27 de janeiro de 2009

Futebol e Política


Quem acompanha futebol pela televisão provavelmente não imagina qual sua relação com a política, no máximo alguns podem se lembrar da frase: “futebol e política não se discutem”. Pois bem, creio que os dois assuntos são sim objeto de debate, da mesma forma que a religião também é. Se você já freqüentou estádios, provavelmente deve ter presenciado diversas manifestações políticas (de opinião, classe etc) entre as torcidas. Vamos pegar alguns exemplos:


1) O Internacional (Colorado-RS) foi criado por alguns comerciantes recém chegados em Porto Alegre no início do século XX, após não terem sido aceitos em outros clubes da cidade (incluindo Grêmio) por serem novos na cidade (pouco conhecidos na sociedade). Essa postura dos clubes existentes levou os fundadores do Internacional a criarem um clube com postura bastante democrática, onde todos poderiam praticar o futebol. O clube virou um local de reunião de comerciantes, estudantes, e na década de 1920 foi o primeiro clube gaúcho a aceitar negros.

O Internacional se transformou no clube do povo do Rio Grande do Sul, a academia popular, enquanto o Grêmio por muito tempo manteve-se ligado aos imigrantes alemães e a sociedade porto-alegrense. É muito comum encontrarmos bandeiras da Alemanha na torcida gremista, enquanto algumas torcidas do inter usam as imagens de Che Guevara.



2) Na Itália, o time da Lazio possui uma das torcidas mais racistas do mundo, a qual não se importa em demonstrar todas suas “idéias” em bandeiras e cantos durante os jogos do seu time.


3) O Corinthians é o primeiro clube popular brasileiro, formado realmente em bairros de trabalhadores e nos campos de várzeas da capital paulista. Sua história se contrasta com a do São Paulo, que deve muito ao apoio financeiro e político da elite paulistana, inclusive a construção do Morumbi durante a ditadura. Não é difícil vermos a torcida do São Paulo relacionando o torcedor corinthiano a ladrão, pobre, negro ou marginal, enquanto o antigo apelido de “pó de arroz” para os são paulinos tem sentido, quando lembramos que o clube foi um dos últimos a aceitar jogadores negros, os quais passavam pó de arroz para ficarem mais claros e poderem jogar.


Além desses exemplos, não custa lembrar que durante muitos anos, quando da introdução do futebol no Brasil, as elites tentaram fazer do futebol um esporte apenas da alta sociedade, evitando reconhecer a prática popular nos campos de várzea como esporte. Esse assunto, para os interessados, é objeto de analise do artigo: “Várzeas, Operários e Futebol: Uma outra Geografia” , do geógrafo Gilmar Mascarenas (UERJ) disponível aqui.