desenvolvimento de uma nova geração de biocombustíveis produzidos a partir dos cavacos de madeira. Se o prognóstico se confirmar, significará uma oportunidade ímpar de agregar valor ao resíduo da produção de celulose da Fibria, líder mundial no setor, controlada pelo Grupo Votorantim. “Plantamos florestas em uma área de 1,2 milhão de hectares, maior do que a Bélgica”, disse o executivo.

“Boa parte da inovação tecnológica não está na indústria, mas nos serviços. A tecnologia da informação, em especial, permite desverticalizar parte da cadeia de serviços que integra o agronegócio”, explica Mendonça de Barros. “Há variedades de cana-de-açúcar que ainda não estão no campo, mas são capazes de aumentar em 40% a produtividade. A biotecnologia, por exemplo, está na fronteira da tecnologia mundial.”

A necessidade de aumento de produtividade, no caso da agricultura, é reforçada por uma realidade histórica: em que pese o aumento da demanda por alimentos, nos últimos 30 anos os preços caíram 5% ao ano, em média, de acordo com dados da Fipe. “Só a tecnologia e a pesquisa vão permitir que continuemos a fazer mais do mesmo, com mais eficiência”, diz o presidente da Associação Brasileira da Indústria Exportadora e Produtora de Carne Suína (Abipecs), Pedro de Camargo Neto. “Esse é o debate que importa.”

A aproximação entre a produção de commodities e os processos industriais, segundo o professor de economia da Unicamp e consultor editorial de CartaCapital Luiz Gonzaga Belluzzo, suprimiu as fronteiras entre as duas atividades. “O setor primário ficou mais secundário, enquanto a Ásia suprimiu a divisão internacional do trabalho. Hoje, o Brasil não pode prescindir da indústria que já criou nem abandonar uma vantagem natural que se tornou dinâmica”, afirma o economista. “Precisamos nos concentrar em resolver entraves, como as deficiências de infraestrutura e a falta de financiamento de longo prazo, o que exige reformas e protagonismo do governo e do setor privado.”

A maior evidência de que os produtos básicos não são entraves, mas sim alavancas para o desenvolvimento, é o desempenho de países como Estados Unidos, Canadá, Austrália e Noruega. De acordo com o consultor Cláudio Frischtak, da Inter.B, trata-se de casos de sucesso de quem soube estruturar um setor industrial em torno de uma base de recursos naturais. “Ao mesmo tempo, esses países foram precursores também nos investimentos em educação, com índices elevados de alfabetização no início do século XX. Essa é a maior prova de que o desenvolvimento não é automático”, conclui.

6 de abril de 2010

A reprise de 2006. Agora, como farsa

do Viomundo

por Luiz Carlos Azenha


Em 2005 e 2006 eu era repórter especial da TV Globo. Tinha salário de executivo de multinacional. Trabalhei na cobertura da crise política envolvendo o governo Lula.

Fui a Goiânia, onde investiguei com uma equipe da emissora o caixa dois do PT no pleito local. Obtivemos as provas necessárias e as reportagens foram ao ar no Jornal Nacional. O assunto morreu mais tarde, quando atingiu o Congresso e descobriu-se que as mesmas fontes financiadoras do PT goiano também tinham irrigado os cofres de outros partidos. Ou seja, a “crise” tornou-se inconveniente.

Mais tarde, já em 2006, houve um pequena revolta de profissionais da Globo paulista contra a cobertura política que atacava o PT mas poupava o PSDB. Mais tarde, alguns dos colegas sairam da emissora, outros ficaram. Na época, como resultado de um encontro interno ficou decidido que deixaríamos de fazer uma cobertura seletiva das capas das revistas semanais.

Funciona assim: a Globo escolhe algumas capas para repercutir, mas esconde outras. Curiosamente e coincidentemente, as capas repercutidas trazem ataques ao governo e ao PT. As capas “esquecidas” podem causar embaraço ao PSDB ou ao DEM. Aquela capa da Caros Amigos sobre o filho que Fernando Henrique Cardoso exilou na Europa, por exemplo, jamais atenderia aos critérios de Ali Kamel, que exerce sobre os profissionais da emissora a mesma vigilância que o cardeal Ratzinger dedicava aos “insubordinados”.

