Do Blog do Rui Daher

O NOVO VELHO DESENVOLVIMENTISMO

Sim, há setores da indústria brasileira devagar quase parando, fato que faz o governo quebrar a cabeça e espalhar miolos para melhorar essa situação. Agora mesmo, prometeu raspar vários tachos e destinar R$ 60,4 bilhões para incentivar a atividade fabril. A partir dos anos 1990, o Brasil escolheu percorrer o caminho menos conveniente da globalização e entrou na lorota neoliberalizante dos países ricos. Quebrou algumas vezes.

Quem esteve ativo economicamente no período há de se lembrar. Empreendedor ou empregado, afiada espada ameaçava decapitar-nos. Aos muitos não empregados isso assustava menos. Não mais tinham cabeça. O Estado deveria ser mínimo, não participar da produção e induzir pouco para não gastar. O mesmo que hoje se quer dos gregos.

Se você duvida, esqueceu ou na época não agregava valor ao PIB, feliz coincidência poderá informá-lo. Chame o gênio da lâmpada e pergunte: “Cadê Tereza, onde anda minha Tereza?”. Logo surgirá Jorge Ben Jor e anunciará: Washington. A economista Teresa Ter-Minassian, chefe da missão do FMI, que na década de 1990 negociou pacotes de socorro ao Brasil, há alguns dias palpitou sobre nossa política econômica.

Cética, disse não acreditar em nada do que acontece aqui. Das estatísticas fiscais à capacidade de zerarmos o déficit nominal até 2014. Se não opinou sobre o ritmo das obras da Copa, foi para aliviar a dor que sentiríamos no traseiro. Apesar de Teresa e não Carolina, o tempo passou na janela e só a economista não viu.

Tivéssemos agido mais cedo para ampliar o mercado interno de massa, movendo-o a crédito, ganho real de salários e programas sociais; acelerado obras públicas de infraestrutura; expandido a produção privada com recursos subsidiados pelo BNDES; impedido o pau-de-sebo dos juros que inundou o mercado com capital especulativo; e não mantido o câmbio irreal para controlar a inflação, então, pastas, planilhas e tailleurs de Dona Teresa não teriam vulnerado tanto nossas economia e indústria. Faltou Estado.

Todos os processos econômicos do passado que resultaram em hegemonia de países ou blocos tiveram por trás o suporte de Estados nacionais. Entre os mais recentes, a Inglaterra na segunda metade do século XIX e, no século seguinte, os Estados Unidos e alguns países da Europa Ocidental. Agora, a China.

Uma luta que estamos perdendo há cerca de trinta anos. Inovação tecnológica, prioridade a elementos logísticos competitivos, aumento de capacidades fabris, qualificação de mão de obra, foram itens subalternos à financeirização do sistema econômico.

A queda na participação da indústria em contraposição ao crescimento do setor de serviços aponta claramente para o equívoco da escolha. Entre 2008 e 2011, o saldo da balança comercial da indústria de transformação saiu do equilíbrio (o que já não era um bom desempenho) para um déficit de quase 50 bilhões de dólares.

Restam, enfim, as agropecuária e mineração, mas essas são acusadas de vocação passadista e de não agregarem valor. Perguntam: até quando o País continuará exportando bens primários e importando tecnologia e industrialização alheias?

Simples: até quando esse for o mais valioso e competitivo fator brasileiro de produção com demanda no planeta. É preciso entender que a agropecuária agrega valor, sim. Pelos incrementos de produtividade – maior produção em igual ou menor área de terra – e da cadeia do agronegócio.

O jeito é agarrar essa âncora e esperar o Estado reverter 30 anos de pasmaceira tecnológica e industrial. Ainda é possível pés brasileiros alcançarem o estribo do bonde que levará os principais países emergentes a dividirem com alguns ricos a hegemonia no futuro.