22 de dezembro de 2011

19 de dezembro de 2011

Privataria

13 de dezembro de 2011

e o livro?

28 de novembro de 2011

Ab'Saber: Se Dilma ouvisse quem entende, não concordaria com Código

Retirado do Terra Magazine



O geógrafo Aziz Ab'Aaber: Tem gente que tem propriedade de um milhão de hectares na Amazônia
O geógrafo Aziz Ab'Aaber: "Tem gente que tem propriedade de um milhão de hectares na Amazônia"











Dayanne Sousa

"O geógrafo Aziz Ab'Saber vê com gravidade os rumos da política ambiental brasileira. Enquanto a proposta de reforma no Código Florestal avança e pode ser aprovada em definitivo no próximo mês, estudos apontam erros na concessão de florestas para manejo sustentável. "É muito sério", sentencia o cientista e professor da Universidade de São Paulo (USP).

- Se a dona Dilma ouvisse os cientistas e pessoas que entendem da Amazônia, ela não iria concordar com o Código - critica. Para ele, a discussão está rodeada por intenções apenas políticas. "Eu acho que o pessoal do governo, sobretudo o pessoal da Agricultura e da Ciência e Tecnologia estão inventando tudo o que podem para fazer política".

Estudo feito pela Escola Superior de Agricultura Luis de Queiroz (Esalq), da USP, apontou que o manejo sustentável - regulado pela Lei de Gestão de Florestas Públicas de 2006 - não é viável economicamente. Segundo a pesquisa coordenada pelo professor Edson Vidal, o intervalo de 30 anos imposto para o ciclo de corte não permite a recuperação das espécies com maior interesse comercial.

Ab'Saber destaca a pressão de grupos ruralistas e avalia que há um grande interesse pela manutenção de propriedades na Amazônia.

- Muita gente quer espaço como patrimônio, não é para explorar de forma sustentável. Tem gente que tem propriedade de um milhão de hectares na Amazônia. Até gente do exterior.

Leia a entrevista.

Um artigo recente da Escola Superior de Agricultura Luis de Queiroz (Esalq) dá poucas esperanças de sucesso para o chamado manejo sustentável. A pesquisa estabelece que não seria nem mesmo economicamente viável.
Eu acho que o pessoal do governo, sobretudo o pessoal da Agricultura e da Ciência e Tecnologia estão inventando tudo o que podem para fazer política. O pessoal da Esalq tem suas razões. Lá no governo a coisa está muito séria, a Dilma herdou do Lula um quadro extremamente complicado. E ainda colocaram na Ciência e Tecnologia uma pessoa que nunca gostou de ciência, nunca fez ciência. É muito sério, eu não quero nem dar minha opinião porque eu tenho muitos inimigos. Você precisa ver como o Aldo Rebelo ficou furioso comigo porque eu fiz uma crítica séria da revisão do Código Florestal que ele queria.

Um embate inevitável...
Um dia desses o jornal colocou um morrinho baixinho com um pouquinho de árvore em cima para interpretar as bobagens que o Aldo falou sobre proteção de topos de morro. Só que ele não sabe nada sobre as cimeiras de certas áreas que tem terras altas. Nas regiões intermediárias de 100, de 150 metros de terrenos cristalinos e solo vermelho, tem que conservar toda a cimeira, não é um "morrotezinho". E essas pessoas não sabem enxergar o que está perto dos seus olhos. Aí começa a fazer desenho, deixar que os jornalistas - que não têm culpa - pensem que é um morrotezinho, mas é uma cimeira de serranias florestadas, como é a Cantareira. E a zona costeira também tem outros problemas, precisa de proteção. É preciso conhecer o Brasil!

A política de concessão de florestas tem que ser revista?
Eles estão querendo, em cima do erro grande que já foi feito sobre a revisão do Código Florestal, ampliar a possibilidade de usar espaços em áreas que são reservas integradas na Amazônia. É uma coisa a mais. Precisa ser entendida pela pressão que a dona Kátia Abreu (DEM-TO) e outros estão fazendo. Eles querem é o espaço da Amazônia. Muita gente quer espaço como patrimônio, não é para explorar de forma sustentável.

Se essas alternativas não funcionam, como então cumprir a proposta de aliar desenvolvimento econômico com preservação?
A alternativa é não ampliar o espaço da Reserva Legal das propriedades. Tem gente que tem propriedade de um milhão de hectares na Amazônia. Até gente do exterior. Se você, em vez de conservar os 20% passíveis de serem ocupados por atividades agrárias, passar para 80%, imagina o que vai ser. Vão arrasar tudo, vender para terceiros desesperados para ter um patrimoniozinho.

Como o senhor tem acompanhado a discussão do Código Florestal? Tem alguma expectativa de que ela possa terminar bem?
Se a dona Dilma ouvisse os cientistas e pessoas que entendem da Amazônia, ela não iria concordar com o Código. Tenho plena certeza, pela competência e pela sensatez que ela tem, ela não iria concordar com o que esse pessoal está fazendo."

2 de novembro de 2011

Kennedy Alencar - Lula

Eu não vou me mover

1 de novembro de 2011

Guia de boas maneiras, por Maria Inês Nassif

Da Carta Maior

Guia de boas maneiras na política. E no jornalismo

A obsessão da elite brasileira em tentar desqualificar Lula é quase patológica. E a compulsão por tentar aproveitar todos os momentos, inclusive dos mais dramáticos do ponto de vista pessoal, para fragilizá-lo, constrange quem tem um mínimo de bom senso.

A cultura de tentar ganhar no grito tem prevalecido sobre a boa educação e o senso de humanidade na política brasileira. E o alvo preferencial do “vale-tudo” é, em disparada, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Por algo mais do que uma mera coincidência, nunca antes na história desse país um senador havia ameaçado bater no presidente da República, na tribuna do Legislativo. Nunca se tratou tão desrespeitosamente um chefe de governo. Nunca questionou-se tanto o merecimento de um presidente – e Lula, além de eleito duas vezes pelo voto direto e secreto, foi o único a terminar o mandato com popularidade maior do que quando o iniciou.

A obsessão da elite brasileira em tentar desqualificar Lula é quase patológica. E a compulsão por tentar aproveitar todos os momentos, inclusive dos mais dramáticos do ponto de vista pessoal, para fragilizá-lo, constrange quem tem um mínimo de bom senso. A campanha que se espalhou nas redes sociais pelos adversários políticos de Lula, para que ele se trate no Sistema Único de Saúde (SUS), é de um mau gosto atroz. A jornalista que o culpou, no ar, pelo câncer que o vitimou, atribuindo a doença a uma “vida desregrada”, perdeu uma grande chance de ficar calada.

Até na política as regras de boas maneiras devem prevalecer. Numa democracia, o opositor é chamado de adversário, não de inimigo (para quem não tem idade para se lembrar, na nossa ditadura militar os opositores eram “inimigos da pátria”). Essa forma de qualificar quem não pensa como você traz, implicitamente, a ideia de que a divergência e o embate político devem se limitar ao campo das ideias. Esta é a regra número um de etiqueta na política.

A segunda regra é o respeito. Uma autoridade, principalmente se se tornou autoridade pelo voto, não é simplesmente uma pessoa física. Ela é representante da maioria dos eleitores de um país, e se deve respeito à maioria. Simples assim. Lula, mesmo sem mandato, também o merece. Desrespeitar um líder tão popular é zombar do discernimento dos cidadãos que o apoiam e o seguem. Discordar pode, sempre.