Aquela capa da Caros Amigos, como vimos estava factualmente correta. O filho de FHC só foi “assumido” quando ele estava longe do poder. Já a capa da Veja sobre os dólares de Fidel Castro para a campanha de Lula mereceu cobertura no Jornal Nacional de sábado, ainda que a denúncia nunca tenha sido comprovada.

Como eu dizia, aos sábados, o Jornal Nacional repercute acriticamente as capas da Veja que trazem denúncias contra o governo Lula e aliados. É o que se chama no meio de “dar pernas” a um assunto, garantir que ele continue repercutindo nos dias seguintes.

Pois bem, no episódio que já narrei aqui no blog eu fui encarregado de fazer uma reportagem sobre as ambulâncias superfaturadas compradas pelo governo quando José Serra era ministro da Saúde no governo FHC. Havia, em todo o texto, um número embaraçoso para Serra, que concorria ao governo paulista: a maioria das ambulâncias superfaturadas foi comprada quando ele era ministro.

Ainda assim, os chefes da Globo paulista garantiram que a reportagem iria ao ar. Sábado, nada. Segunda, nada. Aparentemente, alguém no Rio decidiu engavetar o assunto. E é essa a base do que tenho denunciado continuamente neste blog: alguns escândalos valem mais que outros, algumas denúncias valem mais que outras, os recursos humanos e técnicos da emissora — vastos, aliás — acabam mobilizados em defesa de certos interesses e para atacar outros.

Nesta campanha eleitoral já tem sido assim: a seletividade nas capas repercutidas foi retomada recentemente, quando a revista Veja fez denúncias contra o tesoureiro do PT. Um colega, ex-Globo, me encontrou e disse: “A fórmula é a mesma. Parece reprise”.

Ou seja, podemos esperar mais do mesmo:

– Sob o argumento de que a emissora está concedendo “tempo igual aos candidatos”, se esconde uma armadilha, no conteúdo do que é dito ou no assunto que é escolhido. Frequentemente, em 2006, era assim: repercutindo um assunto determinado pela chefia, a Globo ouvia três candidatos atacando o governo (Geraldo Alckmin, Heloisa Helena e Cristovam Buarque) e Lula ou um assessor defendendo. Ou seja, era um minuto e meio de ataques e 50 segundos de contraditório.

– O Bom Dia Brasil é reservado a tentar definir a agenda do dia, com ampla liberdade aos comentaristas para trazer à tona assuntos que em tese favoreçam um candidato em detrimento de outro.

– O Jornal da Globo se volta para alimentar a tropa, recorrendo a um grupo de “especialistas” cuja origem torna os comentários previsíveis.

– Mensagens políticas invadem os programas de entretenimento, como quando Alexandre Garcia foi para o sofá de Ana Maria Braga ou convidados aos quais a emissora paga favores acabam “entrevistados” no programa do Jô.

A diferença é que, graças a ex-profissionais da Globo como Rodrigo Vianna, Marco Aurélio Mello e outros, hoje milhares de telespectadores e internautas se tornaram fiscais dos métodos que Ali Kamel implantou no jornalismo da emissora. Ele acha que consegue enganar alguém ao distorcer, deturpar e omitir.

É mais do mesmo, com um gostinho de repeteco no ar. A história se repete, agora com gostinho de farsa.

Querem tirar a prova? Busquem no site do Jornal Nacional daquele período quantas capas da Veja ou da Época foram repercutidas no sábado. Copiem as capas das revistas que foram repercutidas. Confiram o conteúdo das capas e das denúncias. Depois, me digam o que vocês encontraram.

5 de abril de 2010

Lulão !!!

Pesquisas...




ps. Como a Band ainda mantém esse "senhor" de apresentador?

ps2. Aposto com qualquer um, Serra não faz mais de 40% no segundo turno........se tiver segundo turno