6 de outubro de 2010

O dilema das esquerdas, ou, de Marx a Yoda

“Quando não há contradição, não há movimento”

Marx

Quantas vezes já ouvi aquela velha besteira de que atualmente não existiria mais “esquerda” e “direita”. Por favor, isso é a ideologia da “não ideologia”, ou seja, da despolitização da sociedade, de que todos os políticos são iguais, de que a política não resolve nada etc.

A diferença é muito simples e pouco se alterou ao longo da história: “Esquerda” são aqueles que querem mudas as coisas, defendem o progresso da sociedade; “Direita” é o conservador, que defende as tradições e vê com maus olhos (tem medo) das mudanças. É de esquerda quem sonha com um mundo melhor, e é de direita quem diz que antigamente é que era bom.

Mas ao contrário da direita, unida na preservação de suas tradições, a esquerda dificilmente pode ser entendida no singular, pois, em geral, existem muitas esquerdas, muitas idéias e caminhos a percorrer para mudar o mundo.

Para onde vamos? Como vamos? O que precisamos mudar? Como seria um mundo melhor?

As respostas aos dilemas das esquerdas não são tão fáceis como para a direita. Essas diferenças entre os grupos mais progressistas geralmente acabam criando diversas facções, as quais, não raramente, acabam se digladiando tanto entre si como com a direita.

Na Guerra Civil espanhola, por exemplo, comunistas, socialistas e anarquistas lutavam não só contra o exercito de Franco, mas também entre eles. O resultado foi bastante previsível.

O grande desafio das esquerdas é o da união para enfrentar a direita. Mas isso não é nada fácil, até pela natureza do sentimento de “esquerda”.

Geralmente, quando um grupo de esquerda consegue conquistar o governo, logo terá que enfrentar, não só a oposição conservadora, como os descontentes da esquerda. Afinal, agora você (a esquerda) é o poder, todos as frustrações vão ser direcionados a você, especialmente aquela rebeldia juvenil, que terá em você o novo alvo.

Até o momento, a esquerda adotou duas estratégias quando governo: nos casos democráticos, respeitou e confrontou a dissidência de esquerda; já nas experiências totalitárias, dizimou seus opositores.

Infelizmente, o destino das experiências de governo de esquerda não são muito animadoras. No primeiro caso, democrático, a esquerda enfraquecida em seus confrontos internos acabou, invariavelmente, perdendo a batalha política com a direita. No segundo, totalitário, o resultado foi ainda pior, pois sem debate de idéias não temos como construir um mundo melhor, ou seja, a esquerda totalitária se transforma em direita, que só quer conservar os privilégios conquistados por essa nova classe de governantes.

Esse é o grande dilema das esquerdas: como fazer um governo democrático de esquerda sem ser consumido pelas diferenças.

Não podemos esquecer, a direta estará sempre ali, oferecendo o “fácil, a “ordem”, a “segurança”, em contraponto ao “medo” das mudanças propostas por nós.

E como diria o mestre Yoda “O medo é o caminho para o lado negro”