A terceira regra de boas maneiras é tratar um homem público como homem público. Ele não é seu amigo nem o cara com quem se bate boca na mesa de um bar. Essa regra vale em dobro para os jornalistas: as fontes não são amigas, nem inimigas. São pessoas que estão cumprindo a sua parte num processo histórico e devem ser julgadas como tal. Não se pode fazer a cobertura política, ou uma análise política, como se fosse por uma questão pessoal. Jornalismo não deve ser uma questão pessoal. Jornalistas têm inclusive o compromisso com o relato da história para as gerações futuras. Quando se faz jornalismo com o fígado, o relato da história fica prejudicado.

A quarta regra é a civilidade. As pessoas educadas não costumam atacar sequer um inimigo numa situação tão delicada de saúde. Isso depõe contra quem ataca. E é uma péssima lição para a sociedade. Sentimentos de humanidade e solidariedade devem ser a argamassa da construção de uma sólida democracia. Os formadores de opinião tem a obrigação de disseminar esses valores.

A quinta regra é não se deixar contaminar por sentimentos menores que estão entranhados na sociedade, como o preconceito. O julgamento sobre Lula, tanto de seus opositores políticos como da imprensa tradicional, sempre foi eivado de preconceito. É inconcebível para esses setores que um operário, sem curso universitário e criado na miséria, tenha ascendido a uma posição até então apenas ocupada pelas elites. A reação de alguns jornalistas brasileiros que cobriram, no dia 27 de setembro, a solenidade em que Lula recebeu o título “honoris causa” pelo Instituto de Estudos Políticos de Paris, é uma prova tão evidente disso que se torna desnecessário outro exemplo.

No caso do jornalismo, existe uma sexta regra, que é a elegância. Faltou elegância para alguns dos meus colegas.

(*) Colunista política, editora da Carta Maior em São Paulo.

20 de outubro de 2011

Primeiro de abril: Segundo “O Globo”, nascia um paraíso

Publicado em 30 de março de 2008 às 21:47, no Viomundo antigo

editorial de “O Globo”, em 02/04/1964

"Vive a Nação dias gloriosos. Porque souberam unir-se todos os patriotas, independentemente de vinculações políticas, simpatias ou opinião sobre problemas isolados, para salvar o que é essencial: a democracia, a lei e a ordem. Graças à decisão e ao heroísmo das Forças Armadas, que obedientes a seus chefes demonstraram a falta de visão dos que tentavam destruir a hierarquia e a disciplina, o Brasil livrou-se do Governo irresponsável, que insistia em arrastá-lo para rumos contrários à sua vocação e tradições.

Como dizíamos, no editorial de anteontem, a legalidade não poderia ser a garantia da subversão, a escora dos agitadores, o anteparo da desordem. Em nome da legalidade, não seria legítimo admitir o assassínio das instituições, como se vinha fazendo, diante da Nação horrorizada.

Agora, o Congresso dará o remédio constitucional à situação existente, para que o País continue sua marcha em direção a seu grande destino, sem que os direitos individuais sejam afetados, sem que as liberdades públicas desapareçam, sem que o poder do Estado volte a ser usado em favor da desordem, da indisciplina e de tudo aquilo que nos estava a levar à anarquia e ao comunismo.

Poderemos, desde hoje, encarar o futuro confiantemente, certos, enfim, de que todos os nossos problemas terão soluções, pois os negócios públicos não mais serão geridos com má-fé, demagogia e insensatez.

Salvos da comunização que celeremente se preparava, os brasileiros devem agradecer aos bravos militares, que os protegeram de seus inimigos. Devemos felicitar-nos porque as Forças Armadas, fiéis ao dispositivo constitucional que as obriga a defender a Pátria e a garantir os poderes constitucionais, a lei e a ordem, não confundiram a sua relevante missão com a servil obediência ao Chefe de apenas um daqueles poderes, o Executivo.

As Forças Armadas, diz o Art. 176 da Carta Magna, “são instituições permanentes, organizadas com base na hierarquia e na disciplina, sob a autoridade do Presidente da República E DENTRO DOS LIMITES DA LEI.”

No momento em que o Sr. João Goulart ignorou a hierarquia e desprezou a disciplina de um dos ramos das Forças Armadas, a Marinha de Guerra, saiu dos limites da lei, perdendo, conseqüentemente, o direito a ser considerado como um símbolo da legalidade, assim como as condições indispensáveis à Chefia da Nação e ao Comando das corporações militares. Sua presença e suas palavras na reunião realizada no Automóvel Clube, vincularam-no, definitivamente, aos adversários da democracia e da lei.

Atendendo aos anseios nacionais, de paz, tranqüilidade e progresso, impossibilitados, nos últimos tempos, pela ação subversiva orientada pelo Palácio do Planalto, as Forças Armadas chamaram a si a tarefa de restaurar a Nação na integridade de seus direitos, livrando-os do amargo fim que lhe estava reservado pelos vermelhos que haviam envolvido o Executivo Federal.

Este não foi um movimento partidário. Dele participaram todos os setores conscientes da vida política brasileira, pois a ninguém escapava o significado das manobras presidenciais. Aliaram-se os mais ilustres líderes políticos, os mais respeitados Governadores, com o mesmo intuito redentor que animou as Forças Armadas. Era a sorte da democracia no Brasil que estava em jogo.

A esses líderes civis devemos, igualmente, externar a gratidão de nosso povo. Mas, por isto que nacional, na mais ampla acepção da palavra, o movimento vitorioso não pertence a ninguém. É da Pátria, do Povo e do Regime. Não foi contra qualquer reivindicação popular, contra qualquer idéia que, enquadrada dentro dos princípios constitucionais, objetive o bem do povo e o progresso do País.

Se os banidos, para intrigarem os brasileiros com seus líderes e com os chefes militares, afirmarem o contrário, estarão mentindo, estarão, como sempre, procurando engodar as massas trabalhadoras, que não lhes devem dar ouvidos. Confiamos em que o Congresso votará, rapidamente, as medidas reclamadas para que se inicie no Brasil uma época de justiça e harmonia social. Mais uma vez, o povo brasileiro foi socorrido pela Providência Divina, que lhe permitiu superar a grave crise, sem maiores sofrimentos e luto. Sejamos dignos de tão grande favor."

O “vocabulerolero” da velha mídia

Blog do Emir Sader

"Aqui algumas indicações sobre como ler a velha mídia. Nada do que é dito vale pelo seu valor de face. Tudo remete a um significado, cuja arte é tratar de camuflá-lo bem.

Por exemplo, quando dizem liberdade de imprensa, querem liberdade de empresa, das suas empresas, de dizerem, pelo poder da propriedade que tem, de dizer o que pensam.

A chave está em fazer passar o que pensam pelo interesse geral, pelas necessidades do país. Daí que nunca fazem o que deveriam fazer. Isto e’, dizer, por exemplo: “A família Frias acha que…” Ou: “A família Civita acha que…” e assim por diante.

A arte da manipulação reside em construções em que os sujeitos (eles) ficam ocultos. Usam formulas como: “É mister”, “Faz-se necessário”, “É fundamental”, “É’ indispensável”.

Sempre cabe a pergunta: Quem, cara pálida? Eles, os donos da empresa. Sempre tentar passar a ideia de que falam em nome do país, do Brasil, da comunidade, de todos, quando falam em nome deles. A definição mais precisa de ideologia: fazer passar interesses particulares pelos interesses gerais.

Quando dizem “fazer a lição de casa”, querem dizer, fazer duro ajuste fiscal. Quando falam de “populismo”, querem dizer governo que prioriza interesses populares. Quando falam de “demagogia”, se referem a discursos que desmascaram os interesses das elites, que tratam de ocultar.

Quando falam de “liberdade de expressão”, estão falando no direito deles, famílias proprietárias das empresas monopolistas da mídia, dizerem o que bem entendem. Confundem liberdade de imprensa com liberdade de empresas – as deles.

No “vocabulerolero” indispensável para entender o que a mídia expressa de maneira cifrada, é preciso entender que quando falam de “governo responsável”, é aquele que prioriza o combate à inflação, às custas das políticas sociais. Quando falam de “clientelismo”, se referem às politicas sociais dos governos.

Quando falam de “líder carismático”, querem desqualificar os discursos os lideres populares, que falam diretamente ao povo sobre seus interesses.

Quando falam de “terrorismo”, se referem aos que combatem ou resistem a ações norte-americanas. “Sociedades livres” são as de “livre mercado”. Democráticos sao os países ocidentais que tem eleições periódicas, separação dos três poderes, variedade de siglas de partidos e “imprensa livre”, isto é, imprensa privada.

“Democrático” é o pais aliado dos EUA – berço da democracia. Totalitário é o inimigo dos EUA.

Quando dizem “Basta” ou “Cansei”, querem dizer que eles não aguentam mais medidas populares e democráticas que afetam seus interesses e os seus valores.

Entre a velha mídia e a realidade se interpõe uma grossa camada de mecanismos ideológicos, com os quais tentam passar seus interesses particulares como se fossem interesses gerais. É o melhor exemplo do que Marx chamava de ideologia: valores e concepções particulares que pretendem promover-se a interesses da totalidade. Para isso se valem de categorias enganosas, que é preciso desmistificar cotidianamente, para que possamos enxergar a realidade como ela é."

Emir Sader, sociólogo e cientista, mestre em filosofia política e doutor em ciência política pela USP – Universidade de São Paulo.

27 de setembro de 2011

Rivaldo, o anti-anti-herói

Da Carta Capital

Aos 39, jogador dá aula para os meninos mimados da geração 2000 e vira símbolo de um campeonato que anda consagrando atletas desacreditados. Foto: Por Rubens Chiri / saopaulofc.net

Rivaldo é o grande meia-atacante brasileiro que já vi atuar. Não vi Zico, não vi Sócrates, não vi Gerson, não vi Rivellino. Mas posso dizer que, de 1994, quando fui contaminado pela praga de ser torcedor, até os dias atuais, nunca vi ninguém – nem Ronaldinho Gaúcho nem Kaká nem Paulo Henrique Ganso – fazer tanto pelo futebol brasileiro como o atual jogador do São Paulo.

Rivaldo é também o atleta que, por pouco, não sofreu uma das maiores injustiças do futebol nacional ao se aposentar num time pequeno, o Mogi Mirim (que também presidia), sem lembrar o gosto de fazer levantar uma torcida – algo que fazia com mais frequência até o final da década passada, quando viveu seu auge no Barcelona. De 1991, quando estreou pelo Santa Cruz, até hoje, o meia pernambucano disputou e ganhou praticamente tudo o que era possível, de campeonato paulista a Copa do Mundo. Foi ídolo no Corinthians, no Palmeiras e agora, no São Paulo, algo que pouca gente conseguiu.

Se tivesse ficado no Mogi Mirim, time pelo qual ganhou projeção, seguiria fazendo estrago. Mas não estamparia sua foto em capas de jornais e revistas esportivas nem seria reconhecido, como deveria, como autoridade no esporte ao qual se dedicou como operário-padrão.

Porque Rivaldo é um operário-padrão: há alguns meses, era um reserva inutilizado num time que não empolgava e hoje é o 12º titular de um sério candidato ao título. Nas duas situações, quando foi a campo, limitou-se a jogar bola. Deveria dar algumas aulas ao zagueiro Chicão, o candidato a ex-craque do Corinthians que virou reserva e se negou a ficar no banco, à disposição do clube que paga o seu salário, no clássico contra o São Paulo.

Por essas e outras, Rivaldo é uma espécie de anti-anti-herói do futebol nacional. Estourou num tempo em que a moda era ser bad boy, acelerar carro importado na rota das boates de luxo, dar declarações ofensivas ao adversário, comemorar gol imitando bicho, apontando dedo pra torcida (contra ou a favor, não importa) ou aparecendo com uma namorada nova a cada nova capa da revista Caras. Aos 39 anos, é muito provável que ele encerre a carreira num tempo que também não é dele: um tempo em que craque que é craque dá embaixadinha em tubo de antitranspirante para os pés ou posa de modelo de cueca e meia na propaganda da tevê.

O talento para garoto-propaganda é tanto que, em sua estreia pelo clube, quando marcou seu primeiro gol (na vitória contra o Linense, por 3 a 2, pelo Paulistão), o que era festa virou esporro: na hora de comemorar, como sempre, ergueu a camisa sobre a cabeça. O patrocinador, que precisava aparecer na estreia do pentacampeão, não apareceu na foto. Dirigentes e representantes da logomarca custaram a acreditar no que viram – no caso, no que não viram.

Rivaldo não tem busto de homenagem em nenhum clube por onde passou. E, se dependesse de seu apelo na tevê, morreria sem. Alto, magro e desengonçado, Rivaldo já foi alvo de comentarista esportivo que, em brincadeira/deboche, dizia que ele mais parecia um pedreiro do que jogador profissional – algo que talvez não fosse dito se o jogador pernambucano tivesse sotaque do Sul. E talvez fosse mais admirado se fosse mais gente fina com as emissoras, fizesse como todo mundo e imitasse o João Sorrisão em frente das câmeras a cada gol. Rivaldo chegou a ser recriminado por não participar da brincadeira e se negar a rebolar para o programa de tevê.

Enquanto falam da sua timidez, Rivaldo joga bola: anotou cinco gols no Brasileiro com muito menos tempo e mais idade em campo que muito moleque mimado que faz a alegria dos programas esportivos pretensamente engraçadinhos. A maioria dos gols foi decisiva. O último, por exemplo, impediu a derrota do seu time contra o Botafogo, em pleno Engenhão. Quando entrou em campo, o São Paulo perdia por 2 a 0. O gol de empate, marcado por ele já nos minutos finais, veio numa bola cruzada por Rogério Ceni.

Um colega, corintiano de andar de joelhos os anéis do futuro Itaquerão, chegou a comentar, dias atrás, que não lamentaria nenhum gol que Rivaldo anotasse pelos rivais do São Paulo. A promessa está mantida.

Gostem ou não, Rivaldo é hoje o principal exemplo de um campeonato que, se terminasse agora, consagraria atletas que há pouco tempo eram esnobados pelos clubes pelos quais passaram. Tecnicamente, a edição 2011 do Brasileiro pode não ser a mais brilhante (e qual é que foi?), mas, a exemplo do Rivaldo, tem sido didática em vários sentidos. Se terminasse hoje, teria como campeão um time praticamente formado por refugos, a começar pelo treinador, hoje ausente por problemas de saúde e que parecia desacreditado até conquistar, no primeiro semestre, a Copa do Brasil com o Vasco da Gama. O grande destaque da equipe é Diego Souza, escorraçado no Palmeiras e mal aproveitado no Atlético Mineiro nas duas últimas temporadas. Jumar, Eder Luís, Alecssandro e Leandro não brilham com a mesma intensidade, mas têm históricos parecidos de injustiças e perseguições.

Juninho Pernambucano, espécie de líder do time, era considerado um ex-jogador em atividade, e ao deixar o futebol árabe chegou a ser esnobado por metade dos clubes brasileiros. Humilde, voltou ao clube pelo qual se consagrou com um salário muito, mas muito abaixo do inflacionado mercado da bola. A torcida não poderia ser mais grata. Hoje, ele e o time de refugos vascaínos jogam bola e ofuscam muito pseudo-ídolo mimado que surge em campo como nova promessa.

Por fim, vale lembrar também que o artilheiro do campeonato, o santista Borges, é o mesmo atacante que no Grêmio e no São Paulo praticamente tinha que pedir licença para jogar.

Enquanto isso, a aposta em estrelas feita por outros clubes começam a dar em nada. O Palmeiras, por exemplo, dá uma lição a cada jogo sobre como minar qualquer desenho de união em uma equipe ao dar afagos e mimos a dois jogadores, antigos quase ídolos, que estão tão preocupados com o clube quanto com o drama das formigas albinas da Malásia. Cai pelas tabelas porque nitidamente a base de operários não está disposta a segurar a onda dos reizinhos Kleber e Valdívia – que, juntos, somam quatro gols no campeonato, menos do que Rivaldo, com quase o dobro da idade deles. Dá para pensar que o técnico Felipão rola de raiva quando vê pela tevê cada gol do jogador que ele decidiu aposentar precocemente, ao cortar qualquer possibilidade de Rivaldo voltar a atuar no Parque Antártica porque estaria velho. Achou que estaria em melhores mãos (ou pés) com Patrick e Luan.

Rivaldo tem também mais gols que Paulo Henrique Ganso, o menino prodígio do Santos que ultimamente anda com mais vontade de fazer foto para comercial do que em ampliar a marca de dois gols que soma no campeonato. Mário Fernandes, o jogador do Grêmio que dormiu na casa de um amigo e “esqueceu” de servir à seleção, tem, por exemplo, um mísero gol no Brasileiro. A geração dos meninões não poderia estar mais bem representada.

Como no futebol não existe lógica, eu que não vou me arriscar aqui a dizer que a aposta em jogadores supostamente com o moral baixo é o melhor custo-benefício para se montar equipes competitivas. Mas nunca duvidei o que a fome de querer vingar injustiças pode produzir no futebol. Nessa, Rivaldo, que já deveria estar consagrado, é o melhor exemplo – mesmo que lhe falte o talento para rebolar feito o João Sorrisão.

Chico Teixeira

Alvorada Brasileira

(Chico Teixeira)


Amanheceu o dia,
e eu sinto no peito
O perfume da flor
Que em saudações primeiras
Vem saudar quem tem amor
Vem apagar tristezas
só lembrar do que foi bom
E caminhar no tempo,
deixando no peito
O sentido da flor
Pois amanhã será nós dois,
um romance
Sob a sombra das palavras
Depois que o dia clareou
muito tempo já passou
E amanheceu nós dois a luz
da alvorada brasileira
Vem apagar tristezas...

IRA!




7 de setembro de 2011

1.000 Jogos!

24 de agosto de 2011

Mulher ou militante

Da CartaCapital

Maria Rita Kehl

24 de agosto de 2011 às 9:45h

Que diferença representa para o Brasil a eleição, pela primeira vez na nossa história, de uma presidente mulher? No plano simbólico, é evidente que a escolha de Dilma Rousseff para presidente ou presidenta do Brasil revela a ausência, ou pelo menos a irrelevância dos preconceitos sexistas na determinação do voto de grande parte dos brasileiros. Também não houve, em público, manifestações machistas em reação aos primeiros problemas enfrentados pela presidenta. Passados quase oito meses desde a posse, os recentes escândalos em alguns ministérios, os primeiros sinais de inflação e o risco de desaceleração econômica provocaram uma queda de 8 pontos na aprovação da presidenta, que ainda -assim continua mais alta do que a de todos os seus antecessores em início de governo-, desde a volta das eleições diretas.

Grosso modo, a escolha de Dilma parece ter sido mais pautada por razões políticas e interesses de classe do que pelo imaginário de gênero. Se assim foi, o mérito é todo dela. Durante os oito anos de seus dois governos, o presidente Lula perdeu grandes oportunidades de politizar os eleitores ao definir a relação necessariamente conflituosa entre a sociedade e seus governantes a partir de metáforas ligadas à vida familiar. Fiel ao seu estilo de "homem cordial", na acepção de Ribeiro Couto e Sérgio Buarque de Hollanda, Lula desde o início se apresentou como pai dos brasileiros. Antes da campanha de 2010, já apresentava sua futura candidata como a "mãe do PAC". Dilma comprou o rótulo por conveniência, mas teve o mérito de não encarnar o estereótipo maternal que faria par com o estilo carismático e paternalista de Lula.

Quanto à identificação de Dilma com as causas feministas, vale lembrar que a presidenta em toda sua longa trajetória política – se contarmos desde os anos de militância no grupo VAR-Palmares, na década de 1970 – nunca foi uma típica militante feminista. Como outras raras mulheres independentes de sua geração, as opções políticas da jovem Dilma Rousseff pautaram-se antes por causas universais – liberdade, igualdade, socialismo – do que pelas lutas de gênero, que, no Brasil, só se impuseram com mais força depois da derrota das organizações armadas. Quando as pioneiras das causas feministas começavam a levantar suas bandeiras, por aqui, a militante "Wanda" estava na cadeia.

Os preconceitos sexistas mais pesados contra ela surgiram durante a campanha, não por parte de eleitores, mas dos adversários políticos. O modo violento como a campanha de José Serra tentou explorar a polêmica sobre o aborto, a meu ver, não teria sido o mesmo com um candidato homem. Ao tentar caracterizar a possível simpatia de Dilma pela legalização do aborto como um grave delito de opinião, Serra apostou na convicção popular de que a mulher que não criminaliza o aborto é um monstro que mata criancinhas. Dilma não enfrentou a polêmica com a seriedade que o caso exigia, mas pelo menos não desceu tão baixo. Em todo caso, nunca saberemos até onde a oposição teria chegado se a notícia de um suposto aborto de Mônica Serra não tivesse vindo à baila.

Outro preconceito que se manifestou durante a campanha foi o de que, sendo mulher, a candidata não teria pulso- -firme para segurar os "radicais do PT". Que saudades do tempo em que o PT contava com alguns radicais a incomodar a geleia geral do Congresso. No atual- estado da arte, o governo Dilma corre- mais risco de se descaracterizar em -razão do -excesso de aliados ao centro e à direita do que pela pressão de supostos radicais à esquerda. Além do onipresente PMDB, com sua prática de toma lá dá cá que já se incorporou ao folclore político do jeitinho brasileiro, a barca do governo- terá- de acolher -agora os -intere-sses do novo- PSD, criado pelo prefeito de São Paulo para abocanhar cargos e supremacias junto ao governo federal.

Será mais difícil a uma mulher defender-se da sedução e da chantagem de tais aliados? Não parece. A recente "faxina" (trabalho de mulher?...) executada pela presidenta no Ministério dos Transportes, assim como o atual embate com a "banda podre" do PMDB, a fim de eliminar os cabides de emprego na Agricultura, a despeito das ameaças de perda de apoio por parte da base aliada – problema que só uma reforma política poderia -sanar –, demonstra que Dilma teve a lucidez de perceber que com amigos assim ninguém precisa de inimigos. O destemor da primeira mulher presidente do Brasil, para além de sua forte história de coragem política, pode também ser explicado pela consciência da desvantagem de seu estilo pessoal em comparação com o -carisma popular que permitiu ao presidente Lula ser leniente com a corrupção sem perder prestígio entre eleitores, nem (consequentemente) apoio entre a classe política.

Na via oposta, penso que os preconceitos favoráveis a uma candidata mulher também não ajudam a politizar o debate. Seria uma presidenta mais apta a "cuidar com zelo materno" de seu povo? Escolho ao acaso exemplos brasileiros que contrariam tal premissa. Entre as poucas governadoras brasileiras, temos Roseana Sarney, filha de cacique político que governa o estado com o pior IDH do País. No Sul, a ex-governadora Yeda Crusius, em 2009, colocou o aparato militar da PM do estado para intimidar os participantes da festa dos 25 anos do MST. Maternais? Protetoras dos fracos e oprimidos? No Senado, basta mencionar o estilo fálico de Kátia Abreu, ativa defensora dos direitos do agronegócio contra os ambientalistas que tentam preservar o que restou das florestas de Mato Grosso e de outras regiões da Amazônia Legal.

A própria Dilma, se fosse mais "maternal", teria defendido com maior firmeza a qualidade de vida dos operários da Usina de Jirau, submetidos a condições subumanas no canteiro de obras da Camargo Corrêa. Ou tentaria conciliar a brutal agenda desenvolvimentista com medidas efetivas de preservação da natureza, em prol da saúde das próximas gerações. O compromisso com as causas feministas poderia levar Dilma Rousseff a se manifestar de maneira mais clara no debate sobre a descriminalização do aborto, mas parece que o escândalo que se promoveu em torno do assunto, durante a campanha, contribuiu para transformar o aborto numa espécie de tabu político para a atual gestão.

Outras questões relativas à saúde das mulheres, no entanto, ainda podem ser contempladas no governo Dilma. Os casos mais óbvios seriam novas políticas de proteção à maternidade, com ênfase no amparo às mães adolescentes. Além disso, toda e qualquer melhora no atendimento à saúde de maneira geral beneficiaria as mulheres, acostumadas a cuidar não apenas da saúde dos filhos, mas também de pais, sogros e maridos. Ainda há tempo para esperar da primeira mulher presidente do Brasil medidas que diminuam a desigualdade de gênero no País, sobretudo nas classes mais baixas.

Essa esperança se deve ao fato de Dilma, em sua trajetória pessoal e política, ter escolhido as alternativas progressistas que se apresentaram à sua geração. Afinal, a característica mais marcante da presidenta é sua longa trajetória como militante radical de esquerda. Esse segundo aspecto de sua biografia coloca o País diante de um fato espantoso, bem menos alardeado na imprensa: o de que há menos de quatro décadas a atual chefe das Forças Armadas estava pendurada no pau de arara em uma dependência clandestina desse mesmo Exército, seminua, a levar choques elétricos, pancadas e socos até o limite da exaustão, em consequência de sua participação na luta contra a ditadura. Ali, segundo entrevista concedida em 2009 para o blog do Luis Nassif, a militante "Wanda" aprendeu a "mentir adoidado" para defender os companheiros que ainda estavam em liberdade. Ali, frequentemente perdeu a noção de tempo entre uma sessão e outra, jogada sem roupas no chão de um banheiro frio para refletir melhor se não seria o caso de "tomar juízo" e delatar alguém. O pior da vida no presídio, disse Dilma na entrevista, eram os períodos de espera, sem saber quando e como seria o próximo round com os torturadores.

Por conta desse episódio, Dilma Rousseff conhece o valor inestimável da solidariedade entre companheiras de prisão, homenageadas por ela em um dos momentos mais emocionantes da festa da posse. "Devo grande parte de ter superado (...) e aguentado (a tortura) às minhas companheiras de cela", declarou Dilma a Nassif na entrevista de 2009, ao mencionar o recurso inteligente e corajoso inventado por elas para "dessolenizar" o medo da tortura através do humor. Cada vez que uma prisioneira era levada para o interrogatório, as outras piscavam um olho cúmplice e ironizavam: "Não se preocupe, companheira. Se você for torturada, a gente denuncia..."

Graças ao que aprendeu com essa experiência, se é que se pode escrever "graças" num caso assim, Dilma teria desenvolvido a capacidade de manter sangue frio diante do torturador, a calcular o que podia ser dito, porque já era sabido, e o que deveria ser calado com falsa tranquilidade, sem nunca afrontar o inimigo para não aumentar sua fúria. Por ironia, não do destino, mas da política, é possível que o exercício democrático do poder venha a exigir que a presidenta recorra, no presente, aos mesmos recursos de resistência que soube desenvolver em sua sinistra temporada nos porões da ditadura. Astúcia e sangue frio podem lhe valer mais do que a força, nas inúmeras vezes em que for encostada contra a parede pelos aliados do governo, caso decida permanecer menos leniente com a corrupção e com o cinismo palaciano do seu antecessor cordial.

Muito mais significativo diante do profundo conservadorismo brasileiro do que ser governado por uma mulher é ter uma presidenta que conheceu, por dentro e na pele, a violência e o arbítrio da ditadura militar. Nesse quesito, a posição tíbia dos sucessivos governos brasileiros diante da ala conservadora do Exército envergonha o País diante do mundo, em particular a América Latina. De Dilma, que afinal se decidiu a substituir o sinistro Nelson Jobim no Ministério da Defesa, espera-se uma posição decisiva a favor da abertura da investigação sobre os desaparecidos políticos do governo militar, assim como a decisão de tornar públicos os nomes dos assassinos e torturadores, praticantes de crimes de Estado não contemplados pela Lei da Anistia.

Ao fazer valer o direito das famílias dos militantes assassinados e desaparecidos, a presidenta alcançaria também o efeito de prevenir a perpetuação dos assassinatos de jovens das periferias brasileiras por policiais militares, a quem, até hoje, nenhum governante disse com firmeza que tais práticas não seriam mais admitidas por aqui. O Brasil foi o único país da América Latina que encerrou uma ditadura sem julgar publicamente nem punir seus torturadores. Indiretamente, os termos em que se negociou a Lei da Anistia por aqui funcionaram como um aval para a perpetuação da violência do Estado.

No livro O Que Resta da Ditadura: A exceção brasileira (Edson Teles e Vladimir Safatle orgs., Ed. Boitempo), a procuradora Flávia Piovesan cita pesquisa feita pela norte-americana Kathryn Sikkink em que se revela que o julgamento dos crimes contra direitos humanos serve para fortalecer, e não para enfraquecer, o Estado de Direito. A pesquisa de Sikking revela que, depois do fim do período militar no Brasil, a violência policial tornou-se maior do que a da Argentina durante a ditadura. De uma presidenta que foi presa política por ter lutado em favor das liberdades democráticas se espera que atue decisivamente para condenar, no passado, e eliminar, no presente, a violência dos agentes do Estado que a sociedade, envergonhada, acostumou-se a considerar como um traço indelével da "cultura" brasileira.

*Maria Rita Kehl é psicanalista

13 de agosto de 2011

American

4 de agosto de 2011

Nelson Jobim fora, Celso Amorim Ministro da Defesa

O terrorista de olhos azuis

Frei Betto

Preconceitos, como mentiras, nascem da falta de informação (ignorância) e excesso de repetição. Se pais de uma criança branca se referem em termos pejorativos a negros e indígenas, judeus e homossexuais, dificilmente a criança, quando adulta, escapará do preconceito.

A mídia usamericana incutiu no Ocidente o sofisma de que todo muçulmano é um terrorista em potencial. O que induziu o papa Bento XVI a cometer a gafe de declarar, na Alemanha, que o Islã é originariamente violento e, em sua primeira visita aos EUA, comparecer a uma sinagoga sem o cuidado de repetir o gesto numa mesquita.

Em qualquer aeroporto de países desenvolvidos um passageiro em trajes islâmicos ou cujos traços fisionômicos lembrem um saudita, com certeza será parado e meticulosamente revistado. Ali reside o perigo... alerta o preconceito infundido.

Ora, o terrorismo não foi inventado pelos fundamentalistas islâmicos. Dele foram vítimas os árabes atacados pelas Cruzadas e os 70 milhões de indígenas mortos na América Latina, no decorrer do século 16, em decorrência da colonização ibérica.

O maior atentado terrorista da história não foi a queda, em Nova York, das torres gêmeas, há 10 anos, e que causou a morte de 3 mil pessoas. Foi o praticado pelo governo dos EUA: as bombas atômicas em Hiroshima e Nagasaki, em agosto de 1945. Morreram 242.437 mil civis, sem contar as mortes posteriores por efeito da contaminação.

Súbito, a pacata Noruega – tão pacata que, anualmente, concede o Prêmio Nobel da Paz – vê-se palco de dois atentados terroristas que deixam dezenas de mortos e muitos feridos. A imagem bucólica do país escandinavo é apenas aparente. Tropas norueguesas também intervêm no Afeganistão e deram apoio aos EUA na guerra do Iraque.

Tão logo a notícia correu mundo, a suspeita recaiu sobre os islâmicos. O duplo atentado, no gabinete do primeiro-ministro e na ilha de Utoeya, teria sido um revide ao assassinato de Bin Laden e às caricaturas de Maomé publicadas pela imprensa escandinava. O preconceito estava entranhado na lógica ocidental.

A verdade, ao vir à tona, constrangeu os preconceituosos. O autor do hediondo crime foi o jovem norueguês Anders Behring Breivik, 32 anos, branco, louro, de olhos azuis, adepto da fisicultura e dono de uma fazenda de produtos orgânicos. O tipo do sujeito que jamais levantaria suspeitas na alfândega dos EUA. Ele "é dos nossos", diriam os policiais condicionados a suspeitar de quem não tem a pele suficientemente clara nem olhos azuis ou verdes.

Democracia é diversidade de opiniões. Mas o que o Ocidente sabe do conceito de terrorismo na cabeça de um vietnamita, iraquiano ou afegão? O que pensa um líbio sujeito a ser atingido por um míssil atirado pela OTAN sobre a população civil de seu país, como denunciou o núncio apostólico em Trípoli?

Anders é um típico escandinavo. Tem a aparência de príncipe. E alma de viking. É o que a mídia e a educação deveriam se perguntar: o que estamos incutindo na cabeça das pessoas? Ambições ou valores? Preconceitos ou princípios? Egocentrismo ou ética?

O ser humano é a alma que carrega. Amy Winehouse tinha apenas 27 anos, sucesso mundial como compositora e intérprete, e uma fortuna incalculável. Nada disso a fez uma mulher feliz. O que não encontrou em si ela buscou nas drogas e no álcool. Morreu prematuramente, solitária, em casa.

O que esperar de uma sociedade em que, entre cada 10 filmes, 8 exaltam a violência; o pai abraça o filho em público e os dois são agredidos como homossexuais; o motorista de um Porsche se choca a 150km por hora com uma jovem advogada que perece no acidente e ele continua solto; o político fica indignado com o bandido que assaltou a filha dele e, no entanto, mete a mão no dinheiro público e ainda estranha ao ser demitido?

Enquanto a diferença gerar divergência permaneceremos na pré-história do projeto civilizatório verdadeiramente humano.

25 de julho de 2011

Celeste

20 de julho de 2011

A resposta do MST que o Globo não publicou

http://www.mst.org.br/Por-que-a-populacao-nao-sai-as-ruas-contra-a-corrupcao-mst-responde-globo-nao-publica


Por que o Brasil não sai às ruas contra a corrupção?

Arrisco uma tentativa de responder essa pergunta ampliando e diversificando o questionamento: por que o Brasil não sai às ruas para as questões políticas que definem os rumos do nosso país? O povo não saiu às ruas para protestar contra as privatizações – privataria – e a corrupção existente no governo FHC. Os casos foram numerosos - tanto é que substituiu-se o Procurador Geral da Republica pela figura do “Engavetador Geral da República”.

Não saiu às ruas quando o governo Lula liberou o plantio de sementes transgênicas, criou facilidades para o comércio de agrotóxicos e deu continuidade a uma política econômica que assegura lucros milionários ao sistema financeiro.

Os que querem que o povo vá as ruas para protestar contra o atual governo federal – ignorando a corrupção que viceja nos ninhos do tucanato - também querem ver o povo nas ruas, praças e campo fazendo política? Estão dispostos a chamar o povo para ir às ruas para exigir Reforma Agrária e Urbana, democratização dos meios de comunicação e a estatização do sistema financeiro?

O povo não é bobo. Não irá às ruas para atender ao chamado de alguns setores das elites porque sabe que a corrupção está entranhada na burguesia brasileira. Basta pedir a apuração e punição dos corruptores do setor privado junto ao estatal para que as vozes que se dizem combater a corrupção diminua, sensivelmente, em quantidade e intensidade.

Por que não vemos indignação contra a corrupção?

Há indignação sim. Mas essa indignação está, praticamente restrita à esfera individual, pessoal, de cada brasileiro. O poderio dos aparatos ideológicos do sistema e as políticas governamentais de cooptação, perseguição e repressão aos movimentos sociais, intensificadas nos governos neoliberais, fragilizaram os setores organizados da sociedade que tinham a capacidade de aglutinar a canalizar para as mobilizações populares as insatisfações que residem na esfera individual.

Esse cenário mudará. E povo voltará a fazer política nas ruas e, inclusive, para combater todas as práticas de corrupção, seja de que governo for. Quando isso ocorrer, alguns que querem ver o povo nas ruas agora assustados usarão seus azedos blogs para exigir que o povo seja tirado das ruas.

As multidões vão às ruas pela marcha da maconha, MST, Parada Gay...e por que não contra a corrupção?

Porque é preciso ter credibilidade junto ao povo para se fazer um chamamento popular. Ter o monopólio da mídia não é suficiente para determinar a vontade e ação do povo. Se fosse assim, os tucanos não perderiam uma eleição, o presidente Hugo Chávez não conseguiria mobilizar a multidão dos pobres em seu país e o governo Lula não terminaria seus dois mandatos com índices superiores a 80% de aprovação popular.

Os conluios de grupos partidários-políticos com a mídia, marcantes na legislação passada de estados importantes - como o de Minas Gerais, São Paulo e Rio Grande do Sul - mostraram-se eficazes para sufocar as denúncias de corrupção naqueles governos. Mas foram ineficazes na tentativa de que o povo não tomasse conhecimento da existência da corrupção. Logo, a credibilidade de ambos, mídia e políticos, ficou abalada.

A sensação é de impunidade?

Sim, há uma sensação de impunidade. Alguns bancos já foram condenados devolver milhões de reais porque cobraram ilegalmente taxas dos seus usuários. Isso não é uma espécie de roubo? Além da devolução do dinheiro, os responsáveis não deveriam responder criminalmente? Já pensou se a moda pegar: o assaltante é preso já na saída do banco, e tudo resolve coma devolução do dinheiro roubado...

O presidente da CBF, Ricardo Teixeira, em recente entrevista à Revista Piauí, disse abertamente: “em 2014, posso fazer a maldade que for. A maldade mais elástica, mais impensável, mais maquiavélica. Não dar credencial, proibir acesso, mudar horário de jogo. E sabe o que vai acontecer? Nada. Sabe por quê? Por que eu saio em 2015. E aí, acabou.(...) Só vou ficar preocupado, meu amor, quando sair no Jornal Nacional.”

Nada sintetiza melhor o sentimento de impunidade que sentem as elites brasileiras. Não temem e sentem um profundo desrespeito pelas instituições públicas. Teme apenas o poder de outro grupo privado com o qual mantêm estreitos vínculos, necessários para manter o controle sobre o futebol brasileiro.

São fatos como estes, dos bancos e do presidente da CBF – por coincidência, um dos bancos condenados a devolver o dinheiro dos usuários também financia a CBF - que acabam naturalizando a impunidade junto a população.

6 de julho de 2011

Prêmio do PNBE

Do Blog da Amanda


"Natal, 2 de julho de 2011

Prezado júri do 19º Prêmio PNBE,

Recebi comunicado notificando que este júri decidiu conferir-me o prêmio de 2011 na categoria Educador de Valor, “pela relevante posição a favor da dignidade humana e o amor a educação”. A premiação é importante reconhecimento do movimento reivindicativo dos professores, de seu papel central no processo educativo e na vida de nosso país. A dramática situação na qual se encontra hoje a escola brasileira tem acarretado uma inédita desvalorização do trabalho docente. Os salários aviltantes, as péssimas condições de trabalho, as absurdas exigências por parte das secretarias e do Ministério da Educação fazem com que seja cada vez maior o número de professores talentosos que após um curto e angustiante período de exercício da docência exonera-se em busca de melhores condições de vida e trabalho.

Embora exista desde 1994 esta é a primeira vez que esse prêmio é destinado a uma professora comprometida com o movimento reivindicativo de sua categoria. Evidenciando suas prioridades, esse mesmo prêmio foi antes de mim destinado à Fundação Bradesco, à Fundação Victor Civita (editora Abril), ao Canal Futura (mantido pela Rede Globo) e a empresários da educação. Em categorias diferentes também foram agraciadas com ele corporações como Banco Itaú, Embraer, Natura Cosméticos, McDonald's, Brasil Telecon e Casas Bahia, bem como a políticos tradicionais como Fernando Henrique Cardoso, Pedro Simon, Gabriel Chalita e Marina Silva.

A minha luta é muito diferente dessas instituições, empresas e personalidades. Minha luta é igual a de milhares de professores da rede pública. É um combate pelo ensino público, gratuito e de qualidade, pela valorização do trabalho docente e para que 10% do Produto Interno Bruto seja destinado imediatamente para a educação. Os pressupostos dessa luta são diametralmente diferentes daqueles que norteiam o PNBE. Entidade empresarial fundada no final da década de 1980, esta manteve sempre seu compromisso com a economia de mercado. Assim como o movimento dos professores sou contrária à mercantilização do ensino e ao modelo empreendedorista defendido pelo PNBE. A educação não é uma mercadoria, mas um direito inalienável de todo ser humano. Ela não é uma atividade que possa ser gerenciada por meio de um modelo empresarial, mas um bem público que deve ser administrado de modo eficiente e sem perder de vista sua finalidade.

Oponho-me à privatização da educação, às parcerias empresa-escola e às chamadas “organizações da sociedade civil de interesse público” (Oscips), utilizadas para desobrigar o Estado de seu dever para com o ensino público. Defendo que 10% do PIB seja destinado exclusivamente para instituições educacionais estatais e gratuitas. Não quero que nenhum centavo seja dirigido para organizações que se autodenominam amigas ou parceiras da escola, mas que encaram estas apenas como uma oportunidade de marketing ou, simplesmente, de negócios e desoneração fiscal.

Por essa razão, não posso aceitar esse Prêmio. Aceitá-lo significaria renunciar a tudo por que tenho lutado desde 2001, quando ingressei em uma Universidade pública, que era gradativamente privatizada, muito embora somente dez anos depois, por força da internet, a minha voz tenha sido ouvida, ecoando a voz de milhões de trabalhadores e estudantes do Brasil inteiro que hoje compartilham comigo suas angústias históricas. Prefiro, então, recusá-lo e ficar com meus ideais, ao lado de meus companheiros e longe dos empresários da educação.

Saudações,

Professora Amanda Gurgel"


30 de junho de 2011

Lula fala aos blogueiros

18 de junho de 2011

Comparato: Globo ameaçou romper contrato com UNESCO

por Luiz Carlos Azenha

no Viomundo

O jurista Fábio Konder Comparato disse, em palestra no II Encontro Nacional de Blogueiros, em Brasília, que a Globo ameaçou romper seu contrato com a UNESCO para promover o Criança Esperança depois que o organismo ligado às Nações Unidas publicou em fevereiro deste ano um estudo sobre o ambiente regulatório para radiodifusão no Brasil.

O estudo, que está aqui, em PDF, é de autoria de Toby Mendel e Eve Salomon.

O estudo concluiu o óbvio: a mídia brasileira é dominada por 35 grupos, que controlam 516 empresas; uma única rede detém 51,9% da audiência nacional. A média de TVs ligadas entre as 7 da manha e a meia-noite atinge 45% da população brasileira, um dos maiores índices do mundo. Os dados foram citados por Comparato em sua palestra.

Segundo ele, depois da publicação do estudo a TV Globo disse aos autores, Toby Mendel e Eve Salomon, que poderia romper o vínculo entre a emissora e o programa Criança Esperança.

Embora a concentração da mídia seja fartamente conhecida no Brasil, o documento da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura, reforça a credibilidade internacional dos que lutam por um novo marco regulatório da comunicação no país.

15 de junho de 2011

A pesquisa de opinião ignorada

Do Vermelho.org

Marcos Coimbra: mídia se cala sobre o Datafolha favorável a Dilma

No Brasil, como em qualquer democracia contemporânea, as pesquisas de opinião são parte do dia a dia da política. Faz tempo que é assim.

Por Marcos Coimbra, no Correio Braziliense

É claro que isso começou depois do fim da ditadura. Entre 1964 e a redemocratização, elas foram parcimoniosamente realizadas e divulgadas. Sem eleições para o executivo, a não ser em cidades do interior, quase ninguém fazia pesquisas de intenção de voto. E, dado que a opinião pública é pouco (ou nada) relevante nos regimes autoritários, tampouco se faziam pesquisas sobre os sentimentos e avaliações da população a respeito de temas administrativos e governamentais.

Foi ao longo desses mesmos 20 anos que aumentou a importância das pesquisas mundo afora. Enquanto elas foram se incorporando ao cotidiano dos países desenvolvidos, sendo regularmente realizadas para veículos de comunicação, governos, instituições acadêmicas, organizações da sociedade civil, entidades de representação de interesses, partidos políticos e candidatos, por aqui o ambiente lhes era hostil.

Nos atrasamos em relação a esses países, demoramos a acertar o passo, mas conseguimos. De meados da década de 1980 para cá, as pesquisas (de opinião, mas também de mercado — o que é outra história) se modernizaram e consolidaram no Brasil.

Apesar disso, nossa mídia é uma cliente cautelosa e limitada dos institutos. Ao contrário da regra nos Estados Unidos e na Europa, onde jornais, emissoras de televisão e portais de internet são consumidores vorazes de pesquisas, seus congêneres brasileiros costumam pensar na base do "quero, desde que seja de graça". Todos acham ótimo divulgar uma pesquisa, mas se arrepiam perante a ideia de custeá-la.

A única exceção (que, de certa forma, confirma a regra), é o Datafolha, departamento de pesquisa de um jornal, que se utiliza dele na sua política comercial. Como nenhuma outra empresa de comunicação (acertadamente) achou que precisava ter "seu instituto", sequer outros semelhantes existem.

Com isso, a sociedade brasileira passa meses sem saber o que pensam as pessoas sobre a conjuntura, o que sabem e consideram relevante nos acontecimentos, que percepção têm dos personagens da política e de seus atos. Até que a mídia ganhe de presente alguns resultados, caso dos patrocinados por entidades de classe, a exemplo da CNI e da CNT.

Por alguma razão misteriosa, isso muda na véspera dos processos eleitorais, especialmente nas eleições presidenciais e de governador. Quando elas chegam, todos os veículos se sentem obrigados a ter a "sua pesquisa". E a dedicar uma parte enorme da cobertura a discutir números, algo que costuma interessar apenas secundariamente a leitores e espectadores.

Uma das explicações desse comportamento talvez seja que as pesquisas, às vezes, não dizem o que as redações esperam. E que, sem elas, é sempre possível especular sobre a opinião pública, sem o incômodo de consultá-la. Para que gastar dinheiro fazendo pesquisas, se vamos ignorá-las caso não mostrem o que queremos?

Tudo isso vem à mente com a divulgação da mais recente pesquisa do Datafolha sobre a popularidade da presidente e a avaliação do governo federal. Sem entrar em detalhes, o mais relevante que ela mostrou é que ambas vão bem. Na verdade, muito bem, considerando que subiram índices que já eram elevados. Na pesquisa anterior, Dilma batia o recorde de aprovação para presidentes no começo de mandato e superou, na nova, sua própria marca.

Definitivamente, não era isso que supunham os jornais. Nos dias que antecederam a demissão de Palocci, o que vimos foram especulações sobre a "queda de Dilma nas pesquisas", dada como tão certa que o interessante passou a ser as consequências de seu hipotético "desgaste de imagem" na governabilidade.

Como a pesquisa não confirmou qualquer recuo, um silêncio sepulcral se abateu sobre ela. Foi quase ignorada e nem mesmo o jornal que é dono do Datafolha achou que valia a pena insistir no assunto.

Só imaginando: o que teria acontecido se, ao invés de mostrar uma subida de 2%, ela tivesse indicado uma queda, ainda que pequena, na popularidade de Dilma? De uma coisa podemos estar certos, a pesquisa seria um estrondo.

* Marcos Coimbra é sociólogo e presidente do Instituto Vox Populi

31 de maio de 2011

OMS chama atenção para relação entre o uso de celulares e o desenvolvimento de câncer

RIO - Pela primeira vez desde que estudos começaram a ser feitos, a Organização Mundial da Saúde alertou nesta terça-feira para a existência de uma relação entre o uso de celulares e o desenvolvimento de câncer. A agência agora classifica o uso dos aparelhos na categoria de potencial cancerígeno, a mesma para chumbo e clorofórmio.

Antes do anúncio, a OMS chegou a garantir aos consumidores que nenhum aviso de risco à saúde havia sido estabelecido. Mas uma equipe de 31 cientistas de 14 países tomou a decisão de revisar estudos sobre segurança dos celulares. O grupo descobriu evidências suficientes para classificar a exposição pessoal como "possivelmente cancerígena para humanos".

Isso significa que, até agora, não há pesquisas suficientes para esclarecer se a radiação de celulares é segura, mas há dados o bastante mostrando uma possível relação à qual os consumidores deveriam ficar atentos.

- O maior problema que nós temos é que sabemos que fatores ambientais precisam de décadas de exposição até realmente vermos as consequências - disse à CNN Keith Black, neurologista chefe do Cedars-Sinai Medical Center, em Los Angeles, nos Estados Unidos.

O tipo de radiação emitida por um celular é chamada não ionizante. Não é como um aparelho de Raio-X, mas se parece mais com um forno microondas de muito baixa potência.

- O que as microondas de radiação fazem, nos termos mais simplistas, é parecido com o que acontece com a comida no microondas, só que com o nosso cérebro. Então, além de poder acarretar o desenvolvimento de tumores, elas poderiam causar uma série de outros efeitos, como danificar a função de memória cognitiva, já que os lobos de memória temporal ficam onde seguramos nossos celulares - completa Black.

A Agência Europeia de Meio Ambiente solicitou a realização de novos estudos, afirmando que os celulares podem ser um risco à saúde pública como a fumaça, amianto e gasolina com chumbo. O coordenador de um instituto de pesquisa sobre câncer na Universidade de Pittsburg enviou um memorando a todos os funcionários pedindo a eles que limitassem o uso de celulares, devido ao risco de desenvolver câncer.

12 de maio de 2011

Voltamos

Quando os fogos de artifício anunciaram a entrada do time em campo, nós, que mal havíamos conseguido chegar aos portões do estádio devido às filas, mal imaginávamos as dificuldades que à noite ainda nos reservava. A torcida estava em festa, acesso garantido, melhor campanha, final em casa, Barão lotado.

O jogo começou nervoso, com muitos erros de passe. O primeiro gol adversário, em uma falha difícil de entender do goleiro quinzista, fez com que muitos recordassem de decepções recentes. Superado o baque inicial, voltamos a cantar, incentivar, fazer nossa parte. A expulsão do jogador adversário nos favoreceu e logo arrancamos o empate; torcida, jogadores, todos vibravam, o Barão pulsava. Empate não é vitória, mas a noite era de festa, e a torcida fazia uma bonita, porém precipitada “Ola”, quando o pior aconteceu, e nosso time foi para o intervalo atrás no marcador. Em um segundo tempo repleto de chances perdidas, sofrimento e angustia, conseguimos empatar jogo, levando a decisão para a prorrogação, e logo para os pênaltis.

Para muitos, decisão nos pênaltis é uma loteria, mas para os goleiros, é uma grande oportunidade. Nosso bom goleiro não perdeu a oportunidade, fechou o gol, se redimiu da falha no primeiro gol adversário, e se juntou ao grupo de heróis que já vestiram nosso manto sagrado.

Nesse momento, de puro êxtase para os torcedores, muita coisa se passava pelas nossas cabeças. Sabemos que a vida do torcedor de futebol não é fácil. Derrotas, manobras políticas, tapetões, erros grosseiros da arbitragem, horários esdrúxulos, gols perdidos, banheiros sujos, cambistas, flanelinhas, filas para tudo. Mas a maior parte de nós continua, persiste, comemora as vitórias, aprecia o bom futebol, e principalmente, acompanha o seu time do coração sempre, na primeira ou na última divisão, na conquista ou na perda, na vitória fácil ou na derrota sofrida.

O verdadeiro torcedor não precisa de muito para continuar torcendo, basta que nossos jogadores mostrem garra, vontade de vencer, honrem a camisa. No entanto, os times mais queridos, com torcidas vibrantes, também podem passar por momentos difíceis, anos de vacas magras, problemas financeiros, derrotas, quedas. Muitos não aguentam, param de frequentar o estádio, guardam as camisas e bandeira no fundo do armário, dizem não se importar mais com futebol. Alguns, inclusive, trocam de lado, se acomodam na tranquilidade de torcer por um time da capital, ou pior, passam a simpatizar com alguma nova força do futebol, algum time de empresários, totalmente sem tradição ou história, mas com recursos financeiros que qualquer time do interior sonharia possuir. Que torcedor quinzista não se lembra, poucos anos atrás, da sensação de torcer por um time que poucos prazeres podia proporcionar, além do simples fato de estar ali, acompanhando seu time, tentando ajudar, torcendo, deixando claro para diretores, jogadores, empresários, para quem quer que fosse, que bastava um sinal, bastava a esperança aparecer, que nós estaríamos ali, prontos, para fazer o que fosse possível.

Esse sinal veio, aqueles que sobreviveram notaram a diferença. Aos poucos a alegria foi voltando, de vitória em vitória, a empolgação aumentando. A torcida empurra o time, o time empurra a torcida, futebol sempre foi assim, com planejamento, com técnica, mas principalmente, com emoção. Nós sobrevivemos, nós lutamos, nós voltamos, somos campeões